domingo, 31 de julho de 2011

Perguntas - IIPP


Qual a utilidade das terapêuticas psíquicas e espirituais?

Considerando-se que o homem é um ser multidimensional, devemos buscar a compreensão da sua realidade maior no âmbito psíquico e espiritual, desvendando seus abismos misteriosos. A utilidade dos estudos e terapêuticas psíquicas e espirituais é pesquisar e descobrir como tratar com eficiência esses aspectos do ser humano até agora deliberadamente ignorados ou pouco estudados pela chamada ciência oficial. Essas terapêuticas visam encontrar a causa dos distúrbios, dores não diagnosticadas e criar uma forma de alívio ou cura.

Para se fazer um tratamento desses é preciso que se acredite em reencarnação?

Absolutamente. Não. Embora grande contingente de cientistas de renome sejam reencarnacionistas e hoje já defendam o fenômeno das vidas sucessivas, para que se possa fazer um tratamento com TVP, Apometria ou Desdobramento Múltiplo, é necessário apenas a vontade e a decisão do interessado.

Em que a Terapia de Vida Passada, que é trabalho remunerado,
difere do atendimento espiritual mediúnico que deve ser gratuito?

Sem dúvida, existem grandes diferenças entre um atendimento espiritual que é realizado nos centros espíritas, por equipes dedicadas ao exercício da fraternidade, trabalhando gratuitamente para auxiliar as pessoas, em horários extraprofissional, atendendo problemas relacionados com obsessão praticada por espíritos, e um atendimento psicoterápico profissional, realizada por um terapeuta, em horário normal, da preferência do cliente, com TVP, Regressão de Memória, Captação Psíquica ou qualquer outra modalidade terapêutica.
A Terapia Regressiva ou de Vida Passada é conhecimento adquirido através de cursos, esforço e altos custos. Para seu exercício exige-se estudo, observação, pesquisa, cursos, profissionalização, registro em conselho de classe, documentação adequada, legalização junto a órgãos públicos municipais, estaduais e federais, pagamento de impostos, coisa que não acontece com aqueles que se dedicam ao socorro espiritual.
As psicoterapias trabalham o campo vibracional do ser, nos seus aspectos psíquicos e emocionais, buscando dissolver as pulsões incômodas, geradas pelas lembranças perturbadoras gravadas em vivências traumáticas experimentadas nesta ou em passadas existências. Não se relaciona com espíritos ou mediunidade, pois não se exercita a mediunidade em consultório de terapia, não se invoca espíritos e nem se trabalha incorporado por guias ou mentores espirituais. No entanto, dentro do trabalho terapêutico remunerado, o conhecimento da realidade espiritual será de grande valia ao terapeuta.

Quais as diferenças entre TVP, RM e RME, se é que existem?

Em nosso entender, a TVP, Regressão de Memória e Regressão de Memória Extracerebral são coisas bem diferentes. Terapia de Vida Passada é toda a terapia que trabalha com a possibilidade de cura de eventos traumáticos, registrados em algum departamento do subconsciente ou inconsciente, desta ou de outras existências, independentemente de se utilizar ou não regressão ou rememoração do fato trabalhado.
Regressão de memória é o reviver de um evento esquecido ou arquivado no inconsciente ou subconsciente, nesta ou em outras existências e que pode ou não ocorrer dentro do processo terapêutico da TVP.
Já a regressão pela memória extracerebral é, obrigatoriamente, o reviver de memórias de uma ou várias existências passadas ou espaço intervidas. Temos também o rememorar de fatos passados por meio da atenção concentrada no sintoma, que permite, dentro das limitações perceptivas maiores ou menores do paciente, a imediata identificação do problema com a consequente libertação do sintoma, ou seja a cura.
Ressaltamos que vivemos a maior parte de nossas vidas, de certa forma regredidos, visto que somos constantemente influenciados pelas lembranças e personalidades psíquicas de passado, boas ou más. Comprova-se o fato: pelas fobias, raiva, depressões, medos, angústias, ansiedades, desconfianças, ciúmes infundados, etc. O que seria isso senão a memória aflorada da vivência traumática de passado?
A terapia regressiva pode produzir catarses emocionais profundas, desentranhando e tratando traumas arquivados no inconsciente ou subconsciente, vivenciados na pré-concepção, gestação, experiência perinatal e primeira infância. Pode tratar com eficiência, também, distúrbios emocionais, psicológicos e mentais de gênese recente ou de existências vividas há séculos ou milênios, estados alterados de consciência, alternância de personalidades psíquicas, etc.
No campo das terapêuticas do psiquismo, cada terapeuta desenvolve técnicas e recursos diferentes, conforme sua cultura, tendência ou preferência. Mas de um modo geral, as terapias regressivas extracerebrais englobam uma infinidade de sistemas metodológicos, como também podem albergar-se em concepções filosóficas diferenciadas. Porém, os reencarnacionistas obtém melhores resultados e o próprio trabalho se desenvolve com mais facilidade, devido à inexistência de conflitos de idéias, de religiões, de crenças ou de entendimento. Os que não aceitam, encontrarão dificuldades maiores.

Qual a diferença entre essas técnicas e a hipnose?

A hipnose é uma técnica que parte do pressuposto de que o paciente, ao se permitir ser hipnotizado, tende a ficar mais à mercê da sugestão do hipnotizador e, na maioria dos casos, em maior estado de sonolência. Nas demais técnicas de TVP ou regressão, o paciente permanece consciente e senhor da própria vontade, só acata a sugestão dada se quiser, se ele achar que faz algum sentido. Caso contrário, tem plena liberdade de não aceitar.
Ocorre também que a área cerebral acionada é diferente nas diversas terapias. Na TVP e regressão, recordando o passado, a área acionada é o lobo médio temporal. Na hipnose, é ativado o lobo parietal. Fantasiando, ativa o lobo frontal. Em sono natural, ativa as regiões do “bulbo”, da “ponte” e do “cerebelo”.
A TVP e a regressão de memória extracerebral são processos realizados com o paciente consciente durante a sessão, detendo o controle da situação, simultaneamente, ouvindo o terapeuta, os sons externos que vibram ao seu redor e fazendo uma espécie de “viagem” no tempo recente ou remoto. E, na absoluta maioria dos casos, o paciente lembra de tudo ao sair da sessão terapêutica. É como se ele, paciente, estivesse observando um acontecimento distante, através de uma luneta. Sua mente está focada em acontecimentos que podem estar há dezenas, centenas ou milhares de anos, podendo vivenciar, observar, relatar e elaborar esses acontecimentos, independente de conceitos, preconceitos, crença religiosa, idade, formação, etc.
“Nos alicerces do inconsciente profundo encontram-se os extratos das memórias pretéritas, ditando comportamentos atuais, que somente uma análise regressiva consegue detectar, eliminando os conteúdos perturbadores, que respondem por várias alienações mentais” (Joanna de Ângelis).
Todas as pessoas podem regredir ao passado e rever suas pretéritas existências sem o perigo de que regridam e não consigam mais voltar, ficando presas no passado?
Todas as pessoas podem rever e reciclar suas memórias pretéritas, mas nem todas perceberão os eventos causadores das suas desarmonias ou conseguirão fazer a leitura consciente de suas lembranças de passado. Cerca de setenta por cento dos interessados entram em regressão consciente. Os demais, aproximadamente trinta por cento, entram já na primeira tentativa. No entanto, todas saem beneficiadas, porque mesmo sem regredir conscientemente, a pessoa revisa internamente suas dificuldades e questões. Os sintomas perturbadores, na maioria das vezes, acabam desaparecendo.
A palavra “regressão” é utilizada para explicar a rememoração de eventos vividos em outras existências por ser mais conhecida e didática. Na realidade, durante o tratamento o paciente não entra em regressão e nem viaja para lugar algum. Ele permanece consciente do momento presente, conversando com o terapeuta, mas em estado modificado de consciência, alcançando ou lembrando também o momento em que ocorreu o evento traumático que o perturba. Então, na realidade, só ocorre um “estado modificado de consciência”.
Uma consciência expandida pode perceber de forma mais clara os registros que possui, independentemente da dimensão de tempo e espaço. É como alguém que desce aos escuros porões de sua casa, portando uma boa lanterna, verificando o que ali está guardado.
Só existirá perigo se a regressão for feita de forma irresponsável, sem acompanhamento de um profissional qualificado. Em nosso entender, o profissional qualificado é aquele que fez um curso especializado ou que pesquisou e observou muito e desenvolveu uma boa técnica. É mais especializado aquele que conheça a Doutrina Espírita e saiba como funciona a mediunidade, a obsessão e saiba como lidar com os espíritos. Principalmente, saiba a diferença entre os sintomas causados por mediunidade perturbada ou por obsessão, saiba identificar as desarmonias geradas pelas personificações múltiplas ativas e os sintomas causados por lembranças traumáticas de passado.
As alegações de que o paciente pode não retornar de uma regressão, ficar preso em uma vida passada ou a um estado desarmônico vivido em outro tempo, não têm base lógica. Dessa forma, demonstram apenas ignorância sobre o assunto, desconhecimento total do processo terapêutico, recursos e técnicas utilizadas. Portanto, não há riscos.

