terça-feira, 26 de outubro de 2010

Livre Arbítrio


Washington Borges de Souza
O ensino dos Espíritos, consubstanciado na Doutrina codificada na segunda metade do século passado sob a denominação de Espiritismo, além de nos dar a conceituação precisa do nosso livre-arbítrio, amplia o entendimento a respeito desse atributo da alma humana.
Nenhum dos aspectos que fazem da Doutrina Espírita a bênção consoladora para a Humanidade deve ser considerado isoladamente e, como tal, apreciado pelos seus adeptos sinceros e conscientes. Do mesmo modo devem ser a avaliação e o trato das questões, mesmo que não nos pareçam transcendentes. Todos os aspectos e temas doutrinários devem ser tratados de idêntica maneira, o que não importa dizer que cada seguidor não sinta uma inclinação mais acentuada para esse ou aquele aspecto da Doutrina. O que não é admissível é a descaracterização do todo pela prevalência parcial de uma de suas feições.
Os hermeneutas das ordenações elaboradas pelos homens aconselham, com prudência, que a interpretação de um dispositivo legal não deve ser procedida isoladamente, mas em função do conjunto de normas e em harmonia com as mesmas. De igual modo, a Doutrina trazida pelos Espíritos e sabiamente codificada não pode nem deve ser entendida e apreciada parcialmente e muito menos que se pretenda que um dos caracteres científico, filosófico ou religioso se sobreponha aos outros ou, ainda muito mais grave, que até exclua os demais, como, às vezes, em mentes desavisadas encontra guarida e costuma ocorrer.
O Espiritismo, como sobejamente se sabe e se repete, é uma Doutrina de natureza filosófica, científica e religiosa. Sua filosofia é própria, peculiar e inconfundível e, como tal, não pode ser mutilada. Por sua vez, o caráter científico dessa Doutrina, além de não se distanciar dos conhecimentos tradicionais decorrentes do progresso humano, estende esses conhecimentos além da matéria densa, para lá do túmulo, para a vida que se desdobra após a morte do corpo. Desvenda a Ciência Espírita um Mundo ainda mais real porque nos mostra que a vida não cessa e que a alma é imortal. Mas, a feição religiosa dessa majestosa Doutrina, nos atuais estágios evolutivos do Planeta, configura-se de inefável valor, dada a grande necessidade do nosso progresso moral. Daí decorre a integral adoção da Doutrina de JESUS, assimilando-a inteiramente e tornando o Espiritismo, desse modo, a sublime Religião CRISTÃ-ESPÍRITA, para a redenção humana.
Por outro lado, com referência aos temas ordenados na Codificação Espírita, por falta de sensatez e fartura de incontida e indisfarçada vaidade, deparamos, muitas vezes, com atitudes e pronunciamentos discordantes dos princípios espíritas, em militantes do próprio Movimento. É o que acontece, por exemplo, com referência ao livre-arbítrio e à liberdade de expressão do pensamento. Embora constituam franquias inerentes ao ser humano, esses atributos, contudo, não são absolutos e ilimitados. Aos que entendem que o são, falta-lhes bom senso e sobejam-lhes orgulho e vaidade, mesmo quando não são carentes de preparo e de inteligência.
A Doutrina Espírita não impõe sua sabedoria e beleza aos seus seguidores: ela expõe com base em sua magnitude e sua origem.
Portanto, pretender desvirtuar e traçar rumos novos são tentativas vãs que esbarram logo na incompetência de seus autores e na improcedência de suas pretensões. Valem-se, justamente, da liberdade que a Doutrina faculta, de exame de seus postulados, com o uso da razão. Ela não necessita de novos rumos nem insta ninguém a ingressar em suas fileiras. Simplesmente, convida as pessoas que têm a ventura de aproximar-se dela para conhecerem a verdade que as liberta.
Entendem alguns que o livre-arbítrio e a liberdade não podem sofrer restrições e limitações.
A nossa inteligência ainda não está habilitada para absorver a inteira sabedoria das leis divinas.
Mas, a simples observação dos princípios naturais nos dá alguma idéia das limitações do ser humano em face das leis e da grandeza do Universo. Um pássaro dispõe de asas e de liberdade para vôos aparentemente ilimitados. Mas sabemos que não pode ir além de determinada altitude.
Também o homem, no uso de seu livre-arbítrio, não pode praticar determinados atos. É contido quando tenta. Do mesmo modo o Espírito, liberto do corpo físico, não dispõe livremente de sua vontade. As leis e as organizações humanas não permitem que as pessoas usem da liberdade e da via pública para cometerem tropelias de toda ordem. Assim, também, os Espíritos muito endividados e cujos atos os aproximam da natureza primitiva dos animais são contidos, no espaço, e impedidos de praticar certas ações, tolhidos, temporariamente, do pleno exercício do livre-arbítrio, em estrita conformidade com as leis divinas e em perfeita consonância, pois, com a razão. O comportamento não pode ultrapassar determinados limites, embora seja ilimitada a liberdade de pensar.
A liberdade de que se utilizam certas pessoas para distorcer os ensinamentos dos Espíritos, prática que, não raras vezes, constatamos, não as isenta de implicação em falta grave. Em nome do princípio de liberdade da prática religiosa ou da expressão de pensamento, não podem induzir os outros a erro, mormente quando dispõem de tribunas, meios de comunicação e instrução com que não podem contar seus semelhantes.
Os espíritas sinceros, mesmo aqueles que não tiveram acesso à instrução, devem estar atentos a todas aquelas pregações feitas em nome do Espiritismo, mas que não estejam de acordo e em consonância com o ensino dos Espíritos. Não podemos dar guarida a tais distorções, preservando, pois, a simplicidade e a pureza da Doutrina e evitando o que ocorreu com a Revelação Cristã, tantas vezes desvirtuada e ultrajada no curso do tempo.
Conforme nos ensina "O Livro dos Espíritos", na resposta dada à questão 133, o Espírito é criado "simples e ignorante" e, ainda de conformidade com a resposta à questão nº 843 do aludido livro, "lhe é outorgado o livre-arbítrio" donde se conclui que o bom ou mau uso que dessa outorga se faz decorre da maior ou menor evolução do Espírito. Ora, todos aqueles que pretendem modificar o ensinamento dos Espíritos ou estão imbuídos de má-fé ou se julgam superiores aos Espíritos que nos trouxeram a Nova Revelação. E, se se julgam superiores, antes têm que comprová-lo com suas obras, na construção do bem.
Há, pois, pessoas que, movidas por excessivo orgulho e desmedida vaidade, fomentam discórdias, dissonâncias e dissensões nas Instituições, nos Centros e Grupos Espíritas e podem dificultar e retardar o progresso do seu semelhante. Mas, nesta ou noutra vida, vão responder pelos danos e prejuízos causados aos outros.
Assim, tal qual se verifica com a fisionomia humana, a atitude religiosa da criatura é de variada espécie. Há aquela que se opõe à nossa crença com intolerância maior ou menor, a intransigente, a indiferente, a concordante, a discordante, etc. Na abrangência especificamente espírita a atitude também varia. Há os que somente aceitam e julgam bela a filosofia espírita, os que imaginam que a Doutrina é eminentemente científica, há os místicos, os que se limitam à forma, os que se restringem a conhecer sem praticar, os que praticam de um lado e desmentem de outro, mas, felizmente, há considerável número de criaturas que não alardeiam conhecimentos, silenciam, trabalham, doam amor e fraternidade, sempre prontas a ouvir e ajudar, com humildade e dedicação, fiéis à Doutrina porque a absorvem e são bem assistidas pelos Espíritos. Por isso mesmo o Espiritismo está integrado em suas vidas. Afastam-se de discussões estéreis e ficam atentas a qualquer oportunidade de aprender. Amar e aprender é o lema dessas criaturas, que estão sempre nos ensinando a amar com seus comportamentos, obras e exemplos.
Tem, pois, a criatura ampla liberdade de agir e de pensar, mas a sua evolução, as conquistas, as alegrias e felicidade futuras ficam condicionadas ao seu aprendizado, ao bem que proporciona e ao amor dedicado ao seu semelhante, também caminhante da longa estrada humana.
Reformador - Maio de 1997

O livre-arbítrio

Pare e pense: de vez em quando, é necessário dar uma pausa no conteúdo da própria vida e analisar o que está acontecendo.
Ao pararmos para refletir, colocando-nos como espectadores da própria história, assistimos as cenas que a vida construiu conosco. Muitas destas passagens nos fazem reviver alegrias e emoções de um tempo memorável, mas nem só de boas lembranças é feito o passado. Existem outras cenas nas quais os momentos difíceis e dolorosos também passam diante de nossos olhos e, mesmo depois de muito tempo, ainda podemos sentir o gosto amargo daquele sofrimento ou dor.
Independentemente da história pessoal de cada um, devemos lembrar que somos nós quem construímos nossa própria história, que somos o personagem principal no teatro da vida. Cada ser é a principal célula criadora de seu próprio destino. O roteiro da vida não está completamente escrito, pois, além daquelas tarefas previamente estabelecidas pelo plano espiritual superior, que visam o resgate de nossos erros do passado, existem algumas lacunas à espera de serem preenchidas de acordo com as escolhas que nos permitimos fazer.
Então, se há uma parcela de tempo destinada à recuperação de laços partidos em função de atitudes cometidas anteriormente, uma outra parcela de tempo nos é reservada para que, com o calor de nossas mãos e palavras, possamos construir obras de luz que permitirão auxiliar a todos que estejam próximos de nós, além de contribuirmos com nossa lapidação íntima, rumo a um estágio mais avançado em espírito. A história de vida é escrita pelo indivíduo, portanto, somos os co-produtores de nossa própria peça. Mas além de construirmos nossa própria história, participamos simultaneamente nas peças de outros companheiros, como coadjuvantes.
Ser o próprio redator e personagem principal nos leva a concluir que somos responsáveis diretos por cada ato e cada cena de que participamos. Caso olhemos para trás e recordemos de fatos que nos entristecem ou envergonham, devemos lembrar que cada uma das atitudes que foram tomadas eram equivalentes ao grau de compreensão e percepção que tínhamos na época.
Hoje, após várias experiências, aprendemos quais os caminhos que nos machucam e quais nos conduzem à paz e à felicidade. Entretanto, existem muitos outros trajetos que ainda não descobrimos e que trilharemos muito em breve. Diante de tudo isso, se temos consciência de que somos nós quem dirigimos e protagonizamos a própria história, é nosso dever torná-la repleta de vitórias, conquistas e alegrias, assim como eliminar as passagens dramáticas e as experiências dolorosas.

