Devo esclarecer que vou abordar a mediunidade meio na contra mão do que vocês ouviram até agora.
Nosso amigo e veterano nas palestras aqui em Juiz de Fora, Dr. Jorge Andréa, abordou conceitos e generalidades “navegando” pelo plano espiritual para nos colocar uma interpretação muito doce sobre a mediunidade. Sou obrigado agora a aterrissar no cérebro. Vou tentar equacionar as suas vias, as suas conexões, sem que isso se torne enfadonho, difícil e árduo para quem não é especialista na área de neurologia. Posso lhes dizer que com o mesmo encantamento que o Dr. Andréa identificou e desenhou para nós o Espírito, sou um apaixonado pelo cérebro e creio que posso traduzir uma mensagem para que vocês também se enamorem de toda esta riqueza de gestos, de significados e de expressões que esse aparelho, aqui dentro da nossa caixa craniana, nos permite realizar, vivenciando a realidade do mundo físico, no plano dos encarnados, onde nós estamos inseridos.
Quero destacar que "a mediunidade é um fenômeno que se processa através do cérebro do médium". Nós podemos ler esta frase no Livro dos Médiuns, pelo menos cinco ou seis vezes.
Dentro desta perspectiva eu imagino que não podemos fazer qualquer outra interpretação. Temos que identificar no cérebro do médium como é que se processa o fenômeno mediúnico.
Para iniciar nosso estudo e principalmente por uma questão pedagógica, precisamos nos situar dentro do propósito da aula, expondo, para nossa identificação, os principais pilares que sustentam a expressão da mediunidade ou seja, o que é, a mediunidade. Depois, ao entrarmos no capítulo específico da neurofisiologia, poderemos correlacionar a fisiologia do cérebro que aprendemos, com aquilo que nós todos aceitamos como sendo fenômeno mediúnico.
Histórico.
A História da humanidade, quando estudada nos livros sagrados das mais variadas civilizações, é muito rica de demonstrações da ocorrência de comunicação entre o plano espiritual e o homem encarnado. Em todos os povos, estas histórias que estão aí registradas, podem ser, eventualmente, recapituladas, demonstrando que nunca estivemos sozinhos ou desamparados pela espiritualidade.
Entretanto, foi só após os estudos de Allan Kardec, o “Codificador do Espiritismo”, que tivemos um texto definitivo que nos permitiu compreender o mecanismo envolvido neste processo de comunicação entre os dois mundos. Ele foi de uma competência inigualável para equacionar os aspectos fundamentais do fenômeno mediúnico de maneira extremamente didática. Seu trabalho revela-se compreensível para os diversos níveis da nossa escolaridade, para que todos pudéssemos, de alguma maneira, lidar com esta fronteira entre o mundo físico e o mundo espiritual.
No Livro dos Médiuns, temos as principais definições da mediunidade confirmando o quanto Kardec foi didático e apropriado na linguagem que usou no século passado e que, para mim, permanece muito adequada até hoje.
Observando a metodologia de investigação da mediunidade, adotada por Kardec, vamos encontrar, no próprio texto do Livro dos Médiuns, os fundamentos básicos que estão envolvidos no processo mediúnico. Antes de mais nada, a mediunidade é vista ali como um processo de comunicação entre um plano e o outro. Poderíamos dizer, entre uma dimensão e a outra, ou, como repeti ao Dr. Andréa anteontem: com os estudos da moderna física, estou preferindo usar a expressão “entre uma realidade e a outra”, uma “realidade” do mundo físico e a outra do mundo espiritual.
O fenômeno mediúnico.
O fenômeno mediúnico é um processo de comunicação que atravessa a fronteira que delimita estas duas realidades, estas duas dimensões. Participam desse processo, uma determinada “aparelhagem”, que inclui o corpo físico do médium, o Espírito comunicante e o perispírito de ambos.
O Perispírito.
O corpo espiritual ou perispírito, processa a comunicação entre um plano e o outro mas, é o cérebro do médium quem vai nos dar o texto final da linguagem usada nesta comunicação.
Assim como nós precisamos de um determinado programa para a acessar as informações da internet, que daqui navega por todo o mundo, a partir do que é filmado nesta sala, nós precisamos de um outro corpo que nos permita acessar aquelas informações que estão numa outra realidade, num outro plano, numa outra dimensão.
Esse corpo espiritual, a que eu me referia, tem propriedades que transitam de um plano ao outro, de uma dimensão a outra.
As ligações do corpo espiritual com o corpo físico não estão permanentemente estáveis, rígidas, aprisionadas, células por células ou átomo por átomo. De alguma maneira, nós estamos sabendo que a nossa mente participa continuamente deste processo de interação.
Em determinados momentos, o conjunto de elementos estruturais do corpo físico, estão mais assentados sobre o corpo espiritual ou vice-versa e, em outras situações, há um distanciamento, um deslocamento, uma separação tênue entre um campo de força do corpo físico e do corpo espiritual.
Quero reforçar para vocês os aspectos, que eu diria, do nível atômico desta ligação entre estes dois corpos. Ora este contato é mais forte, ora mais tênue, preso apenas por um feixe brilhante, o que permite distanciar um corpo do outro.
Desdobramentos da Alma.
Vocês mesmos podem perceber a flutuação da nossa consciência se pedirmos, a cada um, anotar como está a sua concentração aqui do nosso ambiente, informando se está sintonizado na nossa aula continuamente ou se as vezes se distraem com alguma coisa.
Com um exercício de meditação poderemos nos deslocar espiritualmente para as dimensões mais próximas dos planos espirituais. Vamos procurar excluir todas as nossas preocupações aí de fora. Vamos centralizar o nosso pensamento nos propósitos mais nobres, dentro deste ambiente tão agradável, como o que foi criado hoje cedo. Vamos evitar que ruídos perturbem nossa sintonia psíquica. Apaguem as perturbações que estão lá do lado de fora, os atritos com familiares ou pessoas que nos incomodam. Vamos realizar um momento de paz, de concentração, de tranqüilidade aqui entre nós e, daqui a pouco cada um vai perceber, por si mesmo, aquela nítida sensação de leveza, de bem estar interior, de sintonia com propósitos mais nobres. Esta “viajem” é extremamente comum para que cultiva o hábito da oração. Por outro lado, a presença de determinadas pessoas nos põe de sobressalto pela hostilidade com que a sua aparência ou a sua aproximação nos provocam. Diante deles, exatamente como um animal acuado, a gente se “recolhe” no corpo físico, num mecanismo de defesa. É a viajem inversa na qual o corpo de carne nos serve de refúgio.
O momento mais importante do desdobramento do perispírito ocorre quando nós estamos dormindo. Gradativamente, ao iniciar o sono, vamos nos desligando, ponto por ponto dessa ligação e projetando o nosso corpo espiritual para um outro ambiente.
Nesta situação, estamos informado que o corpo espiritual, pode se desdobrar, quase que por inteiro, e fazer o que podemos chamar de “navegação” pelos planos espirituais. Esta “navegação astral” nos permite deslocar, atraídos para aqueles ambientes nos quais nós estamos, de alguma maneira, aprisionados pela sintonia dos nossos propósitos. O conteúdo dos nossos pensamentos irá contatar os espíritos que nos vão fazer companhia.
Qualquer um de nós, aqui presente, sabe que os tarefeiros da "Casa do Caminho", mesmo tendo ido para casa dormir, estiveram “espiritualmente” aqui, de novo, tentando reorganizar o ambiente, para as próximas reuniões, Eles estão de tal maneira aprisionados, psiquicamente, a este contato com a Dª Isabel, que a noite, retornam a esta psicosfera da "Casa do Caminho", que os atrai, provocando o deslocamento das suas casas de volta para esse ambiente.
O corpo espiritual nos permite desfrutar deste processo de navegação, em que nos deslocamos, conforme a sintonia de nossos propósitos.
O Fluido cósmico.
Um outro elemento, ligado ao fenômeno mediúnico são os fluidos. Vocês podem perceber que, aos poucos estou acrescentando informações para nós montarmos o quebra-cabeça da mediunidade por inteiro.
Qualquer objeto material, assim como cada átomo, cada elemento que nós identificarmos na nossa dimensão física, está mergulhado numa substancia fluídica. É chamado de fluido cósmico universal na sua expressão mais genérica. Ele se condensa e forma o nosso perispírito, quando encarnado nesse planeta e se modifica, quando daqui nos deslocamos para uma outra esfera, de outras populações. Todo o Universo é preenchido por este fluido e toda matéria se origina dele.