Como é a técnica utilizada para levar o cliente a acessar as suas memórias extracerebrais?

Basicamente, a técnica da TVP ou Regressão que utilizamos é uma forma de leitura das pulsões desarmonizadoras ou fragmentos de memórias traumáticas que brotam das instâncias denominadas inconsciente e subconsciente, onde estão registradas as experiências vividas em outros tempos. Na realidade, essa leitura constitui-se de uma interpretação desses sinais, pulsões ou sintomas, decodificando-os à luz da razão e da lógica. Por exemplo, se um cliente nos procura com a queixa de claustrofobia, procuramos verificar o que ele está sentindo, o significado do que está sentindo. Por experiência, já sabemos que esse cliente está em estado alterado de consciência, revivendo ou lembrando de um evento traumático ocorrido em outro tempo e lugar, por isso o pânico infundado. Então, fazemos com que ele sintonize, perceba, racionalize e compreenda a causa do problema. Perceba o evento que está produzindo o sintoma e o racionalize, concluindo que é apenas uma lembrança de algo ameaçador e hoje não corre mais perigo algum.

O fato de lembrar o que aconteceu há muito tempo atrás não vai piorar as coisas?

A Terapia de Vida Passada é uma terapia que lida com a lógica e inteligência das pessoas. Assim, o paciente da questão anterior, que sofre de claustrofobia, quando acessar suas memórias e descobrir que, em outra existência, viveu um drama e morreu aprisionado em estreita e infecta masmorra, para a qual faria sentido a sensação claustrofóbica, perceberá que tudo aquilo que o personagem da sua história vivenciou não faz mais sentido nos dias de hoje. A partir de então vai ocorrendo uma conscientização e a racionalização sobre esse conteúdo que estava instalado e reprimido no seu subconsciente, o trauma vai sendo diluído, a lembrança da experiência vivida e o aprendizado que dela decorreu permanecem, mas o paciente, em breve, estará curado e desidentificado da antiga personalidade prisioneira.

P – De forma didática e simples como definir o conceito de Apometria?

R – A Apometria é um conjunto de procedimentos com finalidade terapêutica, organizado por Dr. José Lacerda de Azevedo, em 1965, no Hospital Espírita de Porto Alegre. Baseia-se na tese do desdobramento do Corpo Astral, sem relação com o mediunismo, adequado para o tratamento de pessoas com problemas de ordem espiritual (obsessão), perispiritual (desarmonia nos corpos sutis), anímica (dissociação de consciência ou distúrbio das personalidades múltiplas e auto-obsessão) e mediúnica (distúrbios relacionados com a mediunidade). O tratamento deve ser praticado por um grupo de pessoas (incorporadores e esclarecedores) de forma gratuita, em centros espíritas ou por grupos de pessoas que desejem exercitar o espírito de cooperação e humanidade.

P – De forma didática e simples como definir o conceito de Desdobramento Múltiplo?

R – O Desdobramento Múltiplo é um conjunto de procedimentos terapêuticos destinado ao tratamento simultâneo das personalidades dissociadas nos distúrbios dissociativos de consciência, de uma pessoa ou de um grupo de pessoas, nos processos de auto-obsessão, obsessão compartilhada entre encarnados, distúrbios comportamentais e psíquicos em geral, praticado no mínimo por três duplas de pessoas, em centros espíritas ou por grupos independentes, de forma gratuita.

P – A Apometria e o Desdobramento Múltiplo estão ligados à Doutrina Espírita?

JS – As técnicas em si não estão ligadas à Doutrina Espírita por serem apenas recursos terapêuticos. Porém, vêm sendo utilizadas nos tratamentos desobsessivos nas casas espíritas, da mesma forma que antigamente utilizavam a homeopatia, e hoje ainda utilizam o passe e a água fluidificada. Recursos terapêuticos auxiliares aplicados com a finalidade de aliviar o sofrimento das pessoas, mas que não possuem relação com a essência da Doutrina.

P – Poderia se aplicar a técnica apométrica para desfazer trabalhos de magia,
encaminhar espíritos obsessores e movimentar energias diversas? E como são feitos?

JS – Nos atendimentos fraternos, em que se utiliza a técnica apométrica, se o praticante tiver conhecimento sobre como desfazer trabalhos de magia, força mental e moral suficientes poderá ocorrer. Quanto ao tratamento e encaminhamento de entidades obsessoras poderá ocorrer em qualquer lugar ou instituição, independentemente de religião ou filosofia. Basta que o praticante saiba esclarecer o espírito equivocado, de forma fraterna e lógica, conforme ensinou Jesus que não tinha e nem fundou religião alguma. Quanto a dispersar energias negativas acumuladas, depende muito mais da mudança de atitude dos interessados do que de algum recurso técnico.
Explicar o modo de desfazer um trabalho de magia, em que ocorre em dimensão astral, utilizando-se recursos variados, é tarefa complexa. Sucintamente, podemos dizer que a energia negativa, acumulada e direcionada pelo praticante da magia em direção à vitima é liberada e dispersada por meio dos recursos utilizados pelo socorrista. Mas, ao nosso ver, a técnica apométrica tem a finalidade precípua de tratar os distúrbios do psiquismo como, por exemplo distúrbios comportamentais, emocionais e mentais.

P – A Apometria pode ser aprendida e utilizada por leigos?

JS – Sem dúvida, a Apometria pode ser aprendida e praticada por todas as pessoas de boa vontade que desejem empregar parte de seu tempo em auxiliar pessoas, espíritos, melhorar e desenvolver os potenciais humanos. É uma técnica que também abre a possibilidade de pesquisa e compreensão do funcionamento do psiquismo humano.
O conhecimento das leis e recursos da Apometria e do Desdobramento Múltiplo de Personalidades, oferece-nos a possibilidade do acesso, descoberta, despertar e desenvolvimento das inúmeras potencialidades ainda adormecidas no homem atual. Faculta-nos também a identificação e o tratamento terapêutico de grande parte das desarmonias e distúrbios relacionados com a reencarnação, formação dos corpos, comportamento humano e doenças de origem anímica.

P – A Apometria também trata as Personalidades Múltiplas vividas em existências passadas e os desdobramentos da vida atual, denominados de Subpersonalidades?

JS – A técnica apométrica é um dos melhores recursos para tais fins. A Apometria e o Desdobramento Múltiplo formam um sistema terapêutico que pode ser empregado no tratamento das desarmonias instaladas nos corpos sutís (conjunto perispiritual) e, também, nos “Transtornos ou Distúrbios Dissociativos de Identidade”, conforme o conceito da Associação Americana de Psiquiatria. Ou segundo os psicólogos e terapeutas do psiquismo, no chamado “Transtorno ou Distúrbio das Personalidades Múltiplas”. Ainda, pode tratar distúrbios de ordem espiritual em encarnados e espíritos perturbados ou perturbadores.
Sua ação se faz através do impulso mental de operadores com conhecimentos sobre o assunto, movidos pelo espírito de fraternidade e força da vontade. São recursos que proporcionam uma grande compreensão sobre as causas dos problemas, entendimento sobre a natureza dos elementos em tratamento (corpos, personalidades e espíritos), amplitude de recursos e possibilidades a serem utilizadas, além de eficientes resultados.

P – Como a Apometria se articula entre o espírito, a psicologia e a psiquiatria?