Mudando o destino
De modo geral, todos os infortúnios, desavenças, doenças e até mesmo desgraças nascem de pontos insignificantes, que, muitas vezes, são alimentados no inconsciente por anos a fio, aspectos estes identificados como sentimento de culpa, remorso, raiva, mágoa, ódio etc. Se cortamos a quota de abastecimento e nos recusamos a ver essas desarmonias crescerem, elas desaparecem de forma natural. Para isso, basta apenas que modifiquemos a postura e o comportamento íntimo.
Porém, não é fácil a tarefa de mudar velhos hábitos de agir, sentir e pensar. Isto exige disciplina, amor, dedicação, perdão e boa vontade. A dificuldade acontece porque os velhos padrões se aderem às profundezas da personalidade, como se criassem raízes. Assim, quando desejamos modificá-los, é como se estivéssemos ferindo nossa própria pele. Mudar é como se tornar um outro indivíduo, perder a identidade que conhecemos.
Ninguém consegue percorrer uma légua em uma passada só. Para chegarmos ao nosso objetivo, devemos buscar encurtar a distância da chegada a cada passo, renovando forças e nos alimentando com coragem para podermos ganhar mais e mais metros. A luta deve ser diária para não sucumbirmos frente ao desânimo, pois aquele que duvida das próprias forças vacila e cai na frustração.
Toda mudança deve ser realizada aos poucos. Os hábitos são a somatória de várias e várias repetições. Para eliminar os velhos hábitos, é preciso se associar ao tempo, pois somente ele é capaz de assegurar a colheita do que um dia foi a semeadura. O hábito só pode ser extraído da personalidade ao ser substituído por outros novos, já que não existe possibilidade de vazios na vida.
Então, se tudo começa no pensamento, é necessário que, antes de qualquer atitude, as idéias sejam bem objetivas. Primeiro se muda a mente, sem pressa, mas com firmeza, pois só ela pode comandar o processo. Corremos sério risco de fracassar caso deixemos o entusiasmo momentâneo guiar nossas decisões. Ele não é o pilar no qual podemos erguer nossas realizações. O alicerce principal está no pensamento, no objetivo a ser alcançado, enfim, na certeza do que se quer obter. A força de vontade, a dedicação e a motivação devem funcionar como elementos de sustentação, como se fossem os tijolos e o cimento da construção íntima, que, juntos, ajudarão a erguer a fortaleza de nossos sonhos.

Poder de transformação
O homem tem o poder de transformar as diretrizes de seu caminho quando acorda para a realidade de suas tarefas. Desde que mude sua mente, ele acabará com as conseqüências de um passado equivocado. Um dos objetivos da existência é a modificação dos hábitos prejudiciais e, desde que esse processo aconteça, não há mais necessidade da dor e do sofrimento. Tudo é mudança de mentalidade e de perspectiva, nada está condicionado a uma lei inexorável.
Assumir o trabalho que nos cabe é um fato do qual não se pode fugir, a responsabilidade é parte integrante de qualquer ser. Quem se esquiva ou tem medo de agir não se dispõe a viver integralmente a página da vida que acaba de virar em branco. Ninguém acelera o tempo, pode apenas adiantar ou retardar seu tempo interior. As etapas seguirão seu curso, sem que ninguém possa detê-las. Então, vale a pena ficar de braços cruzados diante de tantas possibilidades?
Quanto mais lúcido for nosso poder de gerar acontecimentos, mais poderemos manipular o próprio caminho. É por isso que devemos cultivar todas as oportunidades de aprimoramento. Quanto mais seguirmos os impulsos e gostos intuitivos, aqueles ditados pelo coração, mais desenvolveremos os dons inatos, “porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mateus 6:21).
Esforcemo-nos para garantir o aprendizado gradativo ao qual cada etapa nos conduz, lembrando que olhos distraídos não captam a paisagem. É preciso enxergar o que passa despercebido para os outros, tirar conclusões, ordenar e juntar fatos e idéias, tirar sábias lições de tudo que se passa ao redor. Entretanto, isso tudo dá trabalho, exige um comportamento e uma visão menos acomodada, trabalho de ver e pensar. Circunscrita às próprias limitações, a mente se corrompe e deteriora como água parada. É por isso que a existência apresenta desafios, pois, sem eles, perderíamos a flexibilidade.
Portanto, é indispensável pensar. Se construimos nosso destino diariamente por meio dessa mesma força mental, também podemos transformá-lo. Quando alguém toma consciência de que forja todos os fatos que lhe acontecem com o espírito, passa a prestar mais atenção aos seus atos e pensamentos.
Aqueles que estão acostumados às idéias de fatalidade questionam-se sobre a possibilidade de mudança. Enfraquecidos e desorientados, não crêem no poder de mudar seus destinos. Porém, alterando o panorama das idéias, lidando apenas com energias sutis, eles comprovarão sua infinita força. Tanto os grandes feitos como as pequenas mudanças de rumo se fazem com discernimento, ação e tempo. Mas é sempre bom lembrar: aquele que não se predispõe aos serviços pequenos não conseguirá realizar os mais altos projetos. Está naquelas tarefas mais humildes a chance de exercermos a responsabilidade e a força de vontade.
Mudar o panorama das idéias é reescrever o próprio roteiro da vida. A mente é capaz de grandes realizações caso saibamos trabalhar com nossas disposições mentais e emocionais. O pensamento constrói o destino do ser humano e nunca é tarde para analisarmos e revermos nossa postura. Somente assim seremos capazes de transformar o aspecto de nossa história e alcançar a vitória tão desejada. A conquista do equilíbrio interior e a superação dos próprios limites dependem de nós.

Artigo publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 16.
Ao reproduzir o texto, favor citar o autor e a fonte.

6 - Livre Arbítrio e Lei de Causa e Efeito



1 - Livre Arbítrio e Lei de Liberdade

Livre Arbítrio

Atingido o patamar evolutivo que permite ao Espírito integrar-se ao reino humano, conquista ele a faculdade do livre arbítrio, ou seja, passa a ter a liberdade de escolha, e torna-se, a partir de então, artífice do seu próprio destino.

Como conseqüência natural do poder escolher, temos a responsabilidade pela escolha como característica básica deste momento evolutivo. Por isso, essa faculdade só pode ser conquistada pelo ser pensante no momento em que ele se acha maduro para tal.

O livre arbítrio é sempre proporcional à condição evolutiva do ser. Nos primeiros momentos de humanidade, o Espírito quase não o tem. Está mais sujeito ao determinismo, porque não tem conhecimento nem experiência para avaliar melhor sua escolha. É como aquela criança a quem não permitimos realizar determinadas ações, por ela não conhecer ainda os perigos que corre.

Nesta fase, o Criador, em sua infinita misericórdia, permite que Espíritos mais elevados tracem-lhe o caminho a seguir, como forma de suprir-lhe a falta de experiência.

O Espírito de média evolução tem menos restrita esta faculdade. É como o jovem, que após passar pela disciplina necessária do momento infantil, tem mais possibilidades de decisão.

O Espírito evoluído é como o homem maduro em que as provações e os corretivos já formaram sua personalidade, e como conseqüência sua liberdade é maior.

“Um dia, no curso dos milênios, o nosso livre-arbítrio se harmonizará plenamente com a verdade total, com as deliberações superiores. Nesse dia saberemos executar, com fidelidade, o pensamento do Cristo, Mestre e Senhor Nosso”[1]

E aí repetiremos com Jesus, “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar sua obra” (João, 4: 34)

Lei de Liberdade

A liberdade é condição básica para que o Espírito se realize. Deus o criou de tal forma que, por natureza, ele busque sempre se libertar, mesmo que de forma inconsciente.

Essa liberdade, porém, não é absoluta, porque a necessidade que tem ele de viver em sociedade, o condiciona a respeitar determinadas normas, porque este direito é dado também a cada um de seus semelhantes.

Com isto não queremos dizer que há a necessidade de uma pessoa se sujeitar à outra por completo, isto seria contrário à lei de Deus.

A escravidão, tenha ela qualquer codinome, é e sempre foi amoral, por isso a necessidade do entendimento da verdade cristã: E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará[2], para que não escravizemos ninguém e nem sejamos escravos de nossas próprias imperfeições.

Muitas vezes a desigualdade das aptidões tem sido desculpa para o domínio dos fracos, isto porque esquecemos a Caridade Cristã, que nos define como dever, auxiliar o nosso semelhante naquilo que temos possibilidade, conforme sua necessidade.

São os Espíritos quem dizem: É contrária à lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem (...)[3]

Portanto temos que a liberdade legítima, decorre da legítima responsabilidade, não podendo triunfar sem esta.

Liberdade de Pensar - Só no pensamento, goza o homem de total liberdade.

A espontaneidade e a criatividade, como fatores espirituais que são, devem sempre estar presentes no pensamento da criatura. É por aí que o Espírito se identifica, evitando que a criatura se robotize, apenas repetindo em circuito fechado o que lhe imprimem, através dos modernos meios de massificação. Como conseqüência, a criatura é sempre responsável pelos seus pensamentos, e pela faixa mental em que se encontra.

Liberdade de Consciência - Por ser a liberdade de consciência corolário da liberdade de pensar, é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso.