Gosto de ressaltar isso porque é inédito em todas as outras ciências o que o espiritismo fala sobre o fluido cósmico universal. Na minha opinião, a fisiologia deste fluido vai constituir uma Teoria futura para explicação de todos os fenômenos que nós observamos, tanto na área física, quanto na área espiritual. As atuais Teorias da física, baseadas na existência exclusivamente da matéria que conhecemos, deverão ser superadas pela Teoria do Fluido cósmico.
É oportuno que nós, espíritas, nos detenhamos no estudo das propriedades deste chamado fluido cósmico universal, antes que os físicos, que estão estudando e especulando nesse campo, não comecem a falar em massa quântica ou matéria psiquântica e, daqui a pouco, nós espíritas ficaremos para trás.
Sempre que vem um físico fazer alguma proposta para nós, eu fico receoso: vai ver que ele já descobriu isso e vai achar que foi ele que inventou. Tenho reforçado sistematicamente que Allan Kardec já nos ensinou no Livro dos Espíritos, que há um fluido, no qual nós todos estamos mergulhados. Os filósofos da antiga Grécia já falavam deste fluido, mas, a doutrina espírita nos confirma e revela algumas de suas propriedades. É exatamente este fluido, que constitui o meio de transporte do nosso pensamento e, por conseqüência, de toda a comunicação mediúnica.
Quando um Espírito se comunica com outro, seus pensamentos mergulham nas “ondulações” e “corpúsculos” do fluido cósmico universal.
A expressão mais adequada que para mim define o fluido universal é a de André Luiz, quando o definiu como sendo o "Hálito de Deus". Não tem coisa mais graciosa da gente entender, exatamente, o que é isto, porque na Gênese consta que Deus pegou o barro da terra, fez o homem e soprou em suas narinas para que ele vivesse. É esse sopro de Deus, que habita todo o Universo, o hálito divino, cósmico, no qual nós estamos mergulhados. Este fluido vai participar, obviamente, de todo o processo mediúnico, conforme vocês vão acompanhar comigo.
Os mentores espirituais.
Vamos agora à outro domínio do campo mediúnico. O processo de comunicação que se faz de um plano para o outro é acessorado por uma equipe que está no plano espiritual. Nós sempre estamos destacando a existência dos mentores nas reuniões espíritas. Eles são os nossos orientadores, são apoiadores, são protetores, são os missionários que nos auxiliam. Nós nunca poderíamos caminhar sozinhos no exercício da mediunidade.
Imaginem comigo uma situação médica comum. Estamos aqui, com o nosso queridíssimo Dr. Didier. De repente, hoje, já são quatro horas da tarde, e ele é chamado para fazer um parto. Jamais ele irá sozinho apoiar uma criança que vai nascer, sair do meio líquido, ali, dentro da cavidade uterina da mãe e se projetar para esse meio gasoso, aéreo, onde nós estamos. Há toda uma equipe de apoio no hospital onde ele trabalha.
Quando ocorre o processo mediúnico, como a gente vê nos trabalhos da casa espírita, nós precisamos sempre do auxílio desses orientadores.
Precisamos agradecer esta proteção, este carinho, esta tolerância incansável que eles demonstram com a nossa invigilância. Eles estão participando caridosamente com o nosso crescimento espiritual. O comando, a ordem, o controle, do fenômeno mediúnico é sempre exercido por eles.
Intercorrências com a mediunidade.
Podemos ler no Livro dos Médiuns que a mediunidade é um dom, uma aptidão, é uma predisposição orgânica especial. Pode ocorrer, também, que um determinado indivíduo deixe de produzir o fenômeno mediúnico de que era possuidor. Por que será que acontece isso? Por que, em determinados momentos, cessou o seu dom?. Determinados médiuns, que vinham tendo vidência expressiva, de repente, mudam. Não vêm mais e passam a ser médiuns de uma outra categoria. São inúmeros os exemplos desse tipo de ocorrência.
A mim parece que tudo isso obedece uma pré-determinação dos nossos mentores espirituais e não só , especificamente, uma mudança na biofisiologia do cérebro do médium. Nossos protetores espirituais têm, seguramente, um papel extremamente importante na qualidade e na quantidade da expressão mediúnica que se manifesta em nós.
No momento em que há passagem da informação ou da comunicação ou do processo de materialização entre um campo a outro, especialmente, casos de comunicação de jovens ou de crianças que relatam, dali, alguma observação de carinho e de apoio para os pais, que estão aqui encarnados, eles só podem produzir esta fenomenologia através do apoio desses protetores a quem estou me referindo.
Quero registrar enfaticamente o agradecimento aos mentores que têm apoiado, carinhosamente, todos os nossos médiuns.
Classificação dos fenômenos mediúnicos.
Pretendo discorrer agora sobre à “clínica” do processo mediúnico. Como nós médicos quando discutimos nossos casos: Quero ver um paciente com epilepsia. Deixe-me ir lá na enfermaria testemunhar sua queixa e o tipo de crise que apresenta.
Allan Kardec foi levado a estudar a mediunidade nas reuniões das chamadas mesas girantes. As mesas demonstravam uma inteligência nas respostas que escreviam aos participantes das reuniões.. A partir daí, Allan Kardec fez nascer um novo mundo! Tão ou mais espetacular quando Pasteur e outros cientistas, ao utilizarem o microscópio, descobriram a existência das bactérias e dos germes produtores de doenças. O impacto da descoberta dos micróbios trouxe um gigantesco avanço para a medicina, pelo mundo novo que revelou.
Allan Kardec descortinou, na Doutrina dos Espíritos, um novo paradigma, a dimensão espiritual que convive entre nós, com elementos mais ativos que as bactérias. Eventualmente, nos perturbando, mas é um novo mundo, que vivencia conosco todas nossas experiências tanto do ponto de vista físico, quanto do ponto de vista intelectual e, principalmente, do ponto de vista emocional.
Allan Kardec fez uma leitura do fenômeno mediúnico com uma didática excepcional. Ele classificou os fenômenos dentro de dois grupos: os chamados fenômenos de efeitos físicos e fenômenos de efeitos intelectuais, que estão ligados à produção de conhecimento.
Os Fenômenos de efeitos físicos, são caracterizados pela suas propriedades materiais. São de tal ordem que podemos quantificá-los, medindo, por exemplo, a duração, a extensão e a densidade do fenômeno. Ou seja, todas as propriedades físicas que o fenômeno expressa.
Quanto às propriedades e significados dos fenômenos de efeito psíquico ou intelectual, o próprio neurologista tem dificuldade de quantificá-las, porque os fenômenos de efeitos intelectuais são vividos como experiência psíquica do médium e portanto dependemos dele para sentir a sua extensão.
Posso apresentar a vocês alguns símbolos. Isso vai provocar em vocês fenômenos psicológicos. Cada um de nós estará realizando uma observação especial, particular e subjetiva. Vamos dar uma olhada, por exemplo, nos sinais de trânsito, depois num ponto de interrogação, num homem desenhado nos muros de uma construção e, finalmente, numa cruz, a cruz que simboliza os hospitais. Para mim ocorrerá maior impacto, justamente aquela cruz, pela minha ligação com a vida hospitalar, para outro, seguramente, os sinais de trânsito, para um engenheiro de construção de obra, aquele outro que sinaliza a presença de um trabalhador.
Vamos observar agora este detalhe: no fenômeno físico eu posso dispor de uma régua para medir ou um relógio para cronometrar, podendo, com estes instrumentos, observar a densidade material do fenômeno.
Por outro lado, os fenômenos intelectuais, precisam ser quantificados individualmente. Cada um de vocês observou os sinais que eu apresentei e fizeram interpretações específicas. Cada um viu melhor o que despertava mais interesse em suas mentes.
Anteontem, eu dizia para Dona Isabel : Observe o meu relógio. Um objeto comprado numa relojoaria comum. Um relógio que vale muito pouco em termos de preço, de custos, de qualidade, mas, foi-me ofertado num dia de aniversário pela minha esposa. Simbolicamente, para mim, ele tem um valor que não é estimado pelo relojoeiro que o analisa.
O fenômeno mediúnico, de efeito intelectual, pela afetação psíquica que provoca, tem que ser, especificamente, individual. Não podemos fugir dessas regras. Com estes conceitos, posso adiantar, que já estou, aos poucos, introduzindo vocês na fisiologia do cérebro.
Os fenômenos de efeito físicos.
Os fenômenos de efeitos físicos freqüentemente servem para afrontar as Ciências materialistas. Infelizmente eles se prestam muito para apresentação na televisão, para produzir impacto, para atiçar a mídia, que, se promove na produção desse tipo de quadro.