JS – A técnica apométrica se fundamenta na Doutrina Espírita, na psicologia e na psiquiatria. Os elementos psíquicos que proporcionam a articulação e interação entre esses três ramos do conhecimento são as Subpersonalidades e as Personalidades Múltiplas.
As Subpersonalidades são os desdobramentos ou projeções da atual personalidade. Podem agir com total consciência de si mesmas, embora essa ação nem sempre seja percebida pela consciência física. Foram observadas e estudadas por Pierre Janet em 1898, quando, inclusive, chegou a propor um modelo dissociativo da psique, defendendo a idéia de que “a consciência pode dividir-se em partes autônomas, de sofisticação e abrangência variadas”. Este estudo foi ampliado por Jung ao tratar os complexos: “os vários grupos de conteúdos psíquicos ao desvincular-se da consciência passam para o inconsciente, onde continuam, numa existência relativamente autônoma, a influir sobre a conduta.
A psique, tal como se manifesta, é menos um continente do que um arquipélago, onde cada ilha representa uma possibilidade autônoma de organização da experiência psíquica”.
As Personalidades Múltiplas são as personalidades vividas em outras existências. Têm identidade própria, aparência, hábitos, idade e até polaridade sexual distinta da personalidade atual. Suas existências são temporárias, podem perdurar dias, meses, anos ou séculos.
Também estudadas pelo Prof. Pierre Janet, na identificação do subconsciente, nas experiências hipnológicas realizadas pelo célebre Prof. Jean Martin Charcot, em Paris, propôs a existência de personalidades múltiplas ou anômalas. Mas foram melhor observadas e estudadas por William James (1842 – 1910), um dos pioneiros na sua identificação. Os estudos de Jung e dos espíritos, André Luiz, Manoel Philomeno de Miranda e Joanna de Ângelis, vieram esclarecer bastante esse assunto.
O que denominamos de Dissociação de Personalidades, conforme o “DSM III” (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria) de DPM “Distúrbio das Personalidades Múltiplas”, é o mesmo que DDI “Transtorno ou Distúrbio Dissociativo de Identidade”, conforme o DSM-IV elaborado em 1980.
O CID 10 (Código Internacional de Doenças, item F44.81 – 300.14, Transtorno ou Distúrbio Dissociativo de Identidade) diz que o DDI (anteriormente denominado Transtorno ou Distúrbio de Personalidade Múltipla), é a condição mental onde um único indivíduo demonstra características de duas ou mais personalidades ou identidades distintas, cada uma com sua maneira de perceber e interagir com o meio.
Exemplos de fundamentos espíritas:
O estudo do “Agregado Humano” (perispírito), “Personalidades” e “Subpersonalidades” anômalas (desdobramentos) e sua terapêutica estão perfeitamente insertos e de acordo com a proposta Kardecista, conforme “O Livro dos Médiuns”, Capítulo I, 2ª parte, página 72 da 51ª edição, FEB, em que trata da “Ação dos Espíritos sobre a Matéria”: “somente faremos notar que no conhecimento do perispírito está a chave de inúmeros problemas até hoje insolúveis”.
“Essas personalidades secundárias assomariam com freqüência, conforme os estados emocionais, dando origem a transtornos de comportamento e mesmo a alucinações psicológicas de natureza psicótica e esquizóide.
Na imensa área do ego, surgem as fragmentações das subpersonalidades, que são comportamentos diferentes a se expressar conforme as circunstâncias, apresentando-se com freqüência incomum. Todos os indivíduos, raras as exceções, experimentam este tipo de conduta, mediante a qual, quando no trabalho se deixam conhecer pelo temperamento explosivo, marcante e dominador. Em particular, são tímidos, mansos e receosos.” (Joana de Ângelis, Divaldo Franco, “O Despertar do Espírito”, 1ª ed., Salvador: Ed. Leal, 2000, páginas).
“Áulus, André Luiz, Hilário e Teonília, em caravana, deslocaram-se à residência do casal Jovino e Anézia para prestar assistência fraterna pois Jovino havia arranjado uma “namorada” e esta se projetava dentro da residência do casal, perturbando-os. Naquele instante, contudo, surpreendente imagem de mulher surgiu-lhe à frente dos olhos, qual se fora projetada sobre ele a distância, aparecendo e desaparecendo com intermitências.
… a esposa triste não via com os olhos a estranha e indesejável visita, no entanto, percebera-lhe a presença sob a forma de tribulação mental. E, inesperadamente, passou a emitir pensamentos tempestuosos.” (“Libertação” de André Luiz psicografia de Francisco Cândido Xavier).
“Tudo isso se explica pelo fato de a chamada unidade da consciência ser mera ilusão. (…) somos atrapalhados por esses pequenos demônios, os nossos complexos. Eles são grupos autônomos de associações, com tendência de movimento próprio, de viverem sua vida independentemente de nossa intenção. Continuo afirmando que o nosso inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo constituem um indefinido, porque desconhecido, número de complexos ou de personalidades fragmentárias.”
(Jung, Carl Gustav, Fundamentos de Psicologia Analítica. Editora Vozes, 4º ed, p. 67/68).
“A personalidade do indivíduo é como uma orquestra. Cada parte dela, chamada de sub-personalidade, é um músico e o EU é o maestro. Não se pode eliminar um músico, mas fazer com que todos atuem em harmonia. O maestro determina quem vai tocar e a que horas. O compositor é o lado transpessoal do indivíduo, o que cria. O importante é a ligação harmoniosa entre todos para a boa execução da sinfonia”. (Roberto Assagioli, O Ato da Vontade, Ed. Cultrixm, 1985)

P – A apometria também traz diferenças em relação ao fenômeno da incorporação, diferente do espiritismo e da umbanda?

JS – O fenômeno da incorporação e da sintonia, para a maioria das pessoas ou dos segmentos em que acontece, é ainda desconhecido. Pouco se sabe sobre como acontecem. A maioria dos médiuns e doutrinadores ou das pessoas que lidam com esses fenômenos não conseguem diferenciar incorporação e sintonia ou incorporação de um espírito, de uma personalidade múltipla ou de uma subpersonalidade até porque o medo da mistificação levou as pessoas a abandonarem o estudo do animismo e dos diversos fenômenos derivados dele.

TVP, Apometria e Captação Psíquica (Psicotranse)