“Assim como os homens, pelas suas leis, regulam as relações de homem para homem, Deus, pelas leis da natureza, regula as relações entre ele e o homem.”[4]

De acordo com a questão 621 de O Livro dos Espíritos, a Lei de Deus está gravada na consciência de cada um. Desta forma, identificamos o porquê da liberdade de consciência, e da sua progressividade à medida que a realizamos em nós.

Fatalidade e Destino - Segundo a codificação Espírita, fatalidade só pode ser entendida como um componente da lei de liberdade, isto é, quando tomamos uma certa atitude, determinamos uma conseqüência, que será boa ou má, de acordo com o conteúdo da ação.[5]

Para elucidar melhor, colhemos as seguintes considerações de André Luiz:

“Ninguém nasce destinado ao mal, porque semelhante disposição derrogaria os fundamentos do Bem Eterno sobre os quais se levanta a Obra de Deus.

O Espírito renascente no berço terrestre traz consigo a provação expiatória a que deve ser conduzido ou a tarefa redentora que ele próprio escolheu de conformidade com os débitos contraídos.

(...)Desse modo, ninguém recebe do Plano Superior a determinação de ser relapso ou vicioso, madraço ou delinqüente(…). Padecemos, sim, nesse ou naquele setor da vida, durante a recapitulação de nossas próprias experiências, o impulso de enveredar por esse ou aquele caminho menos digno, mas isso constitui a influência de nosso passado em nós, instilando-nos a tentação, originariamente toda nossa, de tornar a ser o que já fomos, em contraposição ao que devemos ser.”[6]

A esse mecanismo denominamos “Lei de Causa e Efeito”, e estudaremos suas particularidades, a seguir.

2 - Lei de Causa e Efeito

Isaac Newton foi, sem dúvida, um dos maiores expoentes do mundo científico: grande matemático, exímio físico e destacado astrônomo, revolucionou sua época com inúmeras descobertas. Em uma delas, denominada a terceira lei de Newton, diz o seguinte: a toda ação corresponde uma reação, de igual intensidade e de sentido contrário.

No campo físico, podemos comprová-la inúmeras vezes. Só para exemplificar, vejamos:

O empuxo fornecido pelos motores a jato, nada mais é do que a reação dos gases que são expelidos em alta velocidade (ação). Observemos nesse exemplo os sentidos das duas forças, ação e reação, sempre contrárias.

Quando o esportista praticante do “tiro ao alvo” experimenta o “coice” ao dar um tiro, aí identificamos igualmente a lei de ação e reação.

No campo espiritual, essa lei determina o equilíbrio de toda a criação.

Deus é amor, não existe nada fora de Deus, portanto deduzimos que não existe nada fora do amor. O que é contrário à lei de Deus, na realidade não existe de forma absoluta; podemos afirmar que o seu existir tem caráter simplesmente transitório.

Ao atuarmos de acordo com a lei do Criador, entramos em Seu campo vibratório, e passamos a desfrutar da nossa herança, que é a vida em toda sua plenitude. “Eu vim para que tenham vida…” nos disse Jesus, e complementa: “…e a tenham com abundância.”[7]

Quando com nossas ações contrariamos a Lei, na realidade não desequilibramos nada a não ser nós mesmos. Vejamos que as criaturas vivem em desequilíbrio, mas apesar de tudo, o mesmo não acontece com a Criação, que é sempre equilibrada. Isto é devido à atuação da lei de causa e efeito, que age na intimidade da criação.

Ao escolher, o homem, fazendo uso de seu livre arbítrio, o caminho do erro, determina em si uma ação de igual intensidade e em direção contrária, que anula no mesmo instante o desequilíbrio no geral, ficando somente a anomalia em sua própria intimidade, até que pela lei do retorno volte ele ao equilíbrio refazendo o caminho percorrido em sentido contrário, e entrando novamente no campo de ação determinado pelo Amor.

Esse voltar à Lei, pode ser mais ou menos rápido, de acordo com a conscientização da criatura, e a sua vontade de corrigir o erro. Assim temos Espíritos que se arrependem rapidamente, e consertam o passo; outros insistem na rebeldia, e vão gerando erros em cima de erros, demorando séculos e mais séculos no resgate dos mesmos.

Segundo André Luiz, o centro coronário, atuando como um diretor em relação aos outros, é o órgão responsável pela implementação desta lei no Espírito:

“(…) Dele parte, desse modo, a corrente de energia vitalizante formada de estímulos espirituais com ação difusível sobre a matéria mental que o envolve, transmitindo aos demais centros da alma  os reflexos vivos de nossos sentimentos, idéias e ações, tanto quanto esses mesmos centros, interdependentes entre si, imprimem semelhantes  reflexos nos órgãos e demais implementos de nossa constituição particular, plasmando em nós próprios os efeitos agradáveis ou desagradáveis de nossa influência e conduta.

A mente elabora as criações que lhe fluem da vontade, apropriando-se dos elementos que a circundam, e o centro coronário incumbe-se automaticamente  de fixar a natureza da responsabilidade que lhes diga respeito, marcando no próprio ser as conseqüências felizes ou infelizes de sua movimentação consciencial no campo do destino.” [8]

Como se vê, o homem só é verdadeiramente livre antes de pensar ou de agir, porque a partir do instante em que já emitiu uma ação em determinada direção, fica condicionado a um retorno, que mais cedo ou mais tarde se manifestará.

A lei de causa e efeito tem por objetivo o bem da criatura. Ela não tem, como muitos pensam, um caráter punitivo, mas sim uma ação educadora, no sentido de fazer o ser reconhecer o seu erro, e indicar-lhe o caminho mais curto do acerto. Quando o apóstolo Pedro, diz em sua epístola: “O amor cobre a multidão de pecados”[9], quer nos ensinar que não é preciso sofrer para resgatarmos uma “dívida”, mas através da vivenciação do amor, podemos atingir o mesmo alvo de uma forma mais ampla e sem dor. Isto porque, como já dissemos, o objetivo da lei de causa e efeito, não é punir. Se pela vivenciação dos ensinamentos cristãos, o ser se redime, então não é preciso sofrer.

Vimos então que a ação da lei, do ponto de vista espiritual, não tem uma forma absoluta de se manifestar. Pode o homem pelo seu livre arbítrio acrescentar novas forças no sentido de abrandá-la ou de agravá-la.

Para melhor entendimento do assunto, sugerimos a análise de dois casos em que esta lei atua.

O primeiro fala sobre a possibilidade de abrandamento da lei, quando o elemento “amor” atua.

“Saturnino Pereira sofre um acidente na fábrica onde trabalha, vindo a perder o polegar direito. Seus colegas e amigos comentam a injustiça da ocorrência, dada a grande dedicação de Saturnino ao bem de todos. Comparecendo à reunião mediúnica em que colabora regularmente, um benfeitor espiritual espontaneamente lhe esclarece que, em existência anterior, foi poderoso sitiante que, num momento de crueldade, puniu barbaramente um pobre escravo, moendo-lhe o braço direito no engenho. Com o despertar de sua consciência, atrozes remorsos torturam-no no além túmulo. Deliberou então impor-se rigoroso aprendizado, programando um acidente para futura encarnação, na qual perderia o braço. No entanto, sua renovação para o bem, testemunhada por suas ações, possibilitou que o acidente apenas lhe ocasionasse a perda de um dedo.[10]

No segundo, vemos a lei atuando de maneira mais rigorosa:

André Luiz estudava, junto de amigos no plano espiritual, o caso de Laudemira, uma irmã que padecia muitas dificuldades no instante de dar à luz um filho muito importante para o seu processo evolutivo.

Envolta que estava por fluidos anestesiantes que lhe eram desfechados por perseguidores do plano invisível, durante o sono, tinha a vida uterina prejudicada por extrema apatia. Como conseqüência, talvez fosse necessária a intervenção cirúrgica. Mas a cesariana neste caso não seria aconselhável, porque a prejudicaria outras gravidezes que iriam se fazer necessárias.

Imbuídos que estavam de estudar os mecanismos da lei de causa e efeito, foi permitido a eles informação sobre o passado de nossa irmã, conforme veremos a seguir:

“(…) As penas de Laudemira, na atualidade, resultam de pesados débitos por ela contraídos, há pouco mais de cinco séculos. Dama de elevada situação hierárquica na corte de Joana II, Rainha de Nápoles, de 1414 a 1435, possuía dois irmãos  que lhe apoiavam todos os planos loucos de vaidade e domínio. Casou-se, mas sentindo na presença do marido um entrave ao desdobramento das leviandades que lhe marcavam o caráter, acabou constrangendo-o a enfrentar o punhal dos favoritos, arrastando-o para a morte. Viúva e dona de bens consideráveis, cresceu em prestígio, por haver favorecido o casamento da rainha, então viúva de Guilherme, Duque da Áustria, com Jaime de Bourbon, Conde de la Marche. Desde aí, mais intimamente associada às aventuras de sua soberana, confiou-se a prazeres e dissipações, nos quais perturbou a conduta de muitos homens de bem, e arruinou as construções domésticas, elevadas e dignas, de várias mulheres do seu tempo. Menosprezou sagradas oportunidades de educação e beneficência que lhe foram concedidas pela Bondade Celeste, aproveitando-se da nobreza precária para desvairar-se na irreflexão e no crime. Foi assim que ao desencarnar, no fastígio da opulência material nos meados do século XV, desceu a medonhas profundezas infernais, onde padeceu o assédio de ferozes inimigos que não lhe perdoaram os delitos e deserções. Sofreu por mais de cem anos consecutivos nas trevas densas, conservando a mente parada nas ilusões que lhe eram próprias, voltando à carne por quatro vezes sucessivas, por intercessão de amigos do Plano Superior, em cruciantes problemas expiatórios, no decurso dos quais, na condição de mulher, embora abraçando novos compromissos, experimentou pavorosos vexames e humilhações da parte dos homens sem escrúpulos que lhe asfixiavam todos os sonhos (…)”[11]

Hilário, amigo de André nesses estudos, perguntou ao instrutor, se de cada vez que se retirava da carne, nessas quatro existências, Laudemira continuava ligada às sombras. Ele responde que sim:

“Ela naturalmente entrava pela porta do túmulo e saía pela porta do berço, transportando consigo desajustes interiores que não podia sanar de momento para outro.  E continua (…) Nossa irmã, com o amparo de abnegados companheiros, voltou ao pagamento parcelado das suas dívidas (…)”[12]

Silas, o instrutor de nossos amigos na espiritualidade, informa ainda que estava previsto para ela receber nesta encarnação outros filhos:

“(…) Deve agora receber cinco de seus antigos cúmplices na queda moral, para reergue-lhes os sentimentos, na direção da luz, em abençoado e longo sacerdócio materno.” E complementa “Do seu êxito no presente, dependerão as facilidades que espera recolher do futuro, para a liberação definitiva das sombras que ainda ofuscam o Espírito, pois, se conseguir formar cinco almas na escola do bem, terá conquistado enorme prêmio, diante da Lei amorosa e justa.”