Não são tão raros os casos de “poltersgate” (espírito brincalhão), nem os fenômenos de combustão espontânea, de deslocamento de pedras que são atiradas no telhado, de livros que são rasgados, de porta do guarda-roupa que é queimada e de pessoas que são projetadas à distância. Já houve indivíduos que se queimaram gravemente. conforme relatos na literatura espírita, vítimas de uma combustão espontânea, levando, inclusive, a morte pelas queimaduras. Esta combustão tem particularidades curiosíssimas. Quando se põe fogo, por exemplo, num pedaço de madeira, ela se queima de fora para dentro. Nesse tipo de combustão, nos fenômenos da mediunidade. o fogo é de dentro para fora .
Cada um de vocês, eu acredito, tem também suas estorinhas para contar. Os fatos que ouviram dizer de casas assombradas, de ruídos dentro de casa, de pedras que são atiradas no telhado, objetos que aparecem dentro dos cômodos e nos armários, são muito comuns.
Na interpretação destes fenômenos, encontramos no Livro Dos Médiuns a seguinte explicação: "A combinação de fluidos do médium e do espírito desencarnado podem mudar a propriedade da matéria". Nessa frase percebe-se claramente que Kardec trouxe-nos uma nova ciência que será melhor compreendida no próximo milênio. Deve existir algum elemento que a Física de hoje ainda não identificou que modifica as propriedades da matéria. A água, como esta que está aqui, pode ficar extremamente, corrosiva, se for submetida a alguma alteração provocada pelo fluido cósmico universal. Magnetizando esta água podemos conseguir este efeito através dos fluidos emitidos pelo magnetizador.
Certa ocasião pediram para o nosso Chico Xavier explicar o efeito da medicação prescrita nas receitas ditadas pela mediunidade. Para nós médicos, a “Thiaminose” é uma vitamina, injetada na veia, que traz muito pouco beneficio para os pacientes em geral e, as gotas da homeopatia, em termos médicos, teria um valor discutível e nem sempre bem aceito.
Ele nos dizia que, na verdade, estas substâncias servem de veículos, que permitem aos protetores espirituais colocarem os elementos adequados, retirados do fluido cósmico, que estão aí, esparsos por toda a nossa natureza e, na verdade, as propriedades físicas das substâncias que vão na receita são potencializadas pelos fluidos. Não é, especificamente, uma injeção de vitamina ou umas gotinhas de um xarope que estão produzindo o efeito.
Podemos, portanto, perceber, que está aí uma proposta terapêutica muito interessante, merecendo estudo da nossa parte. Toda esta matéria que nós estamos vendo, registradas pelo nosso cérebro, é possível de sofrer modificações por completo em suas propriedades. Qual é a teoria que explica isso? A teoria dos fluidos . Está lá no Livro dos Espíritos, nos primeiros capítulos quando Allan Kardec fala dos fluidos e das propriedades da matéria.
Há possibilidade de nós termos curas de qualquer tipo de doença, através de uma água fluidificada. Não estranhem se isto é ou não possível. Ainda não conhecemos os mecanismos que nos permitirão manipular com mais propriedade o fluido cósmico e no futuro talvez isto não será mais segredo.
Com os recursos que a energia proveniente das emissões fluídicas fornece, um determinado objeto , um papel, ou um lenço que jogo aqui no chão, pode se deslocar obedecendo as leis de combinações fluídicas do fenômeno mediúnico. Os fluidos condicionam esta propriedade. Esse lenço, que está atirado no solo, deverá ser envolvido pelo fluido cósmico para obedecer ao comando da mente que sugere o seu deslocamento. É indispensável a combinação de dois tipos de fluido, um que é fornecido pelo perispírito do médium e outro pelo espírito que se comunica.
Qualquer objeto “imantado”, por esta combinação de fluidos, adquire uma propriedade especial que o “vitaliza”.
Aqui está, por exemplo, a minha mão que eu movimento e que tem vitalidade orgânica. Facilmente a faço obedecer ao meu comando. Estou ligada à ela pelos meus nervos que transmitem o comando do meu cérebro. Esse livro, enquanto ele estiver aqui na mesa, ele não se movimenta, mas se o pegar na minha mão, vejam o que acontece. Ora, quem achava que o livro não se movimentava? Desde que eu encoste nele. Basta eu colocar a minha “carne” nele.
Aquele lenço que joguei no chão, se o impregnamos de fluido do perispírito do médium em associação com o fluido do espírito comunicante, ele adquire uma “vitalidade” e obedecerá as ordens do médium mesmo estando distante de suas mãos.
Vocês nunca imaginaram que esse livro obedeceria às minhas ordens. E viram Obedece sim! Salte, livro! Pronto. Ele saltou.Se vocês não acreditavam, eu o fiz saltar! Mas tive que usar um instrumento: a minha mão, mas quem a comandou foi a minha mente.
A mesma coisa ocorreria para este lenço que com o fluidos ele passa a obedecer a mente. Nesse caso vai ocorrer uma dualidade interessante. Tanto o médium pode determinar mentalmente que o lenço se desloque para um lado, como o espírito que está produzindo o fenômeno pode dizer : quero que vá para o outro lado. Pode ocorrer uma perturbação nesta brincadeira, que, com freqüência, os espíritos zombeteiros, brincalhões e arruaceiros produzem nesse tipo de atividade mediúnica. O que eles querem, na verdade, é provocar confusão. Que produzem o fenômeno produzem; e que o lenço obedece, obedece. Faço este livro aqui me obedecer, desde que eu tenha contato com ele.
Os fenômenos mediúnicos intelectuais.
Podemos rever agora, a fenomenologia mediúnica, no que se refere ao domínio dos fenômenos intelectuais. Já lhes falei de uma das características deles. Por serem processados pela mente e o cérebro, ele vai ser especifico para cada médium e cada um deles fará a sua interpretação particular. É como alguém que vai transmitir um recado, o tema é de quem transmite a mensagem, mas, a ênfase da entonação fica por conta de quem anuncia.
O médium psicógrafo, ao redigir um texto revela certas particularidades interessante para o nosso estudo. Vocês já perceberam que ele escreve em alta velocidade? Não precisa nem abrir os olhos. Podem apagar as luzes e ele vai escrevendo, freqüentemente com letras grandes, um texto que ele mal sabe dar conta.
Um médium falante, incorporado por um espírito, faz um discurso, numa linguagem que, às vezes, o médium em si, não demonstra conhecer. Pode, inclusive, falar numa outra língua (Inglês, Alemão ou Russo), que o médium não demonstra conhecer.
É perfeitamente possível percebermos estas particularidades da expressão do fenômeno mediúnico. Tanto na escrita psicográfica como na fala mediúnica. São justamente para estas características que nós queremos chamar a atenção.
Quem já o assistiu o médium Francisco Cândido Xavier psicografando, nota que ele fica com uma das mãos sobre os olhos, pega o lápis, escreve com rapidez, com letras grandes e que para quem sabe, não é essa a letra dele. Normalmente, sua letrinha é redondinha e bem elaborada. Escreve com letras grandes páginas e mais páginas e dá aquela impressão de que não se cansa, mesmo quando vara a noite escrevendo. Esse processo de escrita, é nitidamente uma habilidade automatizada.
Do ponto de vista da expressão do fenômeno, tanto da escrita, quanto da fala, quero insistir em destacar estas características: o processo se desenrola com gestos puramente automáticos. Um automatismo motor para a escrita e para a fala.
No médium falante incorporado, ele fala, e se expressa com velocidade, num texto que, freqüentemente, não se dá conta, é muito produtivo, sem qualquer exaustão física e sem comprometimento físico aparente.
A mesma coisa ocorre na pintura mediúnica. Observem que ela se processa numa velocidade incrível e surpreendente para qualquer um que conheça as dificuldades naturais de se pintar uma tela. O médium, no entretanto, realiza a pintura de uma tela em um minuto e meio, dois minutos ou três minutos. Aqui, também, é muito fácil se perceber que os movimentos, em toda sua gesticulação motora, por parte do médium, é nitidamente automática.
A obsessão.
Vamos observar outro fenômeno. Num processo, perturbador, através da obsessão, nota-se que a presença do espírito obsessor modifica a fisionomia do médium. As expressões passam, com freqüência, a ser tão inapropriadas, que a gente nem o reconhece. Parece muito estranho para quem não conhece o fenômeno. Alguns indivíduos obsidiados, adquirem, quando muito perturbados, uma energia, uma força tamanha, que, com freqüência, duas ou três pessoas não conseguem contê-los. Aqui também o quadro motor sugere o envolvimento de automatismos.
A neurofisiologia da mediunidade.
A apresentação que estou lhes fazendo do fenômeno mediúnico está mostrando para nós algumas características semiológicas que já podemos destacar para nossas interpretações.