TVP ou Terapia de Vida Passada é um conjunto de procedimentos psicoterápicos destinado ao tratamento dos distúrbios do psiquismo, distúrbios comportamentais, distúrbios físicos e dificuldades em geral, empregados por terapeutas em consultório profissional.
É uma técnica que faculta a abordagem, o acesso e o tratamento dos conteúdos e registros de memórias cerebrais desarmônicas esquecidas, gravadas no período gestatório, na infância e também aos conteúdos das memórias extracerebrais gravadas em passadas existências. Possibilita a compreensão e o tratamento eficiente das causas geradoras de inúmeros distúrbios psíquicos, comportamentais e físicos de difícil diagnóstico e de etiologia obscura. É um recurso composto por um conjunto de procedimentos, tais como regressão e progressão de memória, psicoterapia, catarse de conteúdos emocionais traumáticos existentes, reconstrução da personalidade, etc.
Sua ação se faz por meio do trabalho e orientação de um terapeuta, que atua como facilitador, e da aceitação e cooperação do interessado que acessa suas próprias memórias subconscientes e inconscientes. Serve para tratar terapeuticamente distúrbios de ordem pessoal, interpessoal, transpessoal, psíquica, anímica, comportamental e física. É útil, ainda, como valioso recurso para desenvolver e despertar potencialidades, assim como instrumento auxiliar das demais técnicas terapêuticas.
Captação Psíquica é um procedimento psicoterapêutico investigativo e exploratório que dá condições de acessar estados dissociados de consciência ou de personalidade (Distúrbio da Múltipla Personalidade ou Distúrbio Dissociativo de Identidade), identificados ou ocultos e tratar cada Personalidade Psíquica, transformando suas crenças, memórias, hábitos ultrapassados, apegos, etc. A técnica oferece condições de explorá-las e tratá-las terapeuticamente de forma clara, lógica, eficiente e rápida, esclarecendo o paciente e também o próprio terapeuta.
Sua prática é realizada por uma dupla de terapeutas (um captador e um esclarecedor), na presença do atendido, visando acessar, explorar, esclarecer e tratar aspectos obscuros, resistentes ao processo terapêutico convencional e a muitos tratamentos espirituais, que entravam o processo evolutivo ou os projetos de vida das pessoas afetadas. É uma técnica empregada em consultórios terapêuticos e por profissionais devidamente experimentados.
Para se entender com mais clareza o funcionamento do nosso psiquismo e dos seus mecanismos, precisamos ter uma noção das leis que o regem e das influências que o afetam. André Luiz, no livro ”Missionários da Luz”, psicografia de Francisco Cândido Xavier, e seus colegas de estudo analisam, sob o ponto de vista dos espíritos, a Lei de Causa e Efeito. Descrevem que o próprio ser humano põe esta lei em movimento a seu favor ou a seu próprio prejuízo. Descrevem: “a epífise ou glândula pineal concentra e traduz as radiações que a mente gera e as distribui através do tálamo (massa composta por substância cinzenta). Desse modo, a mente elabora as criações que lhe fluem da vontade, apropriando-se dos elementos que a circundam e o centro coronário incumbe-se, automaticamente, de fixar a natureza da responsabilidade que lhes diga respeito, marcando no próprio ser as conseqüências felizes ou infelizes de sua própria movimentação consciencial, no campo do destino”.
TVP e a Captação Psiquica são técnicas adequadas para auxiliarem e complementarem outros tratamentos médicos ou psicoterápicos, distúrbios psicológicos e psicossomáticos diversos, como traumas, síndrome do pânico, fobias, depressão, estresse, anorexia, bulimia e alternância de personalidades, que afetam o comportamento e a vida das pessoas no aspecto profissional, afetivo e pessoal, pela facilidade de acesso ao conteúdo psíquico da pessoa em foco.
A Captação é muito empregada no tratamento de crianças, pessoas com hipertensão arterial ou doenças auto-imunes, cardíacos, pessoas com déficit de atenção, dificuldades de locomoção e principalmente nas pessoas que desejam entender a si mesmas e melhorar sua eficiência, saúde e desempenho. Utilizando a captação psíquica podemos facilitar tratamentos psicoterápicos em pessoas com dificuldade para a terapia regressiva ou hipnose, diminuindo o tempo de tratamento e evitando os impedimentos causados pela idade ou condição física do paciente. Por depender de avaliação, observação e estudos mais demorados sobre o comportamento, sintomas e problemas do paciente, a captação é mais adequada para utilização na terapêutica profissional em consultórios. É por meio da captação e do tratamento das Personalidades Psíquicas que podemos identificar a causa da dificuldade ou ineficácia de alguns tratamentos, traços de caráter negativos, mágoas ocultas, ódios recalcados e esquecidos, frustrações, resistências à vida, às pessoas ou a situações que alimentam o desejo consciente ou inconsciente de permanecerem doentes ou de morte.
Facultam ainda identificar os agentes mais temíveis e ocultos, os nossos obsessores internos, os elementos que habitam em nós mesmos e nos prejudicam: o “orgulho”, a “vaidade”, a “perfídia”, a “maldade”, a “preguiça”, a “avareza”, a “ignorância” e a “má vontade”. Elementos perversores criados e alimentados por nossas crenças, medos, culpas, traumas, descontentamentos, frustrações e covardia.
Apesar de servirem para minimizar o impacto de nossos erros, deixam-nos cegos e surdos à voz amorosa de nossos guias espirituais e de nossa consciência, impedindo-nos de ver com clareza a Luz de Deus e o amparo que recebemos, como também os belíssimos apelos da vida e as oportunidades infinitas que estão ao nosso alcance.
Os elementos orientadores residentes em nós, como a “humildade”, a “modéstia”, a “lealdade”, a “bondade”, a “diligência”, o “desapego”, a “sabedoria” e a “boa vontade”, alertam-nos, fazem-nos encarar a verdade, mostram-nos como realmente somos e nos forçam a corrigir os desvios, mas nem sempre conseguem levar vantagem sobre as forças inferiores.
Como consequência da negação, repressão ou alimentação dos aspectos perversores, ocorre um entrechoque de forças antagônicas dentro dos nossos campos mental, emocional e afetivo, gerando e acordando personalidades psíquicas. De um lado a imposição e de outro a negação, numa área a imobilidade e na outra a atividade. Daí as constantes guerras e disputas internas, causando desarmonia mental, emocional e física.
A TVP e a Captação Psíquica proporcionam não só grande compreensão sobre as causas dos problemas, mas também amplos recursos e possibilidades, maior entendimento sobre a natureza dos elementos em tratamento e eficientes resultados.
O conhecimento das leis e dos recursos dessas técnicas faculta-nos ainda a identificação e o tratamento terapêutico de grande parte das desarmonias e distúrbios relacionados com a reencarnação, formação dos corpos, comportamento humano e doenças de origem anímica. Oferece-nos a possibilidade do acesso, descoberta, despertar e desenvolvimento das inúmeras potencialidades ainda adormecidas no homem atual.
Estudos e pesquisas comprovam que alguns estados dissociativos são completamente imperceptíveis, mas os sintomas que esses estados geram se tornam visíveis em forma de reações e expressões desarmônicas variadas.
Por meio dessas duas técnicas podemos descobrir as causas não materiais de distúrbios como alergias, dores em geral sem causa aparente, psicoses, neuroses, distúrbios do comportamento, doenças auto-imunes, etc. Assim confirmam a tese da Doutrina Espírita de que a causa das nossas doenças está no espírito e as lesões do corpo físico são projeções ou irradiações doentias do pensamento e dos sentimentos, mais especificamente do ego (personalidade).
Por radiações mentais podemos entender o ato ou efeito de pensar e direcionar uma idéia ou um conjunto de idéias com valoração, atitudes, sentimentos e conceitos peculiares à índole e ao caráter da pessoa. A irradiação de energia luminosa em linha reta através do espaço pode alcançar a velocidade de até 300.000 km/s. Os espíritos nos informam que o pensamento ou onda mental se irradia com maior velocidade. Então, o impacto de um bombardeio contínuo de partículas mentais carregadas de energia negativa em direção a um determinado alvo certamente causará estragos consideráveis.
Pensamentos e sentimentos negativos ou positivos depois de irradiados, agregam-se por atração e afinidade a outros pensamentos e energias de igual teor, de forma cumulativa, aumentando a carga de que são portadores. Há responsabilidade de quem arroja de si mesmo pensamentos negativos ou desordenados frente a quem os absorve.
Naturalmente, quando isso acontece, os automatismos reguladores agem imediatamente determinando o “carma” de seu irradiador. Terá retorno positivo se irradiou energia luminosa e benéfica ou retorno negativo se projetou energias deletérias, visando um fim ignóbil e maléfico.
Da mesma forma, atuando automaticamente temos a “Lei da Correspondência Vibratória”, que estabelece sintonia automática com outras correntes mentais que vibram no mesmo tipo de onda. Segundo André Luiz, em “Mecanismos da Mediunidade”: “… cada Espírito gera em si mesmo, inimaginável potencial de forças mento-eletro-magnéticas, exteriorizando nessa corrente psíquica os recursos e valores que acumula em si próprio. Ao gerar essa força, assimila, espontaneamente, as correntes mentais que se harmonizem com o tipo de onda emitido, impondo às mentes simpáticas o fruto de suas elucubrações e delas recolhendo o que lhes seja característico, independentemente da distância espacial”.
As forças que geramos e exteriorizamos podem ser, de certa forma, qualificadas. Assim, a irradiação mental é o veículo portador da energia qualidade, contendo o tipo de sentimento e emoção da pessoa, bons ou maus, com suas cores características. A irradiação elétrica é o veículo portador da energia força, uma mente vigorosa irradia essa carga com maior intensidade. Já a irradiação magnética é a portadora da energia informação, fluxo que dá condições de decifrar ou definir a emoção, sentimento e intenção irradiados. Tarefa essa que médiuns estudiosos, observadores e experimentados, captam e leem com facilidade, embora muitos não se deem conta de que estão fazendo essa leitura, como também a grande maioria das pessoas encarnadas, mas que no plano espiritual superior é normal.
Temos também o fenômeno ou “Lei de Ressonância Vibratória”, que nos parece muito semelhante. Em Física, ressonância é o fenômeno que ocorre quando um sistema oscilante (mecânico, elétrico, acústico, etc.) é excitado por agente externo periódico, com freqüência idêntica à freqüência do receptor.
No campo espiritual, ressonância é a transferência de energia de um sistema radiante indutor para outro sistema radiante receptor, que tenha frequência sintônica. Dessa forma, ao se gerar uma vibração mental positiva ou negativa, possivelmente em vários níveis de ação, provocamos uma reação nos elétrons, átomos, moléculas e outros elementos que compõem as várias frequências de radiação do outro ou outros campos magnéticos que estejam em sintonia conosco ao alcance de nossa onda mental. Como conseqüência incide a “Lei da Ação e Reação”, determinando retorno automático ao agente gerador da ação inicial. Diante do exposto e por prudência, torna-se necessária a vigilância dos pensamentos, sentimentos, emoções e ações, visando evitar as sintonias e retornos negativos.
Em “Mecanismos da Mediunidade”, André Luiz ao comentar o assunto informa: “Temos plena evidência de que a auto-sugestão encoraja essa ou aquela ligação, esse ou aquele hábito, demonstrando a necessidade de autopoliciamento em todos os interesses de nossa vida mental, porquanto, conquistada a razão com a prerrogativa de escolha de nossos objetivos, todo o alvo de nossa atenção se converte em fator indutivo, compelindo-nos a emitir valores de pensamento contínuos na direção em que se nos fixe a idéia. Direção essa, na qual encontramos os princípios combináveis com os nossos, razão por que, automaticamente, estamos ligados em espírito com todos os encarnados ou desencarnados que pensam como pensamos”.
Na Terapêutica de Vida Passada e Regressão de Memória, os primeiros a acessarem as existências pretéritas foram Fernando Colavida, a partir de 1887 e um pouco mais tarde, na última década do século XVIII e primeira do século seguinte, Albert De Rochas quando trabalhou com 18 sujeitos. Léon Denis, o grande filósofo espírita, também se ocupou do assunto, bem como Charles Lancelin e Flournoy com a médium Helena Smith.
Mas o grande impulso nas experimentações desta natureza, especialmente como recurso terapêutico, foi dado em 1967 quando circulou pelos centros acadêmicos da Psicologia americana o caso de um psicólogo protestante que tinha sonhos repetitivos sobre um navio afundando. Submetido à regressão para além da vida intra-uterina, descobriu-se a época, o local do acontecimento, bem como a lista das vítimas. Assim foi possível confirmar a identidade que o psicólogo afirmava ter usado.
Ao longo dos últimos 50 anos, a TVP vem se desenvolvendo de forma séria e segura, inclusive pelo trabalho de pessoas não ligadas ao espiritismo, como é o caso do psicólogo americano protestante Morris Netherton e também do psiquiatra Bryan Weiss. As controvérsias existentes estão se diluindo a cada dia, não só no âmbito da pesquisa científica, mas também no meio espírita. Os resultados são ótimos e, sem dúvida, acabarão por angariar a confiança e a simpatia geral de profissionais da psicologia, psicanálise e psiquiatria. As resistências existentes são naturais. O ser humano por medo, crença, ignorância, preconceito e má vontade sempre foi pródigo em exemplos de ceticismo, inércia e incapacidade de ver além das aparências.
O jogo de interesses é outro fator que contribui fortemente para retardar o avanço de novas idéias e de soluções simples e práticas, que só à custa de muito esforço e tempo logram êxito em derrubar as inúmeras barreiras que lhes são interpostas no caminho. Foi assim com o magnetismo de Mesmer, só mais tarde reabilitado com o advento do hipnotismo, hoje incorporado ao meio científico. O mesmo ocorreu com a homeopatia e a acupuntura, que só recentemente foram reconhecidas como ramos da medicina oficial, porquanto antes não mereciam mais que rótulos pejorativos, marginalizadas como medicina alternativa.
É assim que a Ciência, não só a Medicina, trata as coisas novas. O Espiritismo, talvez mais do que qualquer outro conjunto de idéias da humanidade, sofreu e ainda sofre resistências, desprezo, descaso quando não a oposição contundente dos cientistas ao falar em vida após a morte, reencarnação e mediunidade. Sabemos que o Espiritismo não aceita nada que esteja em desacordo com a demonstração dos fatos ou que se oponha ao raciocínio lógico. É o primeiro a combater as superstições, crendices e fraudes de qualquer natureza. Porém, com a negação de fatos que confirmam seus próprios princípios, recai-se no extremo oposto, comportando-se exatamente como os seus maiores inimigos. Boa parte do meio espírita está envolvida pelo excesso de zelo, radicalização em torno da pureza doutrinária, defendendo com ardor algumas idéias de Allan Kardec e, paradoxalmente, esquecendo-se de tudo o que ele escreveu sobre o progresso do Espiritismo, especialmente no seu aspecto científico: “Jamais o Espiritismo será ultrapassado porque toda vez que os fatos lhe demonstrarem estar errado em um ponto ele se corrigirá neste ponto; se uma nova descoberta lhe for revelada, ele a assimilará”. E mesmo assim dentro das fileiras espíritas existe o conservadorismo, a resistência, o ceticismo e a má vontade. Mas os líderes espíritas mais conservadores estão, como todos nós, a caminho do túmulo, e serão substituídos por outros de mentes mais arejadas, despojadas dos velhos ranços doutrinários, preconceitos e crenças. As novas técnicas e estudos, direta ou indiretamente, vêm comprovar ou demolir de modo diferente, mas cabal alguns de seus “preciosos princípios doutrinários”.