Concluindo então, temos que a lei de causa e efeito é um artifício da Misericórdia Divina para nos fazer retornar às origens, ou seja, ao Amor.

3 - Influência do Meio e Livre Arbítrio

É preocupação de todos os tempos, a questão da influência do meio na formação do caráter do homem. Filósofos chegaram a afirmar ser o homem produto do meio. O Espiritismo, em seu caráter filosófico, também tem neste questionamento muita contribuição para dar, e ainda vai além, porque estuda não só a influência do meio, mas também do organismo, na manifestação do Espírito.

São os próprios Espíritos quem nos afirmam:

“É inegável que sobre o Espírito exerce influência a matéria (…). Daí vem que, nos mundos onde os corpos são menos materiais do que na Terra, as faculdades se desdobram mais livremente. Porém, o instrumento não dá a faculdade (…) Tendo o homem instinto do assassínio, seu próprio Espírito é, indubitavelmente, quem possui esse instinto e quem lho dá; não são seus órgãos que lho dão.”[13]

“A matéria é apenas o envoltório do Espírito, como o vestuário o é do corpo. Unindo-se a este, o Espírito conserva os atributos da natureza espiritual.”[14]

Com isso temos que realmente tanto a matéria como o meio podem dificultar ou auxiliar no desenvolvimento espiritual, mas jamais determinar a situação de queda ou de elevação.

Tanto o meio como o corpo são atributos conquistados pela própria evolução espiritual. Na verdade, é o Espírito quem determina, pelas suas vinculações, o corpo ou o meio em que irá renascer. Se fosse impossível subtrair-lhe a sua influência, como conseguiria ele o progresso?

Temos também o caso em que o corpo ajuda ao Espírito, porque o esconde de seus inimigos. É comum vermos histórias de Espíritos que retornaram ao corpo físico como forma de esconder de seus obsessores. Outras vezes o corpo nos livra de situações embaraçosas da lei de atração: no estado de vigília superamos determinada tendência, mas quando no estado de desprendimento do perispírito, através do sono, nos achamos diante desta mesma tendência, não conseguimos nos livrar de sua influência. Neste caso, o corpo funciona como defesa.

O livre arbítrio é sempre o que fala mais alto. Sem ele, qual o mérito ou demérito do Ser em processo de evolução?

O que o homem procura é justificar seus erros através da má interpretação do texto evangélico, quando Jesus nos afirma: “Na verdade o Espírito está pronto, mas a carne é fraca.”[15]. O que Jesus quis dizer é que temos que nos vigiar, porque todas as vezes que nos deixamos levar pelos interesses imediatistas (da carne), entramos em processo de queda, ou seja, fraquejamos.

“Segundo a doutrina vulgar, de si mesmo tiraria o homem todos os seus instintos, que, então proviriam, ou da sua organização física, pela qual nenhuma responsabilidade lhe toca, ou da sua própria natureza, caso em que lícito lhe fora procurar desculpar-se consigo mesmo, dizendo não lhe pertencer a culpa de ser feito como é. Muito mais moral se mostra, indiscutivelmente, a Doutrina Espírita. Ela admite no homem o livre arbítrio em toda a sua plenitude e, se lhe diz que, praticando o mal, ele cede a uma sugestão estranha e má, em nada lhe diminui a responsabilidade (…) Assim de acordo com a Doutrina Espírita, não há arrastamento irresistível: o homem pode sempre cerrar ouvidos à voz oculta que lhe fala no íntimo, induzindo-o ao mal (…)”[16]

Para melhor entendimento do mecanismo de vigilância, que se faz necessário para o bom desenvolvimento de nosso evoluir, sugerimos o estudo do capítulos I e II do livro Pensamento e Vida do nosso bondoso Espírito Emmanuel.

Ele mostra a questão nos seguintes moldes:

“O reflexo esboça a emotividade.

 A emotividade plasma a idéia.

 A idéia determina a atitude e a palavra que comanda as ações.”[17]

No capítulo seguinte temos:

“Comparando a mente humana a um grande escritório, subdividido em diversas seções de serviço, temos aí o departamento do Desejo, em que operam os propósitos e as aspirações”.[18]

Relacionando o ensinamento deste capítulo com o anterior, temos o desejo como gerador da idéia (pensamento), sendo esta determinadora da ação.

Assim temos:

DESEJO  Þ    PENSAMENTO  Þ    AÇÃO

Portanto, moralizemos nosso desejo, e moralizaremos nossas ações.

Mas como moralizar nossos desejos, se eles são frutos da nossa longa experiência reencarnatória?

Segundo Emmanuel, neste mesmo capítulo, temos na mente os departamentos do desejo, da inteligência, da imaginação, da memória, mas “acima de todos eles, porém, surge o Gabinete da Vontade”.

E prossegue:

“A Vontade é a gerência esclarecida e vigilante, governando todos os setores da ação mental (…)

(…) A eletricidade é energia dinâmica.

O magnetismo é energia estática.

O pensamento é força eletromagnética.

Pensamento, eletricidade e magnetismo conjugam-se em todas as manifestações da Vida Universal, criando gravitação e afinidade, assimilação e desassimilação, nos campos múltiplos da forma que servem à romagem do espírito para as Metas Supremas, traçadas pelo Plano Divino.

A vontade, contudo, é o impacto determinante.

Nela dispomos do botão poderoso que decide o movimento ou a inércia da máquina.”

Portanto, podemos dizer que o Espírito é forte o suficiente para vencer as dificuldades impostas pelo meio, e pelo organismo. Para isso basta usar a força chamada: vontade.

4 - Tudo me é lícito, mas nem tudo edifica

É muito comum no meio espírita a pergunta: O Espiritismo proíbe “isso”? e “aquilo”? Será que podemos fazer esta “coisa”?

Para respondê-la, lembramos da instrução do apóstolo Paulo, em sua 1a epístola aos Coríntios: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.” [19]

Ao analisar esta proposição formulada pelo “Apóstolo dos Gentios”, devemos nos situar no significado da palavra lícito.

Segundo o dicionário Aurélio, “lícito” “é tudo que é conforme a lei, tudo que é legal”.

Normalmente, quando fazemos ou tentamos responder esta pergunta, não estamos preocupados com as coisas humanas. Estas nós sabemos como conduzir. A preocupação normalmente é com as questões espirituais. Com isso entendemos que esta pergunta deveria ser formulada assim:

“- De acordo com as leis divinas podemos fazer isto? E aquilo?”

E a resposta seria: É lícito perante as leis divinas? Se a resposta for afirmativa, então, é; de outro modo, não.

Essa forma de pensar parece que contradiz a afirmativa de Paulo, porque ele diz que todas as coisas são lícitas. Em nosso modo de compreender Paulo não pensava na lei divina ao usar a palavra lícita, mas pensou ao dizer: “mas nem todas as coisas convêm”, “nem todas as coisas edificam”. E tudo isso é bastante coerente com outro ensinamento de sua autoria: “Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.[20]”
Sabemos que a lei divina é revelada aos homens na medida da condição evolutiva de cada um, isto nos leva a raciocinar que de acordo com esta condição evolutiva da criatura é que ela vai analisar o que é justo ou não.

A Doutrina Espírita não proíbe nada, um dos seus princípios básicos é o “livre arbítrio” (todas as coisas são lícitas), assim sendo ela não é proibitiva, mas é educativa, no sentido de mostrar a verdade, e ensinar o caminho para conseguí-la (mas nem todas as coisas edificam).

O apóstolo, com este seu ensinamento, mostra sua capacidade de síntese e consegue fechar todo o tema que ora estudamos: “Livre Arbítrio e Causa e Efeito”. Com a afirmação de que “tudo me é lícito”, ele mostra o livre arbítrio, mas é taxativo ao afirmar: “nem todas as coisas edificam”, ou seja, nem todas as coisas nos conduzem para o caminho do Senhor, e é aí que a lei de causa e efeito atua de maneira a fazer voltar o ser à direção correta.

Outra coisa a ser analisada é qual o nosso objetivo diante da vida. Ela nos oferece muitos prazeres de caráter transitório, mas se o nosso objetivo maior é a nossa evolução espiritual, temos que buscar algo mais duradouro: o tesouro que o ladrão não rouba, nem a traça corrói[21].