Nos exemplos que citei constatamos que o médium é possuído de uma força estranha. Ele é capaz de trabalhar horas seguidas. Mal precisa da visão para escrever. O texto sai com muita velocidade. A fala é fluente. O tema ele, com freqüência, não se dá conta e não tem alcance intelectual para expressa-lo por si. Pode até falar numa outra língua. Transparece aquela impressão de que tudo está sendo feito automaticamente. É exatamente como qualquer atividade mecânica que a gente já aprendeu, de cor, e não nos toma conta, nem tempo para sua realização.
Para analisar estes dados que a mediunidade nos fornece, temos, agora, de voltarmos para o domínio da neurologia. Qual é o programa que está inserido nos dezesseis bilhões de neurônios, que organiza e estrutura a fisiologia do nosso cérebro?
Tem que haver um programa específico, no cérebro, onde deve ser processada a comunicação mediúnica transmitida de uma dimensão a outra. Aqueles, que têm esse programa, são competentes para a comunicação. Serão chamados de médiuns. Estou fazendo esta metáfora usando a linguagem dos computadores, porque isso facilita muito o nosso entendimento. É questão de ter ou não o programa que vai permitir o acesso entre uma dimensão e a outra.
Quando falamos de incorporação, fica aquela sensação de que incorporar é um corpo sobre outro, um corpo dentro do outro. O que não é verdade. Pode até ocorrer uma aproximação carinhosa entre o espírito que, afetivamente, se acerca do médium. Mas, o processo de comunicação é de sintonia entre as duas mentes.
Posso fazer com vocês, um exercício de sintonia. Começo a contar uma história ou começo a cantar uma música. Daqui a pouco, vocês todos, quando saírem para o café, estarão com aquela música na cabeça. Vocês sintonizaram comigo ou com o coral ou com a história que eu contei. É muito comum isso. A gente vai assistir a uma peça musical ou um conserto e quando retornamos para casa, ainda ressoa em nossos ouvidos aquela sonoridade que acabamos de escutar. Estamos, de certa forma, sonorizados ainda, com aquela mensagem que a música nos provocou.
Falar de sintonia é falar em ondas; ondas têm comprimento específicos; maiores ou menores, dentro de uma determinada faixa . Posso estar sintonizado com um determinado espírito, com outro, não. Há uma determinada faixa que capto mais, com mais facilidade na minha sintonia, com outro, não. Vejam: estou pretendendo montar para vocês um raciocínio que precisa de alguma maneira justificar o fenômeno mediúnico. As boas teorias têm que explicar toda fenomenologia. Não posso inventar uma que explique só a materialização ou só a psicografia. Dentro deste texto que estou falando, estou inicialmente pinçando alguns dos elementos que vão compor nossa proposta.
Mentalmente, posso sintonizar-me harmoniosamente com todos vocês. Somos espíritas e estamos num ambiente amigável, fraterno e comungando os mesmos ideais. Se estivesse num lugar estranho, não vai ocorrer a mesma sintonia comigo. O fenômeno mediúnico também ocorre dentro desse clima. O ambiente precisa ser receptivo e favorável ao médium. No contexto neurológico, que é a nossa proposta de estudo, quando nós falamos de mente, que realiza uma sintonia, de alguma maneira, temos que consolidá-la no cérebro, cristalizá-la na expressão física do cérebro.
Precisamos ver agora o que existe na anatomia do cérebro, que pode produzir esta sintonia de que estou falando, quando me refiro à mente. Esta expressão, sintonia, pode nos parecer um tanto abstrata, para ocupar lugar na anatomia do cérebro. Vamos direto ao assunto, por pingos nos "is". Vamos descer para o plano material.
Se nós observarmos o cérebro, podemos ver uma superfície externa que é o nosso córtex, rico em neurônios. Existe, também, um conjunto de núcleos, de situação mais profunda que são os chamados núcleos da base. Preenchidos por uma concentração muito grande de neurônios pequenos. A neurologia já identificou muitas funções das áreas do córtex e funções dos neurônios curtos dos núcleos da base.
Vejam aqui comigo estes garotos, são os netos lá de casa. Esparramei alguns objetos na mesa da sala bem na frente deles. São porcelanas que a avó pinta. Digo para eles: vamos abrir estas caixinhas, sem a vovó ver, porque acho que tem alguma coisa guardada aí.
Provoco esta tentação neles. Deixo-os com de vontade de abrir as caixas.
Eles ficam em dúvida:
E se acontecer alguma coisa, uma delas pode se quebrar e depois o avô não me defende, não é?
É preciso que eles criem coragem e assumam uma atitude intencional, voluntária. Mesmo que eu provoque neles alguma curiosidade, eles têm que tomar uma iniciativa. Nesses casos é preciso atuar sobre o córtex cerebral para agir voluntariamente.
Passo para uma outra tarefa:
Érick, você vai pegar o telefone e aprender a digitar. Vamos conversar lá com a sua mãe ou com a vovó na outra sala.
Aos poucos, vocês percebem, ele vai aprender este gesto e logo estará sabendo digitar o teclado do telefone. Foi, inicialmente, um gesto voluntário quando ele colocou o telefone no ouvido. Depois, com o aprendizado, ele vai treinando e consegue fazer as ligações automaticamente.
Vamos desenvolver agora, uma tarefa mais complexa. A criança vai aprender a escrever . O texto vai devagar no começo. Ele rabisca cada letra com lentidão.
O que ele quer escrever ?
_ Bola!
_ B-O-L-A . Ele pode ter um problema com L e com R . A professora insiste: repita estas palavras. Ela reprograma o seu cérebro para fazer a escrita com correção. Aos poucos, com o passar dos dias, está pronto, já está correta a sua escrita. Já automatizou os seus gestos e os faz com correção gramatical. Toda dificuldade inicial foi superada pelo treinamento repetitivo dos gestos apropriados.
Os automatismos.
Existem atividades cerebrais mais complexas ainda. Utilizam a motricidade e o equilíbrio, dentro de um contexto mais complexo. Para dirigir uma bicicleta, por exemplo, temos que obedecer uma direção, segurar com os braços, movimentar as pernas e manter equilibrado o meu corpo sobre as rodas. No início do aprendizado é preciso que alguém nos apoie auxiliando o equilíbrio. Depois já podemos ir sozinhos. Aprendemos a combinar automaticamente todos os gestos que nos permite deslocar com a bicicleta. A mesma coisa acontece com que vai iniciar seu aprendizado para dirigir um automóvel. Temos que superar as dificuldades iniciais e depois, as custas do treinamento insistente, vamos automatizar os gestos e desempenhar a tarefa com tranqüilidade. Percebam que quando dirigimos, atentos ao desenrolar do trânsito, ainda nos sobra condições para outras atividades paralelas que nos permite, por exemplo, ligar o rádio, conversar com a pessoa que está do lado, dar seta, etc.
Nos exemplos que citei, ficou claro que nós aprendemos com dificuldade, tomamos iniciativas, optamos por determinado gesto que parte dos estímulos do córtex cerebral. Depois que a gente aprende fica tudo mais fácil porque está automatizado. Nós transferimos o cortejo de gestos para o subcórtex, onde estão aqueles núcleos da base.
Quando vim para cá estava preocupado, pensando como é que vai ser minha aula lá na Dª Isabel, mas estou dirigindo o automóvel. Um piloto automático passa a tomar conta da direção e eu mal percebi que, vejam, já cheguei e ... nem notei a quilometragem que a gente teve que percorrer para vir até aqui. O desempenho de todo este automatismo é feito corretamente e sem muito esforço pelos núcleos da base.
Desde criança, o nosso sistema nervoso vai sendo programado para deixar o córtex livre para os gestos novos e, tudo que se aprender no decorrer da vida, se automatiza nos núcleos da base favorecendo a economia de neurônios.
A fisiologia dos gestos.
Quero repassar com vocês os três tipos básicos de movimentos que nosso sistema nervoso nos põe à disposição. Os reflexos, os voluntários e os movimentos automáticos.
Aqui está um bebezinho que pisa no chão e movimenta as suas pernas como se estivesse andando. Uma atitude puramente reflexa é a marcha reflexa do recém-nascido.
Quando pretendo, intencionalmente, movimentar alguns dos meus músculos, utilizo uma determinada área do cérebro. Podemos ver que há um cruzamento das fibras nervosas. Para um de nós erguer o braço direito, temos que utilizar o cérebro do lado esquerdo e vice-versa. É a partir, lá do córtex cerebral, no lobo frontal, que nós dispomos de células para tomar estas decisões. São os movimentos ditos voluntários, intencionais. Eles são muito elaborados e dispendiosos.