A Terapêutica

Conhecida a estrutura do Agregado Humano (corpos, personalidades múltiplas e subpersonalidades) torna-se mais fácil tratar os distúrbios decorrentes.
Jung dizia que: “O funcionamento da psique se baseia no princípio da oposição entre os elementos contrários. E que, a tarefa do homem no caminho de individuação é unir os opostos”.
Evidentemente, os elementos contrários referem-se aos “eus”, “personalidades múltiplas” e “subpersonalidades” antagônicas, que coexistem em constante conflito, dentro do campo psíquico. São passíveis de tratamento terapêutico, devido à visão e dedicação do Dr. Lacerda, que soube aproveitar grande parte do conhecimento existente sobre o assunto e transformar esse conhecimento na técnica apométrica.
Também de grande relevância é o trabalho de Joanna de Ângelis, espírito que aprofundou estudos na área da psicologia transpessoal, ampliando as bases para uma terapêutica psicológica profunda, principalmente a TVP (Terapia de Vida Passada). O livro “O Homem Integral” de sua autoria representou marco importante no desenvolvimento do psiquismo terapêutico: “nos alicerces do Inconsciente profundo encontram-se os extratos das memórias pretéritas, ditando comportamentos atuais, que somente uma análise regressiva consegue detectar, eliminando os conteúdos perturbadores, que respondem por várias alienações mentais”.

A Auto-obsessão

A Auto-obsessão é distúrbio grave e extremamente lesivo. É provocado e alimentado pelos elementos que compõem o psiquismo do próprio ser. Manifesta-se em forma de pessimismo, desconfiança, depressão, complexos, rebeldias, fugas (alheamento ou suicídio), apegos em vivências passadas, ódios, autovampirismo, etc.

Síndrome da Eclosão Mediúnica

Denomina-se “Síndrome da Eclosão Mediúnica” o conjunto de sintomas que acompanham o despertar dessa faculdade. Esses sintomas se agravam acentuadamente, nos casos em que a pessoa traz mediunidade de cura ou de efeitos físicos, em virtude da produção de ectoplasma gerado.
Solução do problema: assumir, educar e colocar a mediunidade a serviço do amor fraterno.
Algumas aplicações da terapêutica do Desdobramento Múltiplo e da Apometria
O nosso modelo terapêutico trata os sintomas, distúrbios, doenças e comportamentos negativos alternantes ou permanentes. Parte do princípio de que a gênese das sintomatologias está na dissociação de consciência ou de personalidade, nos distúrbios de ordem espiritual, mediúnico, comportamental e anímico. Seu fundamento tem base na psicologia, psiquiatria e Doutrina Espírita, (“Distúrbio das Personalidades Múltiplas” ou Distúrbio Dissociativo de Identidade, na descrição da Doutrina Espírita sobre a Obsessão e a Auto-obsessão e também nos estudos sobre Constelação Familiar).
A Captação Psíquica e a Incorporação na mesa mediúnica revelam que o DPM constitui-se numa multiplicidade de elementos autônomos atuando desarmonicamente no campo psíquico dos indivíduos. Tais elementos psíquicos podem ser dissociados da própria pessoa, familiares, terceiros e participação direta ou indireta de espíritos.
Quando a pessoa afetada compreende sua situação, conscientemente deseja o tratamento, e outras pessoas em atitude fraterna desejam auxiliar aqueles que sofrem desse tipo de distúrbio, o mundo interior dessas pessoas ou das pessoas afetadas pode ser acessado e tratado. Desse modo, nosso modelo terapêutico permite encontrar caminhos para a compreensão, acesso, explicação e tratamento para muitos distúrbios e traumas psíquicos de difícil entendimento e de diagnóstico obscuro, tais como medos, pânicos, depressões, esquizofrenias, retardos, autismos, doenças autoimunes, etc.
A existência desses múltiplos elementos psíquicos remontam a muitas culturas sem serem relacionados a distúrbios mentais. Assim, para o paradigma reencarnacionista, a denominação DMP (distúrbio das múltiplas personalidades), como estava no DSM–III, é mais adequada, porque reflete o despertar das nossas personalidades vividas ao longo do processo evolutivo.
O DDI (distúrbio dissociativo da identidade), interpretado como distúrbio mental, tornou-se diagnóstico oficial da Associação Psiquiátrica Americana em 1980 (DSM-IV). A visão não reencarnacionista não pode admitir o conceito de personalidades múltiplas, dado que, dentro do paradigma materialista, a pessoa nasce com uma só personalidade e não viveu outras existências.
O “Eu” Cósmico ou Quântico é único e indivisível, fulcro da consciência espiritual. Porém, esse “Eu” é constituído e orbitado por personalidades psíquicas, pequenos “eus”, fulcros menores, estereótipos de cada personalidade vivida, que se manifestam em expressões diferentes de autorrealização (personalidade, personalidades múltiplas e subpersonalidades).
Quando em desarmonia, precisa tratamento adequado, fazendo com que esses elementos desarmônicos vibrem em consonância com seu centro unificador. Necessário também orientação e conscientização adequada ao atendido, para que mude sua maneira de ser, e aos familiares.
O número de atendimentos e a eficácia do tratamento dependem:
- de cada caso;
- da condição encarnatória e da razão do existir do paciente;
- do amparo espiritual, merecimento, esforço, dedicação e seriedade com que o paciente conduz o tratamento;
- da capacitação, empenho, harmonia, equilíbrio e amor fraterno do grupo atendente;
- do empenho do paciente em fazer sua reforma íntima e seguir as orientações dadas;
- da colaboração do grupo familiar e da necessidade de aprendizado de cada uma das partes interessadas.