Quando Jesus conversava com as irmãs de Lázaro, deixou um grande ensinamento: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a melhor parte, a qual não lhe será tirada.[22]

Portanto quando estivermos em dúvida sobre qual o caminho a seguir, usemos o nosso discernimento, e busquemos pensar se não estamos trocando:

“O divino, pelo humano

O transcendente, pelo rotineiro

O que redime, pelo que cristaliza

O espiritual, pelo material

Os prazeres do Céu, pelas alegrias da Terra”[23]

E lembremos sempre o que Ele, que é o Mestre dos mestres nos disse: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim.”[24]

[1] PERALVA, Martins. Estudando o Evangelho. 6a Ed., Rio de Janeiro, FEB, 1992..cap. 30
[2] João, 8: 32
[3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1980, questão 829
[4]  (KARDEC 1980), questão 836
[5]  (KARDEC 1980), questão 851
[6]XAVIER, Francisco C./ Vieira, Waldo/Luiz, André. Evolução em Dois Mundos, 13a Ed., RJ, FEB, 1993,  2a parte cap XVIII

[7] João, 10:10
[8]  (XAVIER/Waldo Vieira/André Luiz, 1993), 1a parte, cap. II
[9] I Pedro, 4: 8
[10] XAVIER, Francisco C./Hilário Silva.  A vida Escreve, Rio de Janeiro, FEB, 1960, II Parte, cap XX
[11] XAVIER, Francisco C./André Luiz. Ação e Reação, 6a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1978, cap. 10
[12] Idem, ibidem
[13]  (KARDEC 1980), questão 846
[14]  (KARDEC 1980), questão367
[15] Mateus, 26: 41
[16]  (KARDEC 1980), questão 872
[17] XAVIER, Francisco C./Emmanuel (Espírito). Pensamento e Vida, 9a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991, cap. I
[18] Idem, ibidem, cap. II
[19] I Coríntios, 10:23
[20] Romanos, 2: 12
[21] Cf. Mateus, 6: 19 e 20
[22] Lucas, 10: 41
[23] (PERALVA 1992), cap. 48
[24] João, 14:6

"O espiritismo e o Livre Arbítrio".

Um dos problemas que mais preocuparam os filósofos e os teólogos é o do livre arbítrio: conciliar a vontade e a liberdade do homem com o fatalismo das leis naturais e com a vontade divina, parecia tanto mais difícil quanto um cego acaso parecia pesar, aos olhos de muitos, sobre o destino humano. O ensinamento dos espíritos esclareceu o problema: a fatalidade aparente que semeia de males o caminho da vida, não é mais que a conseqüência lógica do nosso passado, um efeito que se refere a uma causa, é o cumprimento do destino por nós mesmos aceito antes de renascer, e que nossos guias espirituais nos sugerem para nosso bem e nossa elevação.

Nas camadas inferiores da criação, o ser não tem ainda consciência; apenas a fatalidade do instinto o impele, e não é senão nos tipos superiores da animalidade que surgem, timidamente, os primeiros sintomas das faculdades humanas. A alma, jungida ao ciclo humano, desperta para a liberdade moral, o juízo e a consciência desenvolvem-se cada vez mais no curso de sua imensa parábola: colocada entre o bem e o mal, ela faz o confronto e escolhe livremente, tornada sábia pelas quedas e pela dor; e na prova, sua experiência forma-se e sua força mental se afirma.

A alma humana, livre e consciente, não pode mais recair na vida inferior: suas encarnações sucedem-se na dos mundos, até que, ao fim de seu longo trabalho, tenha conquistado a sabedoria, a ciência e o amor, cuja posse a emancipará para sempre das encarnações e da morte, abrindo-lhe a porta da vida celeste.

A alma alcança seus destinos, prepara suas alegrias ou dores, exercendo sua liberdade, porém, no curso de sua jornada, na prova amarga e na ardente luta das paixões, a ajuda superior não lhe será negada e, se ela mesma não a afasta, por parecer indigna dela, quando a vontade se afirma para retomar o caminho do bem, o bom caminho, a providência intervém e propicia-lhe ajuda e apoio, Providência é o espírito superior, o anjo que vigia na desventura, o Consolador invisível cujas inspirações aquecem o coração enregelado pelo desespero, cujos fluidos vivificadores fortalecem o peregrino cansado; providência é o farol aceso na noite para salvação daqueles que erram no oceano proceloso da existência; providência é, ainda e sobretudo, o amor divino que se derrama sobre suas criaturas. E quanta solicitude, quanta previdência neste amor. Não suspendeu os mundos no espaço, acendeu os sois, formou os continentes, os mares, para servir de teatro à alma, de campo aos seus progressos? Esta grande obra de criação cumpre-se somente para a alma, para ela combinam-se as forças naturais, os mundos deixam as nebulosas.



A alma é nascida para o bem, mas para que ela possa apreciá-lo na justa medida, para que possa conhecer-lhe todo o valor, deve conquistá-lo desenvolvendo livremente as próprias potencialidades: a liberdade de ação e a responsabilidade aumentam com sua elevação, pois quanto mais ela se ilumina mais pode e deve conformar a sua obra pessoal às leis que regem o universo.

A liberdade do ser é exercida, pois, em um círculo limitado, parte pelas exigências da lei natural que não sobre violações ou desordens neste mundo, parte pelo passado do próprio ser, cujas conseqüências se refletem sobre ele através dos tempos, até a completa reparação.

Assim o exercício da liberdade humana não pode obstar, em caso algum, a execução do plano divino, sem o que a ordem das coisas seria continuamente perturbada: acima de nossas vistas limitadas e variáveis, permanece e continua a ordem imutável do universo. Somos quase sempre maus juizes daquilo que é nosso verdadeiro bem; se a ordem natural das coisas devesse dobrar-se aos nossos desejos, que espantosas perturbações não resultariam disto?

A primeira coisa que o homem faria, se possuísse liberdade absoluta, seria afastar de si todas as causas de sofrimento, e assegurar para si uma vida plena de felicidade: ora, se existem males que a inteligência humana tem o dever e os meios de conjurar e destruir, como os que provêm do ambiente terrestre, outros existem que são inerentes à nossa natureza, como os vícios, que somente a dor e a repressão podem domar.

Neste caso a dor torna-se uma escola, ou antes, um remédio indispensável, pelo qual as provas são apenas uma repartição equânime da infalível justiça: é por ignorar os fins desejados por Deus, que nos tornamos rebeldes à ordem do mundo e às suas leis, e se elas são suscetíveis de nossas críticas, é apenas porque ignoramos o seu oculto poder.

O destino é conseqüência de nossos atos e de nossas livres resoluções: no suceder-se das existências, na vida espiritual, mais esclarecidos sobre nossas imperfeições e preocupações com os meios de eliminá-las, aceitamos a vida material sob a forma e nas condições que nos parecem adequadas a atingir esta finalidade. Os fenômenos do hipnotismo e da sugestão mental explicam-nos o que acontece em tais casos, sob a influência de nossos protetores espirituais; no estado de sonambulismo, a alma empenha-se a realizar uma certa ação em certo momento, por sugestão do magnetizador, e, despertada, sem recordar aparentemente a promessa, executa com exatidão o ato imposto. Assim o homem não conserva lembrança das resoluções que tomou antes de renascer, mas, chegada a hora, afronta os acontecimentos previstos, e participa deles na medida necessária ao seu progresso, ou ao cumprimento da lei inexorável.