Com o decorrer do tempo, tudo aquilo que automatizamos a partir do aprendizado, é memorizado núcleos da base (nós os chamamos de memória de procedimentos). Aqui é que se localizam os pilotos automáticos, que programam os gestos automáticos : o automatismo de dirigir, de digitar no computador, de utilizar o telefone, de dedilhar o piano ou o violão, a escrita que redige um texto, o que tiver automatizado, está se processando nesses núcleos da base.
Convém vocês saberem que não estou apresentando uma novidade. Quero me referir a Pièrre Janet. No século passado, no ambiente da escola neurológica de Charcot, na Salpatriérre, ele foi um dos neurologistas contemporâneos de Charcot, aluno de Charcot, colega bem próximo de Freud pelos estudos que fizeram sobre a histeria. Pièrre Janet, deve ter acompanhado Charles Richet e Ernesto Bozzano nas sessões de materialização de Willian Crooks e nos trabalhos mediúnicos de Euzápia Paladino. Ele se formou em Filosofia, numa universidade próxima a Paris. Depois se formou em Medicina, dedicou-se a neurologia.
Numa de suas Teses, Pierre Janet dizia que a mediunidade seria um automatismo psicológico, sem a interferência de entidades espirituais ou de inteligências estranhas e sim do próprio cérebro do indivíduo. É muito semelhante a tudo aquilo que falei para vocês sobre automatismo. Quando nós temos um gesto, que se faz repetidamente, como aprender a utilizar uma impressora, uma máquina numa fábrica ou equipamento novo que chega no escritório, a gente primeiro aprende com o uso do córtex cerebral, num looping superior de neurônios corticais. É uma atitude voluntária, intencional. Abre-se a máquina, põe o papel, desce a alavanca, imprime, confere se ficou bem feito. É uma tarefa cansativa neste início de aprendizado.
Depois de um mês, o operador da máquina já está sabendo de cor como realizar cada uma dos seus gestos. A partir daí sua atividade se torna puramente automática.
Alguém que está aprendendo a tocar o violão, quando vai tirar a primeira música, tem uma certa dificuldade natural. Está se processando um aprendizado bem em cima, no córtex. Depois que ele sabe de cor, ... o nosso músico toca o violão de olho fechado!
Por que a gente fala de cor? Vocês sabem? Significa, literalmente, de coração. Porque os filósofos gregos achavam que a nossa Alma estava localizada no coração. A gente aprende a música de coração. Por isso eu falo que gosto do fundo do meu coração. Como neurologista, quero ensinar que, na verdade, a gente ama é no fundo do cérebro. Não tem ninguém gostando do outro pelo coração, porque no coração não tem onde gostar. É aqui, no cérebro.
O looping inferior dos neurônios basais, é o looping dos automatismos.
Vejam como nosso sistema nervoso é didático. Existe um campo superior, no córtex cerebral, que é específico do gesto voluntário. Sou eu que quero fazer. Eu que quero escrever. Eu que peguei no lápis. Eu que vou ligar a chave do carro. Eu que vou ligar a tomada do computador. Uso para isso a alça superior.
Agora, no campo debaixo (looping inferior), o compromisso é com os núcleos da base. Aqui, o gesto é automático. Nós podemos ir conversando, enquanto eu vou falando e vocês vão perguntando o que vocês quiserem. Eu falo três horas seguidas sem me cansar. Faço isto enquanto dirijo 4 ou 6 horas seguidas.
Vejam porém um detalhe: há um determinado ponto, um determinado momento, que as duas alças estão juntas. O gesto voluntário se mistura com o automático. Um sistema se reverte no outro com facilidade. Na direção do automóvel isto é muito comum, nós nos distraímos estrada a fora mas temos que escolher os gestos quando o trânsito nos obriga a fazer a escolha das marchas apropriadas para cada instante.
O fenômeno mediúnico e a consciência.
Perguntaram hoje ao Dr. Andréa:
No fenômeno mediúnico consciente e no inconsciente, como é a participação do médium e da entidade espiritual?
O propósito desta pergunta é questionar: será que o médium inconsciente não interfere no fenômeno?
A meu ver, exclusivamente, pela anatomia das alças neurológicas que acabo de mostrar, não tem jeito !
Os dois, tanto o médium como o Espírito comunicante, estão atuando juntos. A participação é sempre “associativa”. Coloquei essa expressão para ser carinhoso com os médiuns. Nosso cérebro é feito assim. Tudo que você se comprometer com a entidade espiritual para transmitir a mensagem, é um processo de parceria. É uma coisa lindíssima ! Porque isso demonstra, com mais precisão, a fisiologia cerebral na produção do fenômeno mediúnico.
Temos no cérebro áreas específicas capazes de nos permitir falar. Uma outra para compreendermos o que se está falando. Com freqüência, o médium pode ficar na dúvida, por sua própria insegurança : o Espírito o faz falar numa determinada área (área de Brocá, no lobo frontal) e ele acompanha, ouvindo o que é falado em outra área( de Wernick no lobo parietal).
Todos nós temos duas áreas no cérebro: uma que utilizamos para a expressão da fala e, a outra, que se presta para a compreensão da linguagem falada. O Espírito comunicante não precisa usar as duas.
Já ouvimos alguns médiuns dizerem assim: “não sei o que eu falo! Estou totalmente inconsciente. Não me lembro de absolutamente nada. Acredito que não participo do que é falado. Acho que o Espírito me toma e pronto. Faz o que quer de mim !”
A meu ver, não é bem assim! O médium participa, atua, se envolve e altera a mensagem. Como a comunicação tem de ser transmitida através do cérebro do médium, haverá sempre esta “contaminação” por parte da sua interpretação e da sua cultura.
Quando o médium afirma não ter qualquer conhecimento da ocorrência do fenômeno mediúnico, isto não quer dizer que ele esteve inconsciente durante a comunicação. O que se passa é que ele tem amnésia do ocorrido, tão logo termine a expressão da mensagem.
É muito semelhante ao que ocorre durante o sono. Nós estamos aqui com quinhentas ou seiscentas pessoas. São meio dia. À meia noite, a maioria de nós estava dormindo. Chegando a madrugada, lá pelas quatro ou cinco horas, todos estavam sonhando. Perguntamos para vocês:
- Sonharam mesmo?
- Não. Eu não sonhei nada nessa noite, vão dizer alguns.
Sonhou, sim. Vocês é que não se lembram. Todos os que dormiram, nesta madrugada estavam sonhando. Nem todos estão se lembrando. Um ou outro que lembra com certa nitidez. Principalmente as mulheres que têm uma memória melhor para sonhos. Quase todas elas lembram o que estavam sonhando.
Mas façam este exercício. Vocês mesmos. Tentem recapitular. Essa madrugada, antes de vir para cá, das quatro até às seis da manhã, que é a fase mais produtiva do sono, vocês estavam sonhando e a maioria de nós não se lembra. Isto não é “inconsciência”, é amnésia.
O mesmo ocorre com o médium. Ele também está escrevendo pela psicografia, ou se comunicando verbalmente. Assim que desperta, terminada a comunicação nada será lembrado, é simplesmente um fenômeno de amnésia. Não houve registro na memória física. Estas lembranças ficam num outro corpo. O corpo espiritual de todos nós também tem o seu hipocampo, que registra essas memórias do que ocorre no plano espiritual.
Os fenômenos de psicometria.
Vamos continuar no cérebro com outro fenômeno corriqueiro que qualquer um de nós pode perceber. Estando de olhos fechados, toco um objeto e percebo suas características, de olho fechado, percebo que é um copo de vidro.
Peço a minha filha para tocar alguns objetos:
Kátia, fique de olhos fechados. Não abra os olhos! Ponho na sua mão alguns objetos e ela os identifica todos.
Com o toque das mãos, o tato informa ao nosso cérebro um conceito do objeto. Basta um estímulo leve do tato. Elaboramos com ele uma informação complexa reunindo vários dados sensoriais. Eu estou tocando aqui. Olhem aqui, é um objeto liso de couro! Já sei que é minha carteira. Agora estou tocando uma caneta. Percebo que ele é de plástico. Tem uma tampinha. Só não vou saber dizer a cor. Mas, o nosso cérebro, o de todos vocês, se eu colocar esta caneta, mesmo de olhos fechados, vocês identificam a textura, o peso, a consistência. Vão poder informar até para que serve cada objeto que lhes for oferecido.
Vamos repisar esta propriedade do cérebro. Basta dar uma única pista sensorial que o cérebro amplia o contexto e completa a imagem por inteiro. Basta uma informação pelo tato e o cérebro processa o restante da identificação.
O Dr. Ney, está aqui presente e já fazia uns quinze ou vinte dias que eu não o via. Bati os olhos só no seu rosto e o reconheci imediatamente.
Dr. Ney, vire de costas para eu ver se é o senhor mesmo.
Meu cérebro não precisa disso para identificar as pessoas que conheço.