Decifrando o Psiquismo

A experiência de trabalho medianímico vivenciada nos últimos 24 anos, em vários grupos apométricos, demonstra de forma cabal a existência e a ação dos elementos psíquicos, denominados “Personalidades Múltiplas” e “Subpersonalidades”. As conclusões, conceitos e informações que reafirmamos vêm de tempos remotos, não é nossa exclusividade, e foram observados ao longo de anos por cientistas de renome e por espíritos conceituados.
Dentro do campo da psicologia eles foram observados por Pierre Janet, William James, Jung e outros. No campo da psiquiatria estudaram o assunto o italiano Roberto Assagioli (Psicossíntese) e inúmeros outros estudiosos, conforme registros da Associação Americana de Psiquiatria. No campo espiritual, temos os estudos de André Luiz, Joanna de Ângelis, Manoel Philomeno de Miranda, Miramez, Charles Lancelin e outros.
O algo “novo” que Dr. Lacerda nos trouxe foi a forma diferente de tratar terapeuticamente esses elementos. Não é novidade o estudo dos corpos sutis.
As personalidades psíquicas foram e continuam sendo estudadas e denominadas de “personalidades múltiplas”, “subpersonalidades”, “eus”, “elementos antagônicos”, “inconsciente coletivo pessoal”, “personalidades parasitas”, “elementos da consciência”, “personas”, “papéis”, “pensamentos”, “máscaras”, “fachadas”, “cisões”, “energias” e “níveis”. As nomenclaturas diferenciadas em nada alteram a essência dos elementos e nem anulam a realidade dos fatos. Evidentemente, não pretendemos ter a posse da verdade, dar respostas definitivas e nem combater “verdades” estabelecidas. A cada dia a ciência prova de forma incontestável a relatividade e a multidimensionalidade das coisas. O resultado da observação e experimentação que fazemos sugere maior estudo sobre a essência, funções, morfologias e propriedades desses elementos psíquicos.
Nossa proposta é trabalhar com determinação, fé e amor, buscando a compreensão dos elementos e tentando aliviar a dor das pessoas tocadas pelo sofrimento, que nos procuram em busca de auxílio. Não pretendemos a unanimidade de conceitos nem de opiniões, uma vez que na unanimidade a evolução pode ser mais lenta. Ao codificar a Doutrina dos Espíritos, Kardec observava com muita propriedade que não fôssemos muito apressados em rejeitar a priori tudo o que não pudéssemos compreender, porque longe estamos ainda de conhecer todas as leis e, sem dúvida, nem a natureza nos revelou ainda todos os segredos. O mundo invisível é um campo de observação ainda novo, cujas profundezas seria presunção nossa considerar explorado, quando incessantemente se estão patenteando a nossos olhos novas maravilhas (A. Kardec, OP, Capítulo 2, Parágrafo VII, Dos Homens Duplos… item 9).
Existem inúmeros estudos sérios sobre esse assunto, dentro e fora da doutrina espírita, que não podem ser ignorados ou negados. O fenômeno das personalidades psíquicas realmente se comprova de fato, tendo em vista os inegáveis resultados benéficos após o tratamento. É comum ao abordarmos psiquicamente a consciência de um indivíduo encontrarmos duas ou mais personalidades psíquicas dissociadas, que se revezam ou alternam durante o transcorrer de um dia, percebidas e interpretadas como estados de humor.
Essas personalidades, por vezes, assumem ou tentam assumir provisoriamente a consciência da pessoa, promovendo comportamentos diversos. A sua permanência é mais demorada no distúrbio chamado “dupla personalidade”, em que a pessoa se modifica de tal modo que parece se transformar em outra.
No livro, “Nos Domínios da Mediunidade”, de André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, o instrutor Áulus esclarece que o fenômeno é comum e acrescenta: “É a influenciação de almas encarnadas entre si que, à vezes, alcança o clima de perigosa obsessão. Milhões de lares podem ser comparados a trincheiras de luta, em que pensamentos guerreiam pensamentos, assumindo as mais diversas formas de angústias e repulsão”.
Indagado se o assunto pode se enquadrar nos domínios da mediunidade, esclarece:
“perfeitamente, cabendo-nos acrescentar ainda que o fenômeno pertence à sintonia. Muitos processos de alienação mental guardam nele as origens. Muitas vezes, dentro do mesmo lar, da mesma família ou da mesma instituição, adversários ferrenhos do passado se reencontram. Chamados pela Esfera Superior ao reajuste, raramente conseguem superar a aversão de que se veem possuídos, uns à frente dos outros e alimentam com paixão, no imo de si mesmos, os raios tóxicos da antipatia que concentrados se transformam em venenos magnéticos, suscetíveis de provocar a enfermidade e a morte. Para isso, não será necessário que a perseguição recíproca se expresse em contendas visíveis. Bastam as vibrações silenciosas de crueldade e despeito, ódio e ciúme, violência e desespero, as quais alimentadas, de parte a parte, constituem corrosivos destruidores.” E isso não acontece só nos lares, ocorre nos grupos espiritualistas e espíritas, bem como entre todos os demais agrupamentos humanos e, principalmente, naqueles que levantam alguma bandeira de luz por lhes faltar a Verdadeira Luz da Fraternidade.

Uma outra visão sobre as Personalidades Psíquicas

Os elementos psíquicos “eus”, que se dissociam criando dificuldades, são projeções do “si mesmo” ou pensamentos que se corporificam, tomam a forma das antigas personalidades vividas alhures. Podem permanecer ativas por tempo indeterminado, dias, meses, anos ou séculos até que compreendam a necessidade de se integrarem definitivamente à individualidade eterna e ao processo evolutivo.
Ramatís, espírito estudioso do assunto, sempre valorizou todos os esforços evolutivos. Sem discriminação nem sectarismos nos convida a perquirir sobre o psiquismo, o agregado humano e o passado, bem como estudar o que foi denominado “perispírito”, aproveitando e extraindo tudo o que puder auxiliar a nossa evolução.
Em “Chama Crística” afirma:
“Não deveis estar presos a conceitos tradicionais, excessivamente lineares. Assim, como as traças roem o fino tecido que é usado em ocasiões festivas, as larvas podem roer o canteiro mental escassamente cultivado. (…) A lição de a mente não estar presa a conceitos empoeirados, principalmente na pesquisa da psique humana e dos fenômenos psíquicos não aceita pelos cientistas, é muito necessária à ciência terrícola, tão deficitária de humildade em seus pesquisadores. A perquirição humilde será a prima essência que moverá a pesquisa comprometida com as verdades ocultas.
Atentem ao fato de que, assim como na época da codificação da Doutrina Espírita, começarão a jorrar, da fonte do Altíssimo, novos ensinamentos e conceitos que se completarão e se confirmarão, em diversas localidades do vosso orbe, comprovadamente verídicos e sem estarem relacionados na sua formulação. Será como um guia epistemológico do Astral, a baixar nas lides científicas terrícolas” (p. 90).
“Vosso corpo, no conceito hermético, é um microcosmo à semelhança do macrocosmo. Encontram-se em constante interação os diversos campos energéticos, que, interiormente, o constituem e, exteriormente, o cercam. Uma vez entendendo a natureza e a estrutura dessas correspondências, que devem estar em harmonia como tudo no cosmo, e não em desordem, podereis restabelecer e manter o equilíbrio” (p. 110).
André Luiz e Joanna de Ângelis pesquisam no astral e confirmam a existência das “múltiplas personalidades”, “subpersonalidades” e suas manifestações perturbadoras. Essas pesquisas corroboram os estudos acima mencionados.
O único ponto que suscita esclarecimento é o fato do fenômeno ainda ser difícil de ser compreendido. Tanto que o físico Jean Guitton asseverou, em seu livro “Deus e a Ciência”, que “a realidade ‘em si’ não existe; que ela depende do modo pelo qual decidimos observá-la; que as entidades elementares que a compõem podem ser uma coisa (uma onda) e ao mesmo tempo outra (uma partícula). E que, de qualquer modo, essa realidade é, num sentido profundo, indeterminada”.
Não só os corpos sutis podem ser estudados por partes, como também o corpo físico. Por essa razão a própria medicina é dividida em especialidades e cada uma cuida de um sistema do corpo: sistema respiratório, sistema nervoso, etc. Sistema também é divisão ou desdobramento.
Se não for verdadeiro que uma pessoa encarnada (hoje) possa ter personalidades desdobradas nas faixas inferiores, embora isso fique evidenciado nos tratamentos e na cura de determinados sintomas, onde esses elementos foram encontrados, resgatados e tratados, precisamos encontrar outra causa e nova explicação plausível para essa melhora e cura. Em termos de evolução, uma pessoa encarnada em pleno século vinte e um, com elementos psíquicos estacionados há dois mil anos no local de sua vivência pretérita, sinaliza acomodação e apego demasiado nas coisas e idéias que lhe interessaram na época por mais equivocadas que sejam. O nosso psiquismo, como as lendas antigas, ricas em simbolismos significativos, deve ser decifrado e utilizado proveitosamente em suas potencialidades ainda desconhecidas.
Discutir qualquer crítica, sendo ainda mais rigoroso, tem o condão de despertar a vontade de estudar e pesquisar, comparar, experimentar e comprovar de forma incontestável a realidade do psiquismo humano.
Determinadas críticas fomentam o interesse pelo assunto, o desejo de rever e melhorar suas fundamentações. E isso será realizado, incansavelmente, até que a gama de fenômenos (espiríticos, anímicos, personímicos) psíquicos se revele totalmente em benefício do ser humano.