Livro: Depois da Morte

O Livre Arbítrio


Inaldo Lacerda Lima
Que é o livre-arbítrio? Abrindo “O Livro dos Espíritos”, vamos encontrar no Capítulo X - Da Lei de Liberdade -, 3ª Parte da obra, oito questões relacionadas com o assunto livre-arbítrio (Questões 843 a 850), nas quais os Espíritos superiores instruem-nos a respeito.
Logo na Questão 843, indaga o Codificador se o homem tem o livre-arbítrio de seus atos. E os Espíritos respondem que se tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar, porquanto, sem o livre-arbítrio ele seria máquina.
Em resposta à Questão 845, os Espíritos afirmam que conforme se trate de Espírito mais ou menos adiantado, as predisposições instintivas podem arrastá-lo a atos repreensíveis, porém não existe arrastamento irresistível.
Basta que o Espírito (encarnado ou desencarnado), sendo consciente do mal a que esteja ou se sinta arrastado, utilize a vontade no sentido de a ele resistir.
Verificamos, no contexto geral das Questões acima referidas, que não há desculpa óbvia para o mal que o homem venha a praticar, uma vez que ele, por mais imperfeito que seja, tem a consciência do ato que pratica - se é bom ou se é mau.
O livre-arbítrio é uma faculdade indispensável ao ser humano, não nos resta qualquer dúvida, pois, sem ele, já foi dito, o ser espiritual seria simples máquina ou robô, sem qualquer responsabilidade dos atos que viesse a praticar.
É justamente a faculdade do livre-arbítrio que empresta ao homem certa semelhança com o Pai soberano do Universo. E constitui desiderato pleno desse Pai magnânimo que os Espíritos, seus filhos, cresçam para a glória eterna, iluminando-se na prática da sabedoria e do bem.
A prática do mal pelo Espírito, encarnado ou desencarnado, não tem qualquer justificativa porque ele sabe quando obra indevidamente. Caim, no exemplo bíblico, ao matar Abel, tinha plena consciência do que fazia tanto que o fez às escondidas. O que faltou a Caim foi a compreensão de que nada há oculto aos olhos de Deus!
Pode-se, verdadeiramente, lesar os homens, pode-se até mesmo lesar-se a si próprio, mas nunca lesará alguém a magnânima justiça de Deus.
Esclarece-nos a Revelação da Revelação, ou “Os Quatro Evangelhos”, que o Espírito antes de encarnar toma resoluções quanto ao gênero das provações, quanto à extensão e ao termo delas, até mesmo quanto à duração da existência bem como quanto aos atos que praticará durante a mesma, no entanto, o emprego, o uso ou o abuso que ele faz da vida terrena muitas vezes o impedem de atingir o limite e o bom cumprimento daquela resolução (1º Volume, pág. 139, 7ª edição FEB).
No caso enfocado, o Espírito teve o livre-arbítrio de programar o que seria a sua encarnação, no entanto, em função do próprio livre-arbítrio, por usá-lo mal ou dele abusar, estragou um bom programa de vida. Há, porém, aqueles que procuram justificar-se com fundamento no esquecimento produzido pelo véu da carne.
Os Espíritos, todavia, em resposta à Questão 392 de “O Livro dos Espíritos”, explicam que “não pode o homem, nem deve, saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro para o claro.” E concluem: “Esquecido de seu passado ele é mais senhor de si.”
Vejamos, por exemplo, uma situação em que determinado indivíduo houvesse sido homicida em sua última encarnação e tivesse programado para a atual existência a quitação desse delito. Não obstante a desnecessidade de desencarnar assassinado, ele não teria paz até o dia de seu retorno à vida espírita. Estaria sempre sobressaltado e na expectativa da presença de alguém que lhe viesse subtrair a vida física, se recordasse sua transgressão anterior.
O esquecimento do passado é necessário, misericordioso, e justifica perfeitamente a prova ou provas a que todos estamos naturalmente submetidos, pois essa é uma das funções da vida corporal.
Sentimos a importância do livre-arbítrio quando somos levados a tomar decisões que incomodam a consciência... Isto significa quanto o Pai celestial é bom, nos ama e se preocupa com o nosso progresso. Concede-nos o livre-arbítrio, mas concede-nos igualmente a consciência, espécie de censor natural, que nos alerta quando dele pretendemos abusar.
A propósito queremos fazer um paralelo entre duas informações ou elucidações em torno do livre-arbítrio e as conseqüências de sua errônea utilização. Uma se encontra em “Os Quatro Evangelhos” ou Revelação da Revelação (lº Vol. pág. 299, 7ª edição FEB), nos seguintes termos:
“Esses Espíritos presunçosos e revoltados, cuja queda os leva às condições mais materiais da Humanidade, são então humanizados, isto é, para serem domados e progredirem sob a opressão da carne, encarnam em mundos primitivos, ainda virgens do aparecimento do homem, mas preparados e prontos para essas encarnações (grifos da obra).
A outra se encontra em “O Evangelho segundo o Espiritismo” (Capítulo III, Item 16, edição FEB), nos termos seguintes:
“Já se vos há falado de mundos onde a alma recém-nascida é colocada, quando ainda ignorante do bem e do mal, mas com a possibilidade de caminhar para Deus, senhora de si mesma, na posse do livre-arbítrio. Já também se vos revelou de que amplas faculdades é dotada a alma para praticar o bem. Mas, ah! Há as que sucumbem, e Deus, que não as quer aniquiladas, lhes permite irem para esses mundos onde, de encarnação em encarnação, elas se depuram, regeneram e voltam dignas da glória que lhes fora destinada.”
Em ambas as elucidações, vê-se que o livre-arbítrio é um dom de que o Espírito pode abusar, mas terá sempre de enfrentar as conseqüências desse abuso, sofrendo encarnações destinadas a purificá-lo, transformá-lo, regenerá-lo, o que não deixa de ser pena de efeito verdadeiramente misericordioso.
Os itens 16 e 17 desse capítulo de “O Evangelho segundo o Espiritismo” são constituídos de uma mensagem de Santo Agostinho, que deve ser lida atenciosamente pelo espírita estudioso. Pois a questão livre-arbítrio confunde bastante aqueles que a conhecem apenas superficialmente, literariamente, sem analisar-lhe a profundidade científico-filosófica.
Há, ainda, aqueles que confundem livre-arbítrio com direito, quando são duas coisas diferentes. No livre-arbítrio temos uma ação voluntariosa de escolha entre alternativas diferentes em que o ator é responsável pelas conseqüências do seu ato. Na ciência do direito a responsabilidade do ato praticado decorre da lei humana.
A Doutrina Espírita exerce, portanto, considerável papel em sua função de Consolador prometido pelo Cristo de Deus: o de alertar as almas que atingiram determinado degrau da escala evolutiva, em que a alegação de ignorância já não atenua determinados erros cometidos em função do livre-arbítrio. No que diz respeito aos habitantes de um mundo em vias de mudança para estágio de regeneração, vale acentuar ainda, conforme vimos acima, a função da consciência como faculdade de alertamento no processo optativo das alternativas para a ação.
A Doutrina está no mundo para todos. Ela não pertence aos espiritistas. Enviou-a Jesus à Humanidade. Os espiritistas somos apenas seus instrumentos de exemplificação e divulgação sem qualquer outro “privilégio” além da consciência do livre-arbítrio.
Reformador nº 1984 – Julho/1994

SOFRIMENTO HUMANO DE BUDA A CRISTO



Publicado por Marcio-geec em 11/8/2006 (649 leituras)
Helaine Ciqueto


“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça,
porque serão saciados.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça,
porque o reino dos céus é para eles.”
(Mateus, cap. V, v. 6 e 10)

“BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS”
Cap. V Do Evangelho Segundo Espiritismo

Siddhartha Gautama, o Buda, nasceu no século VI a.C., no sopé do Himalaia, hoje o território do atual Nepal. Era filho do rei, e logo após seu nascimento, os sacerdotes do Templo identificaram em seu corpo os sinais de um grande homem, que libertaria a humanidade dos sofrimentos.

Aos dezesseis anos casou-se e teve apenas um filho. Em torno dos trinta anos resolveu empreender passeios sucessivos fora do Palácio onde vivia. E foi surpreendido por uma realidade que não conhecia.

Seus olhos se detiveram na figura de um velho trêmulo e enrugado, e assustado perguntou ao cocheiro o que era aquilo. O cocheiro lhe respondeu que era a vida, que todos passariam pela velhice, se não morressem jovens. Não sabia ele nada sobre a morte e nem sobre a doença, e sofreu um grande abalo ao constatar que o homem está invariavelmente sujeito a essas misérias.

Ao encontrar um monge mendicante, magérrimo e em farrapos, observou, que apesar da miséria e fome, tinha um olhar sereno, e conclui que há uma saída que conduz à libertação de todo o sofrimento humano.

Regressou, então, ao palácio e informou a seu pai sobre sua disposição de abandonar tudo e seguir um grupo de eremitas brâmanes, em busca da certeza e do absoluto que dessem um sentido à vida.

Tornou-se um asceta, seguidor de uma seita religiosa severa e extremista. Passou então, seis anos, entregando-se a jejuns e penitências mortificadoras. A lenda conta que, nessa época, alimentava-se com apenas um grão de arroz por dia.

Ao fim desse período, já totalmente esquelético, no limite de suas forças, compreendeu que o enfraquecimento do corpo e das faculdades espirituais não o levariam à libertação e à compreensão da Vida e que tanto as privações, bem como a satisfação dos prazeres mundanos não elevariam ninguém.

Renunciou o ascetismo e reequilibrou seus hábitos. Aos 36 anos teve um momento de Iluminação ao reconhecer no mal, a causa de todos os sofrimentos e vislumbrou os meios pelos quais poderia triunfar sobre eles, como por exemplo: o refreamento das tendências egoísticas e dos desejos que perturbam a mente de todo ser humano.

Seguiram-se 40 anos de intermináveis peregrinações e pregações de Buda e de seus discípulos, que foram se espalhando pela Índia.

Morreu aos 80 anos e não deixou nada escrito.

Tanto antes de Buda, como após ele, a humanidade foi alavancada (ou premiada) por inúmeros “Avatares”, que através dos tempos foram ensinando a humanidade, principalmente através de seus exemplos de vida, a progredir e a superar as dificuldades e os sofrimentos, em uma ascendente, mas lenta, evolução.

O sofrimento humano é inevitável pela própria condição planetária. Ex.: a velhice, que implica no desgaste orgânico, energético; a viuvez, a porcentagem do casal desencarnar junto é mínima, às vezes se separa bem antes de enviuvar.

Aquele que não aceita a condição do planeta de provas e expiações, sofrerá dobrado: sofre pelo sofrimento.

É sobre a falta de resignação que trata o Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo citado. O estudo da Doutrina Espírita e de seus princípios nos auxilia a conquistar essa virtude, através do conhecimento de quem somos de onde viemos e para onde vamos.

A humanidade em geral, sofre também, pela impermanência e pelos condicionamentos.

Esse tipo de sofrimento se baseia no fato do ser humano estar sempre ávido pela fruição de prazeres transitórios e se esquece que, tudo que se refere à matéria e ao corpo, passará.

As pessoas não se contêm na satisfação de seus desejos, se desesperam em conquistar bens transitórios. Há uma ânsia generalizada que as impulsiona a desejar mais e mais, para satisfazer a necessidades nem sempre explicáveis. São desejos materiais que não são permanentes, variam e crescem a cada dia. Ex.: Quem casa quer casa , depois quer casa maior, depois quer sítio, depois casa na praia, carro, dois carros.

Vê-se pessoas queixando-se constantemente dos preços ao invés de adaptarem seus gastos e suas necessidades aos seus proventos. Apegam-se a coisas que vão passar, que não são permanentes e sofrem pelos condicionamentos a que se sujeitam, como títulos, beleza, posição, e até sexo (pessoas que não aceitam ser homem ou mulher, pai ou mãe, etc.)

É a falta de ajuste, adequação ao novo momento reencarnatório, o problema de ser e o de estar: não sou homem, estou homem, na verdade sou um espírito.

Outros se empenham compulsivamente na satisfação de prazeres efêmeros e se comprometem por várias existências por não conseguirem abdicar dessa dependência. Ex.: cigarro, álcool, drogas, sexo desenfreado. É o sofrimento pela incontinência, não conseguem se conter diante de seus próprios desejos.

É preciso se questionar quais as causas da aflição, para evitar ser vítima de si mesmo.

Em tempos remotos, jogava-se a culpa das aflições e sofrimentos nos deuses. Evitava-se deixar um deus irado, pois ele podia se revoltar e causar transtornos à pessoa. Posteriormente, começamos a culpar o nosso semelhante mais próximo por nossas ”dores e desgraças”. Ex.: Bebo por causa de minha mulher, ela é perfeita demais; estou nas drogas por causa de meus pais, eles são quadrados e não me entendem, etc..