O nosso cérebro tem competência para completar a imagem. A imagem é elaborada por inteiro, pela minha mente utilizando uma pista inicial. Isto se chama reconhecimento ou gnosia, em termos neurológicos.
Quero contar-lhes um caso muito interessante. Um cliente nosso teve uma trombose cerebral, e ficou com o lado direito comprometido.
Daí a um mês, ele se recuperou da paralisia, mas, passou a revelar um quadro de negligência corporal. Isto é, uma expressão clássica da neurologia. Ele não reconhecia que aquele lado do seu corpo era dele. Aquele braço que esteve paralisado não é mais dele. Essa negligência, em termos cerebrais, expressa para nós, neurologistas, que ele não reconhece mais o braço como dele. Um determinado dia, estando no quintal de sua casa, estava ali, lidando com a enxada e, quando terminou de roçar uma graminha, recostou a enxada numa árvore próxima. O seu braço doente tocou nas suas costas com certa força. O paciente achou que era um ladrão que estava pegando nele por traz. O que ele fez? Com rapidez ele jogou o ladrão em cima da árvore.
A mulher dele está rindo da estória que ele está nos contando. Ele que se machucou. Não era ladrão coisa nenhuma. Era a mão dele que estava ali atrás.
O neurologista testa estes pacientes, com muita facilidade, e constata que o paciente não reconhece mais que aquele lado é parte do seu corpo. Ele não faz reconhecimento da própria paralisia, nem dos objetos situados naquele lado. Posso colocar uma caneta, na sua mão comprometida. Se olhar, ele sabe e reconhece que é uma caneta. Com os olhos fechados, não reconhecerá mais o que é aquilo.
Alguns médiuns desenvolveram a psicometria. É uma forma de mediunidade fundamentada neste tipo de reconhecimento cerebral que estou comentando. Utilizando-se de objetos de uso pessoal, uma foto, um relógio, um lenço, um azulejo e assim por diante, esses médiuns conseguem revelar detalhes relacionados com as pessoas que de certa forma estiveram evolvidas com tais objetos.
O médium também consegue elaborar outros elementos do objeto que tem em suas mãos.. Pelo tato, ele faz toda reconstituição. Este retrato é de fulano, de uma mulher, por exemplo, com tal aparência e assim por diante. Sabemos que o espírito não precisa de luz para ver, ele identifica os objetos pela vibração que cada partícula deste objeto emite. O mundo espiritual dispensa por completo a nossa costumeira luminosidade. Eles penetram na essência das coisas, na intimidade da matéria, porque nossa matéria vibra em seus sentidos.
Todos os elementos físicos aqui a nossa frente estão em movimento. A impressão nossa é de que este livro aqui está parado, o que não é verdade, todos os átomos que formam este livro estão em grande movimento, e movimento produz vibração. É essa vibração, que atinge diretamente a mente do Espírito, por isso, ele não precisa dos dois olhos para ver.
Nós, humanos, estamos encarnados e, de certa maneira, mergulhados num equipamento que tem as suas limitações. Temos que ver através de duas estruturas: os olhos, que nos permitem identificar os objetos através de ondas luminosas. O Espírito, além de não precisar das ondas luminosas, porque ele vê diretamente a vibração do átomo de cada objeto que ele se aproxima, ele não precisa dos olhos. Ele enxerga até mesmo com os dedos. Ele identifica as letras e lê um texto com os dedos. Passando a mão sobre uma tela, ele é capaz de descrever o que está pintado ali e, de que material é feita a tela.
O nosso cérebro também tem condições de produzir esse tipo de percepção. Através do transe magnético ou hipnótico podemos libertar a Alma de certos limites que o corpo físico lhe impõe e termos suas faculdades exaltadas.
São várias as experiências que podem demonstrar que o hipnotizado pode perceber sensações usando os recursos do seu perispírito. Podemos colocar uma letra, como a que escrevi aqui neste livro, a letra A, por exemplo, e encostar nas costas dele sem que ele a veja. Estando em transe hipnótico profundo, ele poderá identificar para nós a letra "A", com precisão, porque, o corpo mental do indivíduo hipnotizado, registra este estímulo, independente do corpo físico. Ele tem acesso aos estímulos sensoriais através do corpo mental.
Posso sugerir que ele esteja enxergando pelo lóbulo da orelha:
Feche os olhos!
Em seguida, acendo uma lanterninha perto da sua orelha e ele pisca. Isto comprova que, sob hipnose, ele deslocou sua percepção visual para outra área, o que no corpo mental é perfeitamente possível.
Tornou-se conhecida uma menina, na Rússia, que com os olhos fechados, toca numa tela com vários quadriculados coloridos e consegue ir dizendo, um por um, as cores que cada quadradinho está pintado.
Expansões da consciência.
Com muita freqüência, na história da humanidade, tentamos determinar a sede da Alma em algum lugar do nosso corpo. Atualmente a nossa tendência é localiza-la no cérebro. A neurologia de hoje não aceita a existência da Alma, mesmo assim localiza no cérebro todas as nossas aptidões e, inclusive nossas paixões.
Vou tentar mostrar que nossa mente, atua além do meu cérebro. Vamos usar alguns exemplos:
Se tentar passar correndo aqui no meio das pessoas, meu corpo, às custas de uma imagem corporal construída pela minha mente, vai me desviando permitindo acertar as distâncias e a direção por onde tenho que caminhar. Nesta corrida, a mente, o corpo e o espaço a sua volta estão conjugados com se fossem uma coisa só.
Sabemos, como neurologistas, que cada um de nós se apresenta ao mundo com o conteúdo mental de que dispõe. A minha própria roupa é a expressão da minha maneira de ser e de querer vestir, do que eu tenho de conteúdo psíquico, e que está organizado na minha mente .
Quero dizer, com estes exemplos, que a mente é maior que o cérebro. Os neurologistas, atualmente, já estão percebendo isto com uma certa facilidade. Refiro-me àqueles neurologistas que têm uma visão espiritualista, não os que permanecem cristalizados na perspectiva apenas materialista.
Se podemos nos expandir, psiquicamente, expandir a consciência, demonstrar que o eu pode se projetar, às vezes, até para fora da estrutura física, e aquele lenço, impregnado do fluído cósmico universal, pode receber os influxos da mente, não há porque limitar as dimensões da mente aos limites do cérebro físico..
Vou dar agora um exemplo caseiro : vou brincar com os meus dois netos .
Se eu pedir para eles: Vocês vão ali e se escondam.
Um de vocês vai ficar escondido atrás desta mesa. Eles gostam da idéia porque a mesa é toda fechada e esconde bem.
Mas, se eu falar: O outro vai se esconder atrás deste vaso !
É claro que eles não vão aprovar. Sabem que atrás do vaso podem ser encontrados com muita facilidade. Como que eles fazem isso? Eles se projetam, para o lado de fora do vaso e sabem que na hora em que eu chegar eu os vejo imediatamente.
Uma criança de quatro anos, se vier brincar conosco, já sabe fazer isso. Vamos dizer que o “eu” dela, escondido aqui atrás, sabe se deslocar para a minha posição na hora da minha chegada.
É perfeitamente possível, para a criança, realizar essas expansões da mente ou da consciência, como queiram.
É uma propriedade da própria mente ser maior do que o cérebro e maior do que o corpo. Muitas das nossas atitudes são assumidas porque ocupamos o lugar do outro, uma outra posição no espaço.
Como a mente se projeta, com facilidade, não há o que estranhar, quando aquele lenço que eu disse estar impregnado pelos fluidos, passa a obedecer o meu comando.
O fenômeno de transporte.
Quero mostrar um caso de transporte de objetos, realizado por uma médium que nós tivemos ocasião de ver. Vários objetos são trazidos ali no meio de um amontoado de algodão que são dispostos em cima de uma peneira.
Há uma participação fluídica de todo público que está presente. O nosso ambiente, em todo fenômeno mediúnico é susceptível a esse contágio. Os meninos que estão aqui ligando os aparelhos de rádio sabem disso. Estando um microfone perto do outro, ou conforme você pega em um deles, o outro microfone que está perto produz um ruído desagradável. Eles chamam isto de microfonia. Se isto existe ao nível da atividade eletrostática desses microfones, imaginem, quando nós estivermos querendo sintonizar mentes. Os médiuns e os Espíritos vêm se comunicar conosco e contam com nossas próprias mentes. É natural que ocorra um ruído psíquico, e que às vezes, é tremendamente desagradável para o médium. Quando assistimos a uma sessão mediúnica, se não controlarmos o que estamos pensando, a microfonia psíquica que estamos produzindo reflete no médium com muito desconforto.