Mediunidade e formação dos grupos

Conforme Emmanuel, “a Mediunidade é talento do céu para serviço de renovação do mundo, mas é lâmpada que nos cabe acender…”. Assim sendo, é tarefa pessoal iluminar a mediunidade com a luz do conhecimento e da disciplina. Só assim poderemos formar médiuns competentes e grupos mediúnicos eficientes.
Aqueles que pretendem utilizar as técnicas apométricas e o Desdobramento Múltiplo devem ter uma noção mínima sobre o que é necessário para a realização de um bom trabalho. O estudo da Doutrina Espírita é a base, dado a amplitude, a profundidade das informações e dos conceitos que nos traz. Mas é preciso noções sobre: funcionamento do psiquismo, consciência, mediunidade, obsessão, auto-obsessão, estrutura perispiritual, animismo, cromoterapia mental, hipnose, regressão e progressão de memória, comportamento humano e distúrbios medianímicos, requisitos indispensáveis ao socorro eficiente e ao trabalho proveitoso.
Sem conhecimentos e mediunidade bem orientada não se pode fazer um trabalho apométrico adequado, dado à necessidade dos elementos perturbados ou perturbadores (personalidades múltiplas, subpersonalidades e espíritos), serem encaminhados para tratamento.
O “choque anímico” provocado pela incorporação é fundamental para desagregar energias negativas condensadas na estrutura do psiquismo dos elementos incorporados e também para os retirar do monoideísmo.
Desse modo é fundamental que o interessado em trabalhar com Apometria aprenda, antes das técnicas apométricas, a conhecer e a trabalhar eficientemente com a mediunidade, seja no papel do incorporador ou do esclarecedor/doutrinador. Todo o curso de Apometria deve incluir treinamento prático desde o inicio.
O tratamento adequado e a cura se encontram:
- na compreensão das possibilidades que o ser humano tem, ao seu alcance, de atuar através da vontade consciente e bem direcionada;
- na transformação moral;
- na conversão do instinto primitivo em força produtora de novas energias;
- na consciência de que a doença resulta do choque entre a mente e o comportamento, o psíquico e o físico;
- na compreensão de que o homem é, segundo Albert Eistein, “um conjunto eletrônico regido pela consciência”, ou segundo Joanna de Ângelis, “um agrupamento de energias em diferentes níveis de vibração”;
- na compreensão de que a conduta desregrada, as ocorrências viciosas, os pensamentos violentos e as forças descompensadas do instinto produzem congestão ou inibição de energias, geram correntes continuas de caráter enfermiço e causam depressão, obsessão compulsiva e degeneração de tecidos e órgãos.

Premissas Discutíveis

HÁ ALGO DE ERRADO COM AS BASES BIOLÓGICAS DA PSIQUIATRIA?
Quando Steve Hyman, presidente da NIMH (Instituto Norte-americano de Saúde Mental) foi à comissão de bioética do presidente Bush (Commission on Bioethics) defender o aumento meteórico das vendas de Ritalina e outros calmantes para as crianças, ele não evocou um único estudo que demonstrasse as bases biológicas do quadro designado como Desordem de Déficit de Atenção e Hiperatividade (DDAH), nem tampouco citou um único estudo que mostrasse a reais vantagens do uso de medicamentos como esse (a Ritalina) para as crianças. Ao invés disso ele apenas citou “as taxas de 50 % de concordância de esquizofrenia entre gêmeos idênticos”. Essa assertiva é utilizada para dizer que, como existe uma base biológica para a doença mental, no caso a esquizofrenia, todas as outras doenças também têm base biológica, excelente justificativa para o emprego de agentes químicos que modificam as funções mentais. Mas, evidentemente, é muito estranho que se utilize apenas esse argumento: se houvesse realmente bons indicadores biológicos que pudessem comprovar esse conceito de enfermidade eles necessariamente seriam apontados. Esse tipo de posicionamento faculta qualquer um a se perguntar se essa “pretensa” patologia tem, de fato, bases orgânicas.
A UTILIDADE DOS ESTUDOS COM GÊMEOSHoje em dia, mais do que nunca, os genes são responsabilizados por tudo que tem difícil explicação em medicina, mais ainda em psiquiatria, principalmente quando a simples presunção de “organicidade” justifique terapêuticas medicamentosas. 
Mas têm ecoado no meio científico vários autores que resolveram reexaminar algumas “verdades” das ciências médicas. Principalmente quando essas verdades são obtidas por métodos estatísticos. A revisão nas estatísticas realizada pelo dr. Uffe Ravnskov pôs por terra toda a teoria de que a doença cardíaca seria ligada ao consumo de gordura saturada e as altas taxas de colesterol. Um outro autor, o psicólogo Jay Joseph, escreveu o livro: “The Gene Illusion” (A ilusão genética), onde examina em minúcias a pedra-fundamental da psiquiatria moderna, baseada em medicação: o estudo com gêmeos, que provariam que a esquizofrenia é uma doença genética. Segundo esse autor esses estudos constituem uma falácia! Seria um mito, uma mistura de inúmeros equívocos unidos para provar algo que precisava ser provado, alinhavado pelo uso tendencioso da matemática. Em um artigo da revista “The Human Nature Review”, em 2003, outro autor, Jonathan Leo, faz um exame da obra de J. Joseph, citando os aspectos mais preponderantes, e impressionando o leitor pela marcada fragilidade do conhecimento convencionalmente aceito que daria sustentação à premissa biológica da psiquiatria.
Joseph propôs esse tema: “Estudos com gêmeos em psiquiatria: ciência ou pseudo-ciência?”, na revista Psychiatry Quartery (primavera de 2002). Nesse artigo ele lembra do psiquiatra Abraham Myerson, que escreveu em 1925, sob a égide da influência do eugenismo, que os genes deveriam ser muito importantes, mesmo sem haver como provar sua real existência, pois todos conhecemos talentos hereditários, virtudes hereditárias, vícios hereditários etc. Nada além de preconceito. 
Apesar de haver estudos que parecem, num primeiro olhar, oferecer provas de que há uma questão genética por detrás da esquizofrenia, quando esses dados são submetidos a exames mais qualificados, essas provas são dissolvidas.
Tradicionalmente, se compara a freqüência de gêmeos idênticos com gêmeos fraternos portadores de esquizofrenia. A esmagadora maioria dos livros texto de psiquiatria cita que o fato de haver uma concordância de 50% para gêmeos idênticos contra 15% entre os gêmeos fraternos como a prova irrefutável de que essa doença tem base genética, portanto causa biológica, sendo uma enfermidade similar, por exemplo, à hemofilia. Assim sendo, só mesmo estratégias químicas podem ser de utilidade. Se criou uma premissa em psiquiatria que justificaria tudo o que viria depois: a maciça abordagem medicamentosa sobre as manifestações psicológicas. (Porém muito do que veio ‘depois’ está sendo duramente criticada por inúmeros estudiosos em todo o mundo. (Talvez um pouco menos no Brasil)).
Joseph revisou TODOS os estudos com gêmeos apontados nos artigos e livros de psiquiatria. E no final de sua revisão não conseguiu mais, na melhor das hipóteses, do que eventuais 20% de concordância entre gêmeos idênticos. Ele ainda relata que alguns pesquisadores, de fato, não tinham encontrado taxas elevadas de concordância. Mas outros cientistas preocupados em salvar o mito “ajudavam” tais pesquisas a ficarem com taxas mais “aceitáveis” à regra geral, empregando fatores matemáticos de correção, geralmente injustificáveis. Algumas pesquisas que não se enquadrariam simplesmente seriam omitidas. Um desses estudos, que apresenta uma das maiores amostragens populacionais, não chega a 11% de concordância entre gêmeos idênticos e esquizofrenia.
As pesquisas com gêmeos, idênticos, mas que foram criados separadamente, apresentam grosseiros erros de execução, e não deveriam ser levados em consideração. Um deles parece ser obviamente manipulado.
Leo fala da interessante pesquisa mostrada na revista Science, sobre um alelo de genes ligados ao polimorfismo da 5 HTT (serotonina) presentes em algumas pessoas que poderiam predispor à depressão SE HOUVESSE EXPOSIÇÃO À UMA SÉRIE DE EVENTOS TRAUMATICOS. 86% de pacientes depressivos, submetidos a quatro fatos traumáticos em uma clínica teriam pelo menos uma cópia desse alelo.  Porém 72% de pessoas que também tinham esse alelo, e que teriam sido submetidos a eventos traumáticos não teriam ficado deprimidos. Não parece que isso – possuir essa marca genética – torne mais fácil descobrir quem tem maior ou menor tendência de ficar depressivo.
A DOENÇA MENTAL E O MEIO AMBIENTEOutra grande discussão de ambos os autores é sobre os efeitos do meio ambiente na saúde mental. Mesmo uma doença como a esclerose múltipla, que deve, efetivamente, possuir predicados genéticos, parece precisar de um ou vários estímulos (desconhecidos) ambientais para iniciar sua manifestação.
Embora a questão ambiental sempre seja apontada, efetivamente, têm sido promovidas poucas mudanças que realmente possam gerar benefícios para a saúde mental, principalmente para as crianças que levam o rótulo de hiperativas, visto que mesmo os autores, que são defensores da premissa biológica, costumam dizer que o aspecto ambiental é muito importante.
 