É fundamental detectar a causa de nossos sofrimento dentro de nós mesmos. Enquanto continuarmos acusando o próximo por nossa infelicidade, não cresceremos, não amadureceremos.

DEUS é tão bom, que colocou a solução para nossos problemas em nós mesmos, assim temos alcance para solucionarmos todos eles. Se a culpa fosse dos outros, não teríamos todas essas possibilidades de solução, pois estaríamos na dependência dos outros, quererem ou não nos ajudar.

Depois de conscientizados de que a causa de nossas aflições está em nós mesmos, precisamos entender que elas se originam de duas fontes: umas têm causa na vida presente e outras, fora dela.

A maioria dos males terrestres são conseqüência natural do caráter e da conduta daqueles que os suportam.

A maior parte são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!

“A falta de ordem, de perseverança, de limite em
seus desejos, a má conduta arruinam qualquer pessoa.”
(Evangelho/Item 4 - Cap. V)

Muitas vezes há males que parecem nos atingir por fatalidade, sem causa aparente, mas não podemos nos esquecer da Lei Divina da Causa e do Efeito, e se esses males não têm um motivo atual, com certeza a causa está em uma existência anterior, pois Deus é Justo e Bom e não permitiria sofrimentos a quem não os merecesse.

Como então, encontrar a felicidade, ao menos relativa, neste mundo de provas e expiações?

R: Simplificando a vida, renunciando o que é supérfluo, adequando-se às suas condições financeiras, familiares, profissionais, físicas, intelectuais, etc.

É preciso diferenciar as necessidades materiais em essenciais, interessantes ou supérfluas. Seremos infelizes se não possuirmos o necessário, roupa, alimento, emprego, e para isso é preciso lutar para tê-los.

Trabalhemos, portanto.

O trabalho para o bem transforma-se em felicidade, ocupa a mente.

As aflições têm por objetivo trabalhar nossos potenciais, desenvolver nossa plenitude. Como saber se temos capacidades, se não passamos por testes e avaliações?

Podemos vencer as aflições possíveis de serem vencidas e exercitarmos a resignação para aceitar o inevitável.

Portanto as aflições não são castigo Divino, e sim testes e aprendizados.

Diante de uma aflição é preciso evitar queixumes, lamentações. No Evangelho, Cap. V, 18, há ensinamentos sobre a postura diante do sofrimento. É instrução sobre o bem e o mal sofrer.

De nada vale sofrer revoltado ou em forma de vítima. Muitos nem mesmo reclamam, mas possuem uma postura mental de derrotados, vítimas sofredoras, que atraem cada vez mais vibrações negativas para si.

Diante de um sofrimento, coragem, confiemos em Deus, esperemos mais de Deus, sejamos pacientes e perseverantes.

(Revista Cristã de Espiritismo – Ano 01/N.º 5)

SINCERIDADE E LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA


Publicado por Marcio-geec em 11/8/2006 (743 leituras)
Fernando Clímaco Santiago Maciel (Carpina/PE)


“A liberdade de consciência é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso” (L.E., 837)

“Será repreensível aquele que escandaliza com a sua crença um outro que não pensa como ele? “— Isso é faltar com a caridade e atentar contra a liberdade de pensamento”. (L.E., 839)

Quem acompanha atentamente a imprensa espírita brasileira, já deve ter percebido que se tornou bastante comum o uso da expressão “Espíritas Sinceros” em artigos dirigidos ao movimento espírita de nosso país. Há pouco, num mesmo periódico, saíram três textos onde a expressão foi utilizada, por diferentes autores, e o fato levou-nos a refletir mais seriamente.

Começamos a analisar o sentido e a aplicação dessa adjetivação insistentemente utilizada em exortações aos espiritistas do Brasil e percebemos que alguns desses textos desatacam, indireta, mas claramente e por exclusão, a existência de um outro grupo, naturalmente não citado: o dos “Espíritas NÃO-SINCEROS” e, sinceramente, não conseguimos perceber quais os critérios utilizados para essa classificação. Em outras palavras: passamos a nos perguntar o que leva um espírita a tachar outro espírita de insincero?!

Primeiramente, parece-nos claro que quem faz tal censura julga-se, naturalmente, integrante do grupo dos sinceros e, conseqüentemente, deve agir com a mais pura sinceridade, sem nenhuma tisna de inverdade, em todos os atos de sua vida, por menos representativos que os considere. Só, e apenas desta maneira, estará em condições de “atirar a primeira pedra”. Afinal, ensina-nos nossa excelsa Doutrina que “a autoridade para censurar está na razão direta da autoridade moral daquele que censura”, acrescentando que “Aos olhos de Deus, uma única autoridade legítima existe: a que se apoia no exemplo que dá do bem”. (O Evangelho Seg. o Espiritismo, Cap. 10, item 13).

Sinceramente, não sei como espíritos em provas e expiações — que somos todos nós — podem revestir-se de tal autoridade, quando nem mesmo Jesus — o Modelo — dela fez uso para censurar ou acusar. Combateu a mentira e a hipocrisia, todavia o fez sempre “olhos nos olhos”, buscando educar e sem jamais expor a qualquer de seus irmãos de modo a desacreditá-lo.

Será que não percebemos o equívoco da acusação que generaliza?

Pensemos no efeito causado no leitor; à frente de um artigo assinado por autores tão respeitáveis quanto as instituições que os respaldam, irá, obviamente, indagar quem são os insinceros e por que merecem essa pecha. Ou não?! Como não encontrará resposta no artigo, que normalmente evita acusações diretas a grupos ou pessoas, o que poderá pensar?

Pessoalmente, a impressão que nos dá como leitor é que não se dirigem os autores para seus próprios grupos ou pessoas afins (diz-nos a lógica); estarão voltando-se a grupos ou pessoas com as quais mantém certas “diferenças”, e que ocorrem essencialmente no campo das idéias, isto é, na forma de pensar.

Ora, se o leitor observou com atenção os trechos aqui destacados de “O Livro dos Espíritos”, percebeu que os Imortais trataram a liberdade de consciência e de pensamento como inalienáveis direitos do homem, que caracterizam a verdadeira civilização e o progresso, até porque encontram-se estribados nas próprias Leis Naturais. Sendo assim, teremos o direito de acusar de insincero a quem quer que seja, apenas porque não pensa como nós?

Certamente que não. Afinal, o companheiro poderá ser autêntico e sincero naquilo que pensa, tanto quanto devemos ser em nossas próprias opiniões. Se não bastasse, estaríamos, ainda, ferindo a liberdade de consciência e esquecendo o princípio básico para o justo equilíbrio das relações sociais, exarado em a consciência do homem, e que “consiste em cada um respeitar os direitos dos demais” (L.E., 875). Faltaríamos, então, com a caridade.

Isto não significa que devamos nos omitir quando houver flagrante contradição com o vero pensamento espírita, mas ainda neste caso, deveremos usar a argumentação sólida e transparente respaldada na lógica e no bom-senso, como magistralmente fazia Allan Kardec. Extremamente saudável, portanto, evitássemos esse tipo de expressão que sai do campo da argumentação para o terreno da insinuação, dando margem a dúvidas quanto à intenção daqueles que a utilizam e alimentando a dissensão.

Com estas observações, não queremos, sinceramente, fechar os olhos para as nossas imperfeições, ainda que já estejamos matriculados na escola do conhecimento espírita, no entanto não se justifica o destaque aos insinceros, quando, na verdade, não podemos esquecer dos orgulhosos, dos sensuais, dos autoritários e despóticos, dos irresponsáveis e levianos, dos vaidosos, dos avarentos, dos viciados, dos rancorosos, dos egoístas, etc...

Movidos, pois, pelo espírito de solidariedade e tolerância, aproveitemos todas as oportunidades de auxiliar e educar sempre que possível, entretanto, resguardemo-nos de expor os companheiros — espíritas ou não — ao látego de nossas precipitadas e genéricas conclusões e expressões menos caridosas apenas por pensarmos diferente deles. Do contrário, corremos o risco de aumentar a já longa lista dos imperfeitos, caracterizando-os como espíritas intolerantes.

RESPONSABILIDADE PESSOAL


Publicado por Marcio-geec em 11/8/2006 (271 leituras)
Rodolfo Calligaris

Os povos cristãos vêm sendo instruídos, séculos pós séculos, que “nossos primeiros pais” haviam sido criados justos, inocentes e imortais, mas que, por haverem cedido à tentação demoníaca, desobedecendo a Deus, perderam o estado de graça, foram expulsos do éden, tornaram-se ignorantes, propensos ao mal, expostos a toda sorte de misérias e condenados a morrer.

Essa culpa, conquanto pessoal, não prejudicou apenas Adão e Eva. Transmitindo-se a todos os seus descendentes, por geração natural, danificou todo o gênero humano, que nascendo já estigmatizado pelo erro, jamais poderia salvar-se por si mesmo.

Deus, porém, apiedou-se dos homens e alguns milênios depois houve por bem enviar à Terra seu filho unigênito, Jesus-Cristo, para que pudesse oferecer-se como vítima expiatória e, assim, os libertasse da escravidão do demônio e do pecado, reconquistando-lhes o direito que tinham ao céu.

Em síntese, o que acima foi dito poderia ser resumido nestas duas proposições:

Adão e Eva pecam e a Humanidade é condenada.

Vem o Cristo, sofre o martírio da cruz e a Humanidade é salva.

Uma pergunta, então, se impõe:

Nesse jogo, qual o papel da Humanidade mesma, uma vez que tudo se realiza por substituição?

Temos, para nós, que a razão pela qual o Cristianismo não há produzido, até agora, tudo aquilo que de bom e de belo dele se deveria esperar, só pode ser atribuída a essa falsa idéia de que somos redimidos do pecado, graciosamente, “pelo sangue do cordeiro de Deus”.

Fosse isso verdadeiro, alcançassem os homens, realmente, a purificação por efeito da morte de Jesus, e o mal já devera ter desaparecido da face da Terra.