É comum ouvirmos esta queixa dos médiuns. Perguntei a uma pintora mediúnica, com quem conversei durante algumas horas, o que ela sentia diante do público. Enquanto ela estava pintando, conseguia ver as pessoas que conversavam por ali, via sem muita nitidez, sem olhar, sem saber direito quem é, mas, o ruído da conversa fica marcado na sua mente. E, segundo ela, a perturbam muito.
Nós devemos respeitar o ambiente mediúnico, porque a sintonia ocorre, também com a nossa participação..
Nós ouvimos perguntas ao Dr. Andreia referentes ao fenômeno mediúnico e sua relação com as várias idades. São clássicas as descrições. A criança, num extremo, tem muita vidência. Depois, o idoso, quando está se desprendendo, costuma ver os familiares que vão assisti-lo no desencarne. Já na vida adulta, prevalece a manifestação da psicografia ou dos médiuns falantes. Tanto o idoso como a criança sentem com mais freqüência a presença de entidades espirituais com quem eles se comunicam.
Conclusão.
Do ponto de vista da expressão da fenomenologia mediúnica, o que eu gostaria de passar para vocês sobre a participação do cérebro pode ser resumido com a afirmação de que a mediunidade é uma expressão de automatismo cerebral com a participação das duas mentes em sintonia, a do médium e a do Espírito comunicante. Estão envolvidos os núcleos da base com os automatismos, e uma atividade superficial do córtex, estabelecendo duas alças que compartilham suas junções fisiológicas. A cortical fica por conta do médium e a atividade profunda relacionada com os núcleos da base, fica por conta do espírito comunicante.
O animismo
Há um outro capítulo que gostaria de abordar. Quero falar sobre o que se chama em medicina de “diagnóstico diferencial”. Afinal de contas, tudo isso que expressei até agora, está dentro do contexto de atividade mediúnica. Podemos então perguntar: e aquilo que não for mediúnico?
Em que tipo de fenomenologia se enquadra?
Afinal de contas, nós somos, cada um de nós, uma entidade espiritual. Estamos incorporados no corpo físico, que nos permite também produzir expressões no campo da transcendência e da espiritualidade. As forças universais que estão por aí não são patrimônio exclusivo dos desencarnados. Nós também, enquanto encarnados, podemos assumir uma determinada autonomia espiritual. Posso me assentar aqui, nesta mesa de trabalho e, me deslocar pelas dimensões espirituais e me servir de um médium para transmitir uma mensagem.
Conta-se que, Eurípedes Barsandulfo, um extraordinário médium de Sacramento, MG, ao dar aula, pedia, às vezes, licença aos seus alunos, assentava- se, recostava - se e voltava depois de alguns minutos. Mais de uma vez, ele descrevia que tinha estado na Europa, socorrendo soldados que estavam precisando de ajuda na vigência da primeira grande guerra mundial.
Este relato foi passado por parentes de ex-alunos de Eurípedes Barsandulfo. Há uma série de estórias lindíssimas, desse médium extraordinário de Sacramento.
O fenômeno mediúnico pode ocorrer, com o próprio espírito encarnado que vai incorporar em um médium e produzir a sua informação ou a sua comunicação. Não temos ainda conhecimento para entender a complexidade deste fenômeno.
Há uma outra fenomenologia que faz parte da nossa dinâmica física, que é o fenômeno anímico. Minha alma vai produzir, atuar no mundo das ondas ou na mente das pessoas ou dos objetos que nos cercam.
Podemos ter acesso ao inconsciente através do transe sonambúlico ou pela hipnose. Podemos provocar um quadro de hipnose que se aprofunda e leva o indivíduo a um transe ou uma crise, um transe sonambúlico profundo e, a partir daí, podemos produzir manifestações extraordinárias. Com as propriedades da Alma exaltadas o indivíduo revela outras extensões da sua personalidade.
Na situação de letargia, catalepsia e sonambulismo, é comum ocorrer a emancipação da Alma e desenvolver-se espontaneamente uma produção fenomenológica muito próxima do fenômeno mediúnico.
A grande questão é sabermos como reconhecer quando é uma ou a outra situação?
O conteúdo do fenômeno mediúnico é, quase sempre, conhecido pelo indivíduo quando acordado e consciente. Ao passo que aquele indivíduo que está em transe sonambúlico pode trazer informações que ele desconhece, enquanto consciente.
Estou expondo um ponto de vista, mas, proponho esta avaliação para vocês, para sentirem as dificuldades desta triagem de seleção.
O mesmo ocorre quando algumas pessoas vêem questionar sobre suas percepções. Vão até ao centro onde costumam ouvir : É mediunidade! Você precisa se desenvolver!
Há todo um texto dentro do Livro dos Médiuns capaz de orientar- nos.
Kardec ensina que a mediunidade é uma disposição orgânica especial e que ela não se desenvolve pelo exercício.
Cada um que se sentir envolvido por manifestações espirituais, pode fazer sua própria experiência. Freqüente e acompanhe as reunião num grupo espírita, estude, "conheça - te a ti mesmo ", observe se as idéias são suas, ou é possível a presença ou a participação do mundo espiritual.
Cada um dos nossos centros tem os seus orientadores, os doutrinadores, os envocadores, como diz o Livro dos Médiuns, que vão adquirindo experiência e colocando você no caminho, onde, sua mediunidade pode desabrochar.
Histeria e mistificação
Na área neurológica e psiquiátrica é muito comum uma certa dificuldade no diagnóstico diferencial.
São inúmeros os pacientes em que o médico faz o diagnóstico de histeria e, confirma-se depois que era um quadro de esclerose múltipla. É uma grande surpresa para o médico mas, só lhe resta pedir desculpas para o doente.
Na área médica é muito comum o erro de diagnóstico no início dos sintomas. No campo da mediunidade onde a histeria, por exemplo, pode contaminar as manifestações espirituais, percebe-se que certos médiuns tem manifestações nestes dois domínios da mente.
Quero comentar, ainda, os sintomas do que entendo como sendo “Mediunismo”.
Coloco aqui aquelas manifestações orgânicas que o médium apresenta no início dos seus primeiros contatos ostensivos com a espiritualidade. Freqüentemente aparece insônia, mal estar indefinido, sem causa aparente, dores atípicas, sonolência excessiva, sonhos patológicos entre vários outros sintomas.
Fazer o diagnóstico diferencial entre as expressões do Mediunismo e da histeria é, freqüentemente, muito difícil, tanto dentro do ambiente médico, como dentro dos nossos centros espírita.
Algumas vezes ocorre um outro agravante: no atendimento médico é comum percebermos certas pessoas falsificando as expressões dos seus sintomas. No ambiente espírita ocorre igualmente a “mistificação” dos fenômenos. Pessoas que tentam enganar, estão, freqüentemente, enganando até a si mesmo, de uma maneira imperceptível. Vale dizer, inconscientes do que fazem. A mistificação é um componente sério no ambiente do centro espírita. Médiuns habituados a se comportarem corretamente, com sua dignidade sempre preservada, de repente, são envolvidos por um certo deslumbramento das suas aptidões e acabam por se comprometerem com o processo de mistificação.
O ser humano é de uma complexidade inimaginável. Diziam os filósofos gregos que "o homem é a medida das coisas". Por isso, temos que ter cautela e bom senso para saber corrigir sem magoar aqueles que estão iniciando a tarefa mediúnica. Foi o caso dessa senhora que trouxe-me dois ou três cadernos com texto muito rabiscado. Achava que era mediúnico e me perguntava: - Doutor, o senhor pode ficar com este caderno porque, quem sabe no futuro, ele poderá ser traduzido e, o que está escrito aí pode ser uma grande revelação. Será que isso não seria sanscrito?
Como ela insistisse, maravilhada com o que via em seus cadernos, sugeri o seguinte: “Me dê um recado a este Espírito, quando ele se manifestar. Peça para ele se alfabetizar. Quem sabe assim, a gente o entende melhor”.
Meus amigos, está aí a contribuição dos estudos sobre mediunidade, que eu queria lhes apresentar. Muita paz a todos!
Sessão de Perguntas:
Dra Mirna: Vamos passar às perguntas.
As primeiras três perguntas se referem à vidência . São três casos.
"Quando vou dormir, ouço barulhos na cozinha, alguém mexendo em pratos e quando vou até lá, não há ninguém. Será imaginação?
Às vezes, vejo algumas coisas. Não sei se é imaginação ou se são espíritos. Como posso distinguir?
Às vezes, à noite, quando vou dormir, vejo vultos. O que é isto? São espíritos?"
Dr Nubor
Vou responder carinhosamente a estes “videntes”. Está escrito no Livro dos Médiuns que é melhor que a gente não acredite noventa e nove vezes, para não errar.