NÚMERO CRESCENTE
O número de doenças mentais tem se ampliado nos manuais de diagnóstico psiquiátrico mais do que qualquer outro grupo de doenças conhecidas. O primeiro guia de diagnóstico de doença mental (DSM I), de 1952, tinha 60 enfermidades. Passou por quatro revisões, até chegar ao DSM IV, com mais do que o quádruplo do número original. Praticamente qualquer comportamento humano se encontra nesse manual. Dessa forma é difícil não encontrar alguém com alguma enfermidade mental.
Isso pode ter relação com a origem eugênica da psiquiatria americana. Nos anos cinqüenta houve um grande encontro de interesses entre a Sociedade Eugênica Americana, (mais tarde Sociedade de Estudo de Biologia Social), e a Associação Americana de Psiquiatria. A catalogação de comportamento humano poderia ser um indicador bastante forte que daria o adequado suporte para a noção de que haveria indivíduos que melhor representariam a sociedade americana do que outros. Uma das formas pensadas em melhorar a população seria, por exemplo, castrando indivíduos esquizofrênicos ou que parecessem ser. Não é a toa que em pleno século XX, tratamentos psiquiátricos radicais nunca foram proibidos. A terapia com eletrochoque é um exemplo. Outro exemplo foi a do médico que fazia lobotomias de forma itinerante, pelo interior dos Estados Unidos, com um método bem barato: perfurar o crânio do “felizardo” paciente com um quebrador  de gelo, introduzido acima do canal lacrimal, com o auxilio, naturalmente de um… martelo! Nada como zelar pela boa conduta das pessoas, fossem elas adultos dementes ou crianças teimosas…
O Prozac, nome comercial da fluoxetina, segundo os relatos desse autor, não poderia ter sido liberado pelo FDA (órgão de fiscalização americano), pois os melhores resultados preliminares teriam sido alcançados quando a fluoxetina foi utilizada com um sedativo adicional. Além do mais os estudos foram feitos com amostras  insuficientes de pacientes. De qualquer maneira o Prozac parece estar envolvido com um número muito significativo de problemas, desde a superestimulação, (excitação, ansiedade, insônia) e uma piora posterior do quadro depressivo.
Os problemas mais complicados passam pela questão dos distúrbios motores, que podem ir  da acatisia (inquietude motora), sintoma psiquiátrico já bem conhecido em pacientes medicados com anti-psicóticos até um problema insolúvel como a DISTONIA E A DISCINECIA TARDIA. Esses efeitos co-laterais não são situações transitórias, mas sim cicatrizes neuro-funcionais, intratáveis. Esse problema é bem conhecido com o emprego dos remédios usados por esquizofrênicos, sendo que geralmente aparecem com vários anos de uso (usuários de haloperidol ou clorpromazina, por exemplo). Infelizmente somente agora estamos encontrando pacientes com um número de anos suficientemente longo de uso de fluoxetina, para encontrarmos esse irremediável problema.
 
O DESEQUILIBRIO QUÍMICO DO CÉREBROGary Null também fala em seu artigo da questão biológica. Habitualmente os pacientes são advertidos (ou ameaçados?) sobre o desequilíbrio químico do cérebro para cederem ao uso de algum medicamento que ajude a sua mente e as suas emoções a funcionarem melhor.
O conceito de desequilíbrio químico foi primeiramente exposto ao público em 1963, na revista Life. Esse conceito foi desenvolvido a partir dos estudos que foram realizados sobre os efeitos das drogas psicotrópicas, como o LSD, em diversos tipos de usuários. O raciocínio era simples: se uma droga induzia uma série de alterações psicológicas num individuo normal, provavelmente, desequilíbrios internos no cérebro deveriam explicar os problemas emocionais e de conduta nas pessoas em geral. Buscar esse equilíbrio químico deveria ser a ambição de terapêuticas eficazes. Isso propiciou a medicalização de qualquer comportamento humano, tido como inadequado, nas próximas décadas. 
Segundo alguns escritores, esse procedimento foi a base para o uso da ritalina em “crianças problema”. O fato dessa anfetamina parecer ajudar alguns alunos a serem mais maleáveis em ambiente escolar firmou o diagnostico de DDAH. Como existe algo químico que auxilia, então realmente existe uma enfermidade. Isso colocou em segundo plano todos os demais aspectos do eventual problema. É curioso se observar que as crianças com desatenção e/ou hiperatividade não parecem ter qualquer dificuldade em aprender a jogar vídeo game ou ficar horas no computador. Nem mesmo de realizar qualquer atividade que realmente lhes interesse. Também é interessante observar que dificilmente os ambientes sócio-familiares dessas mesmas crianças não sejam fartamente carregados de aspectos psicológicos pouco confortáveis. Quando, antigamente, as crianças passavam um turno na escola e o outro turno todo na rua brincando com outras crianças, fazendo as maiores “artes”, poucos pais e professores se queixavam de crianças com tal tipo de problema. O mundo moderno é um modelo de evolução: as crianças de hoje tomam calmantes. Obviamente porque os modelos de felicidade dos adultos atuais deve ser um “virtuoso” estímulo para as crianças chegarem à maturidade.
O dr Breggin argumenta que se a pessoa não tinha nenhum desequilíbrio químico, com o uso da fluoxetina ela certamente vai ficar. Ele entende que a medicação provoca uma super-estimulacao nos receptores de serotonina no cérebro. Mas o fato é que a situação anterior ao uso do medicamento já seria uma tentativa de busca de um estado de equilíbrio. Dessa forma o organismo, na tentativa de retornar ao estágio pregresso, simplesmente desativa ou elimina alguns receptores dos neurônios. O laboratório Lilly, que lançou esse medicamento, não apresentou estudos a respeito da reversibilidade desse reconhecido problema. O fato do uso contínuo gerar uma lesão tipicamente cicatricial como a discinesia tardia, obviamente nos faz crer que essa perda de receptores é irreversível.
Esse autor relata que enfrentou o laboratório sob juramento, e não houve qualquer refutação aos relatos que demonstrou em seu livro.
Sabe-se que muitas vezes o uso de medicamentos pode ser bastante útil para o alívio imediato de sintomas psíquicos muito desagradáveis. Mas não podemos esquecer que geralmente o remédio não significa a cura de qualquer problema emocional que eventualmente possamos estar enfrentando. Ordinariamente todas as pessoas passam por situações realmente ásperas em suas vidas, e muitas vezes a solução definitiva de certas questões pode ir contra o próprio conjunto de crenças e aspirações desse indivíduo. A maioria das pessoas que passam por “enfermidades mentais”  sofre esse processo como fruto de crises pessoais relativamente desafiadoras. Se as premissas de conduta familiar e social forem uma base limitadora na expressão de suas versatilidades adaptativas, esse indivíduo pode efetivamente ter muita dificuldade de superar certas situações de sofrimento. 
 
AS VIRTUDES DOS REMÉDIOSOs remédios podem reduzir a ansiedade, auxiliar o sono, melhorar a performance cognitiva, mas são apenas ferramentas que qualificam os potenciais de um indivíduo para redefinir suas decisões, de remontar seu caminho, e de elaborar novas escolhas. O cenário futuro é fruto do encontro com as recompensas ambientais objetivas e, geralmente, subjetivas oferecidas pelo meio em que vive, ou daquele que escolherá viver. Mas ainda, na pior das hipóteses, será fruto da eventual falta dessas mesmas recompensas do ambiente de onde não conseguirá escapar. Nesse caso o mundo moderno irá oferecer seus fármacos, cada vez mais modernos, como uma solução de vanguarda… E um diagnóstico psiquiátrico, um suave e científico colchão que poderá justificar seu medo e sua incapacidade de mudar!
Alias, sobre essa noção de progresso vivemos um estranho paradoxo. Quando mais o mundo evolui mais gente precisa de remédio e tratamento psiquiátrico. Nos EUA os gastos com tratamentos psiquiátricos subiram de 3,2 bilhões em 1969 para 33,1 bilhões em 1994. Um aumento de 934%, muito superior ao crescimento populacional. Mas em 1999 já eram de 80 bilhões de dólares! Sem sermos irônicos, com certeza, felizes devem estar os fabricantes de medicamentos.
Será que a evolução da humanidade, se é que ela realmente acontece, não deveria gerar um mundo com um número progressivamente menor de problemas mentais? Será que o progresso não deveria premiar os indivíduos com melhor saúde e menos uso de remédios? Ou será que o panorama paradisíaco, que foi desenhado para o nosso futuro, seria uma fantasia provocada pelo uso de euforizantes e calmantes, que tornarão todos nós anestesiados o suficiente para não desfazer o mito de que o mundo moderno é, graças à tecnologia, um mundo melhor?
 
José Carlos Brasil Peixoto – 210207OBS.: Sobre a lobotomia como um furador de gelo: O médico entusiasta da lobotomia itinerante era Walter Freeman, veja o resumo desse tema emhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Lobotomia.

Baseado nos artigos:
1)      The Hidden Side of Psychiatry – Gary Null, Ph. D.; (baixe o arquivo em pdf aqui! em inglês)
2)      Twin Studies in Psychiatry and psychology: Science or pseudoscience? Jay Joseph, Psy. D – in Psychiatry Quartery, Vol 73, No. 1 Spring 2002; (baixe o arquivo em pdf aqui! em inglês)
3)      The fallacy of the 50% Concordance Rate for Schizophrenia in identical Twins – Jonathan Leo – in The Human Nature rewiew 3 (2003) 406-415; (baixe o arquivo em pdf aqui! – obs.: em inglês)
Livro: The Gene Illusion – Jay Joseph, 2003, PCCS Books, Ross-on-Wye.
Livro: Talking Back To Prozac: What Doctors Aren’t Telling You About Today’s Most Controversial Drug – de Peter R. Breggin – disponível em www.amazon.com

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