Não é tal, entretanto, o que se observa. A ambição, o orgulho, a vaidade, o roubo, a injustiça, o farisaísmo, a crueldade, os vícios e as paixões continuam a dominar grande parte das criaturas, impedindo seja estabelecido entre nós um clima de paz, de alegria e de fraternidade.

Enquanto supusermos que o “Cristo morreu por nós” e que “a efusão de seu sangue nos limpa de toda culpa”, sem empreendermos qualquer esforço sério no sentido de vencermos nossas fraquezas e imperfeições; enquanto não compreendermos, também, que o que Deus quer de nós não é “adoração”, mas trabalho de cada qual em benefício de todos, visando a eliminar A DOR pela AÇÃO, as coisas não se modificarão e o sofrimento continuará infelicitando indivíduos, famílias, comunidades e nações.

O Espiritismo, recusando fé à lenda da “queda do homem”, porquanto queda jamais houve, e sim evolução do homem das cavernas para o homem nômade e deste para o homem civilizado de nossos dias, o que torna insubsistentes as doutrinas da “expiação”, da “propiciação”, do “pecado original” etc., diz-nos, baseado nos ensinamentos do Evangelho, que “a cada um será dado segundo as suas obras” e que nossa felicidade, neste mundo ou no outro, depende da conquista da Virtude e da prática do Bem, ou seja, de nossos próprios méritos, erigindo, destarte, a responsabilidade pessoal em princípio fundamental de sua filosofia de vida.

Quando toda a Humanidade venha a pensar e a agir deste modo, então, certamente, a Terra se transformará no paraíso com que sonhamos.

(De “Páginas de Espiritismo Cristão”, de Rodolfo Calligaris)

OS LIMITES DO LIVRE-ARBÍTRIO


Publicado por Voluntario em 08/12/2006 (394 leituras)
Elson de Souza Ribeiro


O que vem a ser um indivíduo livre? Segundo o dicionário, “livre é o sujeito que tem seus direitos civis e políticos, amparados por lei”.

Porém, as leis nos indicam que essa liberdade de agir e decidir é relativa. Tanto é que, quando o direito do outro é desrespeitado, mesmo que seja de forma precária, entra em cena o elemento punição. Se na Terra, que é um planeta atrasado, de provas e expiações, existe uma lei que limita a liberdade de agir, imagine nos planos superiores.

Na questão 121 do Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta: "por que é que alguns espíritos seguiram o caminho do bem e outros o do mal"? E os espíritos respondem: "não têm eles o livre-arbítrio? Deus não os criou maus; criou-os simples e ignorantes, isto é, tendo tanta aptidão para o bem quanto para o mal. Os que são maus, assim se tornaram por vontade própria".

A resposta sábia dos espíritos para essa questão nos leva a fazer uma reflexão. Em que momento somos realmente livres? No momento em que fazemos o bem ou o mal? A liberdade para o bem está harmonizada com as leis da vida, com as leis eternas, enquanto que o mal tem muito mais vínculo com o desconhecimento delas.

Graças às obras complementares que vieram depois das obras de Kardec (especialmente de André Luiz), é possível perceber que o livre-arbítrio pode ser limitado. Aliás, isso é comprovado desde o planejamento que os Espíritos Superiores fazem para o reencarnante, quando este não tem condição para fazer sua escolha. Ou seja, ele vem pela via compulsória.

No capítulo 7 do livro No Mundo Maior, psicografado por Chico Xavier, André Luiz nos apresenta um caso de reencarnação compulsória. Um garoto de oito anos, conta Calderaro, “não fala, não anda, não chega a sentar-se, vê muito mal, quase nada ouve na esfera humana”. O que teria feito esse espírito no pretérito? Há quase dois séculos, decretara a morte de muitos compatriotas numa insurreição civil, semeando ódio e ruínas.

No capítulo 14, da mesma obra, temos mais um exemplo das limitações do livre-arbítrio. Dessa vez é o caso de Antídio, um velho conhecido de Calderaro que, a cada vez que recebe assistência espiritual, volta a cair nas tentações do alcoolismo. Diante da indisciplina de Antídio, os benfeitores espirituais vão ministrar o que eles chamaram de "recurso da enfermidade provisória". Trocando em miúdos, Antídio conhecerá a prisão do leito, durante alguns meses, graças a uma nefrose cardíaca, para harmonizar o cosmo psíquico. Neste período nada adiantaria apelar para medicamentos. Toda essa enfermidade provisória serviria para que o doente não esquecesse das obrigações sagradas e da nobreza do ato de viver.

Portanto, nos dois casos citados, nós podemos perceber as restrições que a justiça Divina faz com aqueles que não corresponderam à expectativa. Conseqüências? Aflição, desencanto, cansaço, tédio, sofrimento, cárcere etc.; a prisão regeneradora. Somos livres na escolha que fazemos. Mas já não somos livres das conseqüências desta escolha. Cada atitude (positiva ou negativa) gerará conseqüências. E uma das conseqüências poderá ser, até, a suspensão temporária do livre-arbítrio. O Plano Espiritual Superior estabelece para os devedores reincidentes algumas restrições no seu conforto para sanar seus débitos. Em razão disso, não poderão viver à farta, mas sim com abstinência e suor. Castigo de Deus? Não. Conseqüências das más escolhas, má utilização do livre-arbítrio. O inferno ou o céu é um problema de direção espiritual. Busquemos a adesão do Senhor, no entanto, saibamos que todos os problemas criados por nós serão resolvidos por nós mesmos.


Fonte: Revista Espírita Allan Kardec

O PLANEAMENTO FAMILIAR


Publicado por Marcio-geec em 11/8/2006 (512 leituras)
Heloísa Pires

«Revista de Espiritismo»
nr. 35, Abril-Maio-Junho 1997
Federação Espírita Portuguesa

Matemática, física e pedagoga, Heloísa Pires, espírita renomada, esteve em Portugal em Janeiro, proferindo várias palestras. Por onde passou deixou o rasto luminoso da cultura espírita, encantando quem a ouviu.

Heloísa Pires seria mais uma mulher, incógnita, e não seria notícia se não fosse um dos grandes vultos do espiritismo mundial e licenciada em matemática, em física, em pedagogia.

Espírita convicta, é um dos elementos-chave do movimento espírita brasileiro. Trabalha por opção com deficientes profundos, no campo da pedagogia. Seu pai, José Herculano Pires, foi de tal maneira marcante para o espiritismo, a nível mundial, que foi referido como sendo o metro que melhor mediu Allan Kardec (o codificador do espiritismo). Herculano Pires, escritor, filósofo, deixou uma obra literária impressionante, que ainda hoje é desconhecida da maioria dos espíritas. De realçar "O Espírito e o Tempo" e "Mediunidade", se é que é possível destacar estas duas obras das restantes.

Heloísa Pires esteve em Portugal, a convite do Centro Espírita Perdão e Caridade, de Lisboa, durante oito dias. Conferenciou em Lisboa, no referido centro espírita, em Lagos, em Leiria, em Viseu, no Porto, de novo em Lisboa no Centro Espírita Amor e Caridade e ainda na Federação Espírita Portuguesa. Concedeu ainda três entrevistas, na Rádio Nova (com Rui Castelar), no «Tal e Qual» (Paulo Emereciano) e à Revista de Espiritismo. Aproveitando o ensejo da sua presença colocámos-lhe algumas questões:

Revista de Espiritismo» — Deve haver planeamento familiar ou a mulher é uma máquina de ter filhos?

Heloísa Pires — Se disser-mos "tenha os filhos que Deus mandar" estamos a repetir o que a Igreja Católica e outras correntes defendem. Não somos coelhos nem gatos. O homem obra com conhecimento de causa. Há que planear ter os filhos que possam ser educados para que eles saiam vitoriosos da vida. Ter 11 filhos e deixá-los ao deus-dará é inconsciência criminosa. O planeamento familiar é uma necessidade no momento actual, é indispensável, para melhorar as condições de vida na Terra.

RE — Há quem diga que a eutanásia pode ser um acto de caridade. Que pensa disto?

H.P. — É um crime, desnecessário. Vemos agora, na Bélgica, o Dr. Morte. Horrível. Um homem, médico, a matar outros homens. Não somos Deus. Devemos ficar na Terra o tempo que for necessário. À luz do espiritismo, se alguém tem uma doença prolongada é porque necessita de passar por essa situação, dentro das leis de causa e feito, para que os seus fluidos vitais se desgastem. Aí, a pessoa parte para o mundo espiritual em boas condições. Provocar essa situação (eutanásia) é provocar sofrimento no espírito, que fica envolvido em fluidos vitais que o ligam ao corpo. Temos de aceitar a vontade divina. Fatal, só o nascimento e a morte. Tudo o resto depende do nosso livre-arbítrio.

RE — E o aborto?

H.P. — O aborto é um crime. É fruto da ignorância, daqueles que não entendem a vida. No entanto, temos de explicar que tudo é considerado a partir do momento do conhecimento. Depois de entender-mos que o aborto é um crime, não podemos praticá-lo. Antes de o sabermos, se o praticámos temos atenuantes. Mas não há justificação para o aborto. É desnecessário.

RE — Como é que uma mulher de ciência é espírita, fala com os espíritos, e acredita em Deus?

H.P. — Einstein, que intelectualmente estava a anos-luz de nós, dizia: "Deus existe". Através do raciocínio temos de entender que existe uma inteligência suprema. Porque a desordem não cria nada e a ordem revela uma inteligência maior que criou tudo e que nos criou. Os físicos actuais, a cada dia que passa, convencem-se mais da existência de Deus. Eles apenas não gostam do rótulo de "Deus", dizem "Inteligência", "Força Criadora". A nossa capacidade de raciocínio, a procura de organização do Mundo, as fórmulas matemáticas, são uma prova evidente de uma inteligência maior que criou inteligências menores.