Prefiro imaginar que nós todos temos possibilidade de nos enganar e ter aquela vontade de ver espíritos, mas como homem de ciência, procurando uma verdade sempre muito consistente, prefiro optar por dúvida. Se realmente acontecer de nós termos aptidão para a vidência, os Espíritos que nos orientam, os nossos protetores, vão, no momento adequado, nos amadurecer e permitir que a gente tenha esse acesso ao mundo espiritual. Mas por esses dados que estão relatados nas perguntas, ainda prefiro ficar no imaginário que a nossa mente permite.
Dra. Mirna:
"Existe alguma droga, medicação, que pode provocar a mediunidade?"
Dr. Nubor:
Acredito que esta pergunta foi feita, porque a literatura leiga tem um lixo literário muito grande sobre essas drogas. Inventam que seria possível termos acesso a outras dimensões, utilizando chás ou pílulas com estas substâncias. Isso teve início a partir da década de sessenta, com o LSD e a mescalina. Creio que todos aqui já leram alguma coisa sobre estas duas drogas. O fenômeno mediúnico tem esse "quê" de sagrado, que eu quis transmitir a vocês, pelo envolvimento com a espiritualidade. Peço desculpas até por ter usado esta expressão. O que quero dizer é que a mediunidade tem uma complexidade, tem uma seriedade, tem um mecanismo neurofisiológico, e tem a participação destas entidades que com freqüência nos comove pelo seu envolvimento.
Por outro lado, o que acontece com as drogas, os chás, ou as medicações a que nos referimos. é que elas alterarem a fisiologia do cérebro mudando principalmente a sua química. No Livro dos Médiuns Allan Kardec sugeriu que , quando existe uma lesão cerebral , portanto uma expressão orgânica de doença, o espírito desta pessoa, pode se projetar para fora do corpo e registrar o conteúdo de imagens do seu próprio cérebro. É uma das explicações que Allan Kardec dá para as alucinações.
Sabemos hoje, que há um risco seríssimo no uso de qualquer droga que afete o cérebro. Curiosamente devemos lembrar que estas substâncias, do tipo LSD surgiram junto com a invenção da bomba atômica. No momento que o homem aprendeu a fragmentar o átomo e explodir a matéria, ele também descobriu as drogas que implodem a mente. Provoca-se um desastre biológico, as vezes irreversível, com o uso deste tipo de droga, principalmente, com a intenção de produzir fenômenos tidos como transcendentes.
Dra. Mirna:
"Existe algum método de aprendizagem de estado psíquico, ao qual se tornaria mecânico com o tempo e, com isto, poderia ser atingido a parte mais remota da mente?"
Dr. Nubor
Vou tentar simplificar. Não sei se é isso que quer dizer a pergunta. Estão muito em moda os exercícios de meditação. São tentativas de se produzir estados alterados da consciência. Há, realmente, alguma coisa de muito valor neste propósito, que se presta muito para as terapias de relaxamento, de expansão da consciência, de acesso a experiências de vidas anteriores, entre outros benefícios. Mas o texto da pergunta para mim ficou um pouco complicado. Não sei se é bem isso que questiona. No sentido de nós fazermos um treinamento e produzirmos um fenômeno mediúnico mecânico, isto, a meu ver não tem sentido. Caso se refira a uma busca interior para se alcançar estágios mais profundo de conhecimento da mente, isto é sabido que os grandes mestres tem total domínio. Não foi nem uma nem duas vezes que nos Evangelhos está escrito que Jesus, em certos momentos da sua peregrinação, se retirou de perto da multidão para meditar e orar s, seguramente entrar em contato com a Espiritualidade Maior que Lhe acompanhava.
Dra. Mirna :
"Podem sintomas ditos mediúnicos e não trabalhados ou tratados, com o passar do tempo, tornarem - se sintomas físicos?"
Dr. Nubor:
Analisando a chamada psicopatologia da mediunidade, se nós pudermos introduzir esta expressão na nosologia médica, observamos que ela está muito próxima de manifestações psíquicas de uma série de comprometimentos da esfera orgânica. Tanto é que já me expressei a respeito, mostrando que, as vezes, é muito difícil o diagnóstico diferencial entre um quadro histérico e uma manifestação mediúnica. Quantas vezes a gente sabe que determinadas enxaquecas, dor nas costas, indisposição, mal estar, realmente, podem estar ligadas à presença de entidades perturbadoras. Este campo da doença física e do "mediunismo" será o tema que nós vamos abordar na aula de amanhã. Será que existe uma chamada doença espiritual? Esta é a proposta da discussão de amanhã.
Dra. Mirna :
Se a mediunidade está ligada ao automatismo e à aquisição de várias experiências, o que ocasiona o medo e o temor da confusão mental?"
Dr. Nubor:
Estou meio embaralhando com esta pergunta , mas acredito que isto lembra muito bem aquela história, que nós comentamos na aula de anteontem.
Falamos sobre as causas da loucura. No passado, ela era atribuida aos astros, ao ar corrompido, a masturbação, a desvios alimentares, a condutas imorais de várias ordens. Condutas imorais para aquela época, podia ser assim: Alguém, ao passar numa rua, deixou de pedir a bênção para o padre que cruzou com ele. O indivíduo era condenado para a fogueira, na inquisição, se produzisse um pecado mortal desse tipo.
No livro de um grande médico romano, Celsus, que viveu 150 a 200 anos depois de Jesus Cristo, está escrito a sua sugestão para a cura da doença mental. Ele recomendava para este doente a tortura, as correntes, o fogo entre outras maldades. Ele dizia que uma das causas muito comuns de doença mental era o estudo da Filosofia.
Na minha época de garoto lá em Uberaba, ouvia-se dizer: - “Não fique estudando muito estas coisas de espiritismo, que você fica doido”.
Não é raro a gente imaginar as crises dos psicóticos serem confundidas com manifestação mediúnica. Afinal eles deliram, ouvem vozes e dizem enxergar espíritos. Aliás, pode-se perguntar: E por que não é? Com muita freqüência na verdade eles são realmente médiuns. Associar loucura com espiritismo é muito comum e compreensível. Isso não me afeta mais.
Dra. Mirna :
"O fenômeno mediúnico, físico e intelectual utiliza o mesmo espaço cerebral ou existem caminhos específicos para cada um deles?"
Dr.Nubor:
No fenômeno físico, como nós vimos é uma expressão que exige a somatória de forças do fluído do perispírito do médium e de fluídos do perispírito do espírito comunicante. A partir desta combinação fluídica, o comando do fenômeno se conduz pelas duas mentes em parceria.
Por outro lado, o fenômeno intelectual, que analisei com vocês, e isto na minha opinião, tem suas vias de produção nos automatismos cerebrais.
No meu entendimento, o fenômeno mediúnico daquele psicógrafo, que pega a caneta, daquele que pega as tintas e pinta rapidamente ali na tela é um fenômeno de automatismo cerebral. É claro que há muito mais coisa envolvida no fenômeno conforme discorri no decurso da nossa aula.
Certa ocasião estava assistindo uma médium, em Águas de Lindóia, a Valderice, pintando. Ela mistura aquelas tintas, aquelas massas de tintas, o vermelho e o branco... Eu acho que se fosse eu quem as misturasse, tenho certeza que iria fazer um borrão de tremendo mal gosto. A médium, no entanto, sob ação de Van Gogui simplesmente toca a tinta daquele jeito, assim meio automaticamente, muito rápido, mas nunca faz nenhum borrão com as tintas. A câmera que a filmava tão de pertinho, nos dava a sensação de que a tinta seguia para o lugar certo, obedecendo alguma ordem que deve vir do pintor. É incrível como isso acontece. Não tenho qualquer habilidade para pintar, mas a minha esposa pinta e a vejo nesta tarefa criando uma folha ou as florzinhas que vão ali enfeitando a paisagem que ela imaginou por na tela. É um trabalho produtivo, consciente e eu estou vendo de perto.
Na produção do fenômeno mediúnico, dessa médium pintora que eu me referi. vejo nos seus gestos um automatismo motor, enquanto o fenômeno está se processando. Por outro lado, na hora em que aquela tinta está caindo na tela, ela parece estar viva, ela obedece ao pintor espiritual. Aqui parece um fenômeno de efeitos físicos. Por Deus, eu não tenho expressão para dizer:
Parece um milagre!
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Autor: O neurocirurgião Nubor Orlando Facure é professor aposentado da Unicamp, presidente e fundador do "Instituto do Cérebro", na cidade de Campinas. Embora afastado da Universidade, Nubor continua clinicando em consultório próprio e no Instituto do Cérebro, escrevendo e publicando livros e também fazendo palestras nas casas espíritas e instituições acadêmicas.